“A Coreia (do Norte) deste ano não tem nada a ver com a do meu tempo. Mesmo tecnicamente, os jogadores não são superiores, mas têm um predicado semelhante, que é a velocidade, que chateia, compromete e não deixa organizar”, disse o antigo jogador e ex-seleccionador luso.

Antevendo o segundo jogo da selecção portuguesa no Grupo G do Mundial2010, frente aos coreanos, admite que estes “predicados” podem dificultar a tarefa lusa, apesar de “não ser nada comparável” ao Mundial1966.

“Não me apercebi de qualquer sistema, como tinha em 66. Na altura, a Coreia do Norte tinha estado fora do país durante dois anos e tinha integrado o campeonato da Alemanha de leste, dados os acordos entre os regimes políticos, para poderem estruturar uma equipa para marcar uma posição. O que é certo é que conseguiram, quando eliminaram a Itália”, explicou.

Segundo José Augusto, os coreanos “tinham a certeza absoluta que nos iam eliminar”.

Acabaram por não eliminar, mas chegaram a assustar, conseguindo uma vantagem de três golos, graças a uma “velocidade impressionante nas desmarcações”, ao “organizador de jogo e capitão” e às “jogadas estudadas e mecanizadas”.

A reviravolta protagonizada por Eusébio, que assinou quatro golos, e o próprio José Augusto, que selou o triunfo com um golo de cabeça após assistência do “pantera negra”, desolou os coreanos: “No final da partida toda a gente chorava. Treinadores, jogadores, todos choravam desoladamente”.

“Tivemos um super Eusébio numa super equipa, porque ele não jogava sozinho. Ele beneficiou muito, mas Portugal tinha o bloco defensivo do Sporting, o meio campo e o ataque do Benfica, com a particularidade de jogarmos todos cá e há uma série de anos juntos”, recordou, assinalando que a actual dispersão “é uma dificuldade”.

“Têm um super Cristiano Ronaldo, mas depois a equipa não tem a habituação que nós tínhamos. Essas são as diferenças do futebol de hoje e o do meu tempo”, assinalou José Augusto, lamentando a “falta de colectivo e de tempo para se colectivizar”.

Olhando para a selecção lusa, o “magriço” identifica a organização do jogo ofensivo como uma das lacunas: “Precisávamos do Deco de há quatro anos. Ele não deixou de saber jogar, mas já não tem o fulgor que tinha”.

“O resultado que tivemos com a Costa do Marfim não é mau, mas é frustrante porque somos superiores. Só não fomos por falta da criação de colectivismo, que poderia ter resolvido a situação, sem estar à espera de uma jogada individual ou de um pontapé a 30 metros do Ronaldo que possa dar em golo. Há muito mais em matéria futebolística, em termos de equipa é preciso muito mais”, frisou.

Mesmo assim, José Augusto não duvida de que “a qualificação de Portugal não está em risco”.

Portugal defronta hoje a Coreia do Norte, às 12:30, na segunda jornada do Grupo G do Mundial2010, na Cidade do Cabo.