André Thomashausen, professor de Direito Internacional Comparado na Universidade da África do Sul (UNISA), declarou à agência Lusa que “o assassínio brutal e extremamente violento de Eugene Terreblanche se insere num quadro de homicídios igualmente brutais e sistemáticos de brancos de origem Afrikaner proprietários de fazendas, com um saldo de cerca de 4 mil vítimas desde 1994”.

“Nesse sentido, e uma vez que o ANC tem permitido que o seu líder da Juventude, Julius Malema, ande a gritar slogans exortando à morte dos brancos, sem o criticar nem o calar, este incidente pode mobilizar as franjas de brancos empobrecidos pela política de acção afirmativa do Governo, e que se sentem marginalizados e sob ameaça física, a recorrer a acções que chamem a atenção do mundo durante o Mundial”, acrescentou aquele académico.

O Campeonato Mundial de Futebol 2010 disputa-se de 11 de Junho a 11 de Julho na África do Sul, com Portugal a disputar o Grupo G, juntamente com o Brasil, a Costa do Marfim e a Coreia do Norte.

Tal ameaça, referiu Thomashausen, seria totalmente imprevisível, “uma vez que não viria dos suspeitos habituais neste tipo de eventos, como a esquerda radical ou os fundamentalistas islâmicos”.

Apesar de o Presidente Jacob Zuma ter apelado à paz e ter enviado para Ventersdorp (local do crime ocorrido sábado) o seu ministro da Polícia e o comissário nacional dos Serviços de Polícia, o académico e analista político acusou o Chefe do Estado sul-africano de ter responsabilidades na actual polarização da cena política e racial no país.

Para André Thomashausen, Zuma é um líder fraco, que representa apenas uma facção dentro do ANC e que não tem tido a coragem nem a força política para calar os que andam a polarizar a situação há vários meses.

“Zuma não só não proibiu Malema (o líder da Juventude do ANC) de cantar slogans como Morte ao Boer, como ainda o tentou desculpar, afirmando que até Nelson Mandela quando era mais jovem entoou slogans radicais. Tem sido com o dinheiro e a bênção do partido no poder que Malema tem viajado, ainda a semana passada ao Zimbabué, afirmando que aquele país é um modelo para as nacionalizações necessárias na África do Sul”, insistiu Thomashausen.

Para o analista, as condições socioeconómicas criadas pelo actual quadro político e a linguagem cada vez mais radical de responsáveis do Congresso Nacional Africano (ANC), com apelos à nacionalização das terras dos brancos e das minas, “auguram tempos difíceis para a África do Sul”.

“Esperemos que os sectores mais moderados do ANC, como os sociais-democratas, e homens como o actual ministro das Finanças, Pravin Gordhan, ponham cobro a esta radicalização que está a assustar muitos sectores e alarmar os brancos e, até mesmo, os indianos e mestiços. Quando líderes afirmam que o Zimbabué é o modelo e a solução para os problemas da África do Sul equivale a criar o potencial para encaminhar o país para o abismo”, concluiu o professor Thomashausen.

O líder da extrema-direita sul-africano, um firme partidário do 'apartheid', foi morto no sábado na sua exploração agrícola por dois trabalhadores, na sequência de uma aparente discussão sobre salários, segundo a Polícia.