No ano em que passou a ser capitão de equipa do Benfica, com a saída de Arnaldo Pereira a meio da temporada, Gonçalo Alves faz um balanço do ano dos encarnados e aborda ainda as polémicas em que o seu nome esteve envolvido nesta final do playoff com o Sporting.

A que é que sabe este título?

GA: Foi um título muito sofrido. Foi o nono campeonato nacional e não é por ser o último, mas pela época que tivemos, pela pressão que houve, por coisas extra que aconteceram nesta final principalmente, que não é um hábito no futsal, acabou por ser o título mais sofrido e mais saboroso que já conquistei. Estou muito feliz. Merecemos. Tivemos uma fase regular sem qualquer derrota. Sabemos que com este sistema de playoff não é premiado quem é mais regular, mas quem se apresenta melhor nesta altura. Fomos felizes também, a sorte esteve do nosso lado. Se o Sporting tivesse ganho não era totalmente injusto. Mas pelo que fizemos na fase regular merecemos.

Como foi capitanear esta equipa?

GA: Foi um ano difícil como já tinha dito. Começámos com o Arnaldo como capitão e apanhei a equipa a meio. Já tinha muitas responsabilidades nesta equipa, mas foi um prazer. É uma equipa recheada de grandes jogadores individualmente. Por vezes torna-se mais complicado gerir tudo isto porque todos querem jogar, mas conseguimos levar isto a bom porto felizmente.

O Gonçalo foi um dos jogadores visados nas polémicas que ocorreram nesta final do playoff. Como é que ultrapassou tudo isso atendendo à pressão que marcam estes jogos ?

GA: Eu felizmente sou uma pessoa que se entrega à família e aos amigos. Tenho muita confiança em mim. Tudo o que seja adverso, só me dá mais força. Deu-me muita força tudo o que foi dito. Em algumas situações de jogo estava desgastado e fazia uso dessas memórias, dos insultos de que fui alvo. Lidei bem com isso. Não quero alimentar mais polémicas. Se o Sporting tivesse ganho, eles estavam a rir-se porque achavam que tinha dado certo a estratégia que eles haviam utilizado. Agora é o Benfica que se está a rir, pois a estratégia extra-futsal do Sporting não deu certo. É o caminho errado. São jogos muito competitivos em que não há santos. Nunca vi nenhum santo no futsal.

Como é que viu todo o ambiente que se viveu no Pavilhão da Luz neste jogo decisivo do playoff?

GA: Não tenho palavras para este público. A prioridade deles é incentivar a equipa, e não ir na base do insulto, o que para nós é muito bom. Se tiverem a insultar um jogador do Sporting, isso não é sinónimo de apoio. É nas alturas em que estamos mais cansados que os adeptos aparecem. Lembro-me que quando sofremos o primeiro golo neste jogo, a nossa claque estava a cantar e assim continuou. Isso mostra o espírito da massa associativa do Benfica. Dedicamos o título a todos eles, não só os que tiveram no Pavilhão mas aqueles que viram o jogo de fora.

Após a derrota em Loures no terceiro jogo, a equipa do Benfica reuniu-se no hotel para jantar e Paulo Fernandes trouxe um papel com as palavras “SEM MEDO”, papel esse que foi assinado por todos os jogadores. Que importância teve esse gesto num momento adverso da equipa?

GA: Esta época estava a ser muito positiva. Já tínhamos ganho a Supertaça e a Taça de Portugal, mas queríamos muito ganhar este título. Admito que o facto de estarmos dois anos sem ganhar o título estava a pesar psicologicamente na nossa equipa. Havia jogadores que não estavam a conseguir mostrar o que realmente valem. O que o treinador quis dizer com aquele gesto é que tínhamos de jogar sem medo, não podíamos recear errar. Quem joga só para o lado não ganha. Este domingo no Pavilhão da Luz fizemos um belíssimo jogo e soubemos sofrer. A verdade é que os campeões fazem-se de sofrimento.