Quase 50 milhões de sul-africanos recebem a maior competição futebolística, apenas 16 anos depois de ter sido eleito um governo através de eleições livres e universais e exibe orgulhosamente a transição do apartheid para o multi-culturalismo.

O Mundial da nova África do Sul é antes de tudo o Mundial de Nelson Mandela, o homem que completa 92 anos menos de uma semana depois da final da competição e que viu as edições do Chile (1962), Inglaterra (1966), México (1970), Alemanha (1974), Argentina (1978), Espanha (1982) e novamente México (1986) preso por ser activista contra o apartheid.

Cinco meses depois de ser libertado, em Fevereiro de 1990, Lothar Mathaus erguia a Taça da terceira vitória da Alemanha, numa final ganha à Argentina de Maradona, no Mundial 90, em Itália.

O Mundo não o sabia, mas estavam a dar-se os primeiros passos para África poder receber um mundial. Quatro anos depois, enquanto Romário e Bebeto marcavam os golos que haviam de fazer do Brasil tetracampeão, nos Estados Unidos, em 1994, Mandela era eleito presidente da África do Sul e lançava o mais bem sucedido programa de reconciliação nacional na história contemporânea.

Hoje, 16 anos passados, África do Sul continua a ter problemas, como a criminalidade, como o desemprego, como o desequilíbrio entre a maioria da maioria negra e a minoria branca, mas teve a capacidade para investir mais de dois mil milhões de euros na organização do evento com mais impacto planetário.

Mais de metade dessa verba serviu para construir ou recuperar estádios (1,23 mil milhões de euros), enquanto 963 milhões foram gastos em transportes.

Para atenuar os enormes problemas de insegurança, o estado investiu 68,5 milhões de euros na formação de 31 mil novos polícias e as autoridades sul-africanas juram estar tudo pronto para o pontapé de saída, quando na sexta-feira a África do Sul e o México derem início ao Mundial arco-íris.

A mais elitista de todas as competições de futebol – as sete últimas finais foram disputadas por apenas cinco selecções, Itália (3), Alemanha (4), Argentina (2), Brasil (3) e França (2) –, não costuma ser muito simpática para os outsiders, mas desta vez selecções como a Espanha do belo jogo e a Inglaterra do rigor de Capello, chegam ao Mundial a ombrear com o favoritismos dos eternos Brasil e Argentina, sendo certo que a Alemanha, tenha ou não boa equipa, vai sempre longe.

Para Portugal, este é o Mundial de Cristiano Ronaldo, o madeirense que discute com o argentino Messi o título de melhor do Mundo e que, nas palavras do próprio, “procura a eternidade” na África do Sul.

Portugal, apesar do terceiro lugar do “ranking” da FIFA, não é favorito, mas lidera o enorme pelotão do segundo grupo, especialmente se souber resolver os problemas defensivos e resolver a ausência de última hora de Nani, um dos jogadores em melhor forma neste final de época.

Numa competição que estreia uma polémica nova bola não se esperam grandes novidades tácticas, há um português que não vai estar na África do Sul mas que recentemente deu um enorme empurrão a todas as selecções com menos “pedigree”. Chama-se José Mourinho e a forma como ganhou a Liga dos Campeões, vai, quase com toda a certeza, ser a grande referência estratégica do Mundial da África do Sul.