A lenda de Roger Federer em Wimbledon conheceu hoje o seu o seu episódio mais emblemático, com o tenista suíço a derrotar um lesionado Marin Cilic para se converter no recordista absoluto de títulos no All England Club.

Absolutamente imperial, o renascido suíço impôs-se ao croata, sexto tenista mundial, por 6-3, 6-1 e 6-4, para voltar a erguer um troféu que lhe fugia há cinco anos.

O oitavo título de Federer em Wimbledon não é apenas um máximo ‘per si’, já que acarreta uma série de outros recordes: o de títulos (19) e de encontros ganhados (321) em ‘Grand Slam’ (19), o de tenista mais velho de sempre a vencer (com 35 anos e 342 dias) no All England Club e o do número de encontros vencidos na relva londrina (91).

A segunda juventude do suíço, que ao apurar-se para a sua 29.ª final de um ‘major’, também um recorde, já se tinha convertido no primeiro homem a disputar 11 vezes o último encontro de um mesmo ‘Grand Slam’, parece estar para durar.

“Tenho de parar mais vezes. Vou desaparecer durante mais seis meses [ri-se], só não sei se vai funcionar. Ganhar hoje só foi possível por estar saudável. Estar de volta aqui, sentir-me fabuloso, segurar no troféu, depois de não ter cedido um ‘set’, é mágico. Ainda não consigo acreditar”, reconheceu o futuro número três mundial, que no final do ano passado tirou um período sabático de seis meses.

Ainda incrédulo com o oitavo título no seu ‘Grand Slam’ preferido, conquistado sem ceder um ‘set’, o suíço confessou que, depois de ter perdido as finais de 2014 e 2015 com Novak Djokovic, não acreditou que pudesse vencer outra vez.

“É um sonho jogar aqui. Espero regressar no próximo ano e defender o título”, sublinhou, depois de consumado mais um capítulo lendário na sua carreira.

Hoje, como em 2009, Federer podia fazer história no ‘court’ central do All England Club. Oito anos depois de tornar-se no recordista de títulos do ‘Grand Slam’ na relva londrina, o suíço preparava-se para desempatar com o norte-americano Pete Sampras e o britânico William Renshaw e converter-se no mais vitorioso de sempre em Wimbledon.

Talvez por isso, ou pela recordação das grandes batalhas que travou com Cilic, o número cinco mundial entrou tenso e chegou mesmo a enfrentar um ‘break-point’ no quarto jogo. Mas a superioridade do antigo número um mundial, imperial no seu percurso no torneio britânico, veio ao de cima, no jogo seguinte.

O suíço quebrou o serviço do croata uma primeira vez e soltou-se, beneficiando ainda da ajuda do seu adversário, que entregou o primeiro ‘set’ com uma dupla falta.

Novamente quebrado no segundo jogo do segundo parcial, Cilic rapidamente ficou a perder por 3-0. Na mudança de lado, sentado no seu banco, desfez-se em lágrimas, causando apreensão entre aqueles que se encontravam nas bancadas do ‘court central’ de Wimbledon.

Consolado pelo juiz árbitro, o sexto jogador mundial, que recusou assistência médica naquele momento, regressou à relva para interromper a série de quatro jogos consecutivos de Federer.

Mas já não havia nada a fazer: o ascendente do helvético era uma realidade incontornável, como o era o desconforto físico do campeão do Open dos Estados Unidos de 2014. Se num primeiro momento, pareciam ser as costas a origem do problema, foi no pé que Cilic recebeu assistência.

Num ápice, Federer conquistou o segundo parcial por 6-1 e adiantou-se no sétimo jogo do derradeiro ‘set’. Com um ‘break’ à melhor, que segurou com aprumo, o campeoníssimo, que celebra 36.º aniversário a 08 de agosto, embalou para o oitavo título, conquistado em uma hora e 42 minutos.

Aquele que é considerado um dos melhores tenistas de sempre, senão o melhor, não conteve as lágrimas e, perante o olhar mais ou menos atento dos quatro filhos, ergueu o troféu que é o maior sinónimo da sua glória na modalidade.

Campeão dentro e fora dos ‘courts’, Federer teve palavras bonitas para Cilic, desejando encontrar o seu rival de hoje numa melhor ocasião. “É cruel, ele lutou bem, é um herói. Parabéns por um torneio maravilhoso, devias estar muito orgulhoso”, disse.

Já o croata, que pode alegrar-se com o facto de ter sido apenas o segundo tenista do seu país, depois de Goran Ivanisevic em 2001, a disputar a final, confessou que deseja poder voltar ao último encontro de Wimbledon.

“Nunca desisti durante a minha carreira e foi isso que fiz hoje. Dei o meu melhor e era o máximo que conseguia fazer. Tive uma jornada incrível aqui, joguei o melhor ténis da minha vida. Quero agradecer à minha equipa [para para chorar]... e a todos os meus fãs na Croácia. Hoje, foi muito difícil”, assumiu.