Com um saldo total de uma vitória, dois empates e uma derrota, Portugal caiu nos oitavos-de-final frente à Espanha. A viagem dos “Navegadores” em terras africanas começou sem vento com o nulo frente à Costa do Marfim, seguindo-se depois um vendaval de golos frente à Coreia do Norte para terminar a fase de grupos com um empate frente ao Brasil a zeros. Nos oitavos de final e perante os corsários espanhóis, a nau comandada por Carlos Queiroz naufragou num rochedo chamado Villa. Na quinta participação de Portugal num Mundial, a selecção nacional ficou-se pelos oitavos-de-final numa campanha marcada por vários motins a bordo.

Estágio na Covilhã

Tudo parecia ir dar certo quando a selecção das quinas se concentrou na Covilhã. Desde os discursos optimistas à nova alcunha “Viriatos”, o ambiente em torno do grupo escolhido por Carlos Queiroz era saudável e recomendava-se.
Milhares de pessoas acolheram a selecção portuguesa na cidade da Covilhã onde o apoio não faltou aos “Viriatos”. O grupo de Carlos Queiroz esteve três semanas a preparar-se para o Mundial 2010 e, desde treinos à porta aberta a iniciativas da Câmara Municipal da Covilhã, tudo foi feito para aproximar os adeptos portugueses da sua selecção, numa relação oscilante entre a euforia e a contestação.

Chegada à África do Sul

A chegada da selecção portuguesa a Magaliesburg foi digna de campeões. A falta de apoio não terá sido, de certeza, razão para Carlos Queiroz se queixar neste Mundial 2010. Até os jornalistas brasileiros, que estavam a cobrir a estadia de Portugal na África do Sul, se mostraram impressionados com a recepção calorosa e entusiástica dos portugueses mas também de sul-africanos que fizeram questão de apoiar a selecção portuguesa.
A recepção não podia ter sido mais acolhedora e entusiástica, com aplausos acompanhados das sonoras vuvuzelas. Todos equipados a rigor, desde chapéus a camisolas, os portugueses residentes na África do Sul tornaram a chegada da selecção numa festa.

Estágio em Magaliesburgo

Primeira baixa na selecção. Nani lesionou-se num treino e foi obrigado a regressar a Portugal. Ruben Amorim é chamado à selecção nacional. À chegada a Portugal, Nani faz declarações polémicas insinuando que a sua lesão não era tão grave como o departamento clínico diagnosticou, ao afirmar que numa semana estaria recuperado. A selecção portuguesa muda o seu nome de “Viriatos” para “Navegadores”.

Estreia de Portugal frente à Costa do Marfim

O empate 0-0 no arranque do Mundial 2010 perspectivava um apuramento difícil para os oitavos de final. Ronaldo esteve perto de marcar o primeiro golo frente à selecção africana mas a bola não entrou na baliza por pouco. Tirando o remate de Ronaldo, a exibição de Portugal frente à Costa do Marfim contribuiu para que as vozes críticas se levantassem e fossem direccionadas para o seleccionador Carlos Queiroz.

Com as duas equipas com medo de perder o primeiro jogo da competição, o empate a zero acabou por ser um resultado natural. Os primeiros indícios de que algo não estava bem no seio da selecção foram confirmados por Deco na zona mista, onde o luso-brasileiro criticou a decisão de Queiroz em colocá-lo no vértice direito da equipa portuguesa. Mais tarde, Deco pediria desculpas pelas suas declarações afirmando que nunca quis colocar o seleccionador em causa. O assunto foi ultrapassado mas a verdade é que esse seria o último jogo de Deco no Mundial 2010.

Da fome à fartura

Maior goleada de sempre da selecção nacional em fases finais de um Mundial. No segundo jogo da fase de grupos, Portugal ia defrontar a equipa mais frágil do Grupo G. A Coreia do Norte acreditava que podia fazer um resultado positivo frente a Portugal, depois de dificultar a vida ao Brasil, mas acabou por ser goleada sem piedade por uns esclarecedores 7-0.

Depois das criticas de falta de eficácia da selecção portuguesa, os golos apareceram, e de que maneira, frente à Coreia do Norte. Portugal venceu a Coreia do Norte por 7-0 qualificando-se praticamente para a fase seguinte, colocando o país em euforia. No final da partida, Ronaldo deu o seu troféu de melhor jogador em campo a Tiago demonstrando que o ambiente no seio da selecção era saudável. O jogo frente à Coreia do Norte ficou também marcado pelo regresso aos golos de Cristiano Ronaldo após longo jejum ao serviço da selecção nacional.

Amigo “não” empata amigo

Portugal e Brasil defrontaram-se em Durban no último jogo da fase de grupos.

Com o apuramento para os oitavos-de-final praticamente consumado para os dois lados  – para o Brasil o jogo servia apenas para saber se passava em primeiro ou em segundo lugar do grupo – as duas equipas entraram em campo apostadas em não desperdiçar energias para a próxima fase. Carlos Queiroz e Dunga fizeram algumas alterações nas constituições das equipas e o jogo acabou por ficar sem golos. Portugal carimbou a passagem à próxima fase do Mundial 2010 onde iria defrontar a Espanha, líder do Grupo H e campeã europeia em título.

Naufrágio na Cidade do Cabo. "Adamastor" Villa afunda nau dos portugueses.

Um golo de David Villa, aos 62 minutos, consumou o naufrágio de Portugal neste Campeonato do Mundo. A selecção até deu boa réplica aos campeões da Europa, mas o golo espanhol desarmou a estratégia lusa. Portugal despediu-se do Mundial 2010 nos oitavos-de-final, recuando assim face ao 4º lugar alcançado no Alemanha’2006. Um golo solitário do mortífero David Villa foi o suficiente para Espanha vencer o primeiro duelo ibérico em jogos a contar para Mundiais. A selecção espanhola entrou melhor na partida e muito cedo podia ter chegado ao golo, não fosse a boa exibição de Eduardo - o melhor português da noite e um dos que mais brilhou nesta prova -, que salvou três golos nos primeiros 10 minutos. Todos os olhos espanhóis estavam postos em Ronaldo, mas o português passou ao lado do jogo e saiu do Mundial sem glória. Desta feita, as lágrimas da eliminação foram de Eduardo, que não merecia tal desfecho.

No final do encontro uma nova polémica veio assombrar a selecção portuguesa. Cristiano Ronaldo, capitão da selecção portuguesa, reagiu mal ao desfecho da partida e quando questionado a quem se deveria atribuir as culpas pela derrota, o avançado português respondeu “Perguntem ao Carlos Queiroz”.

Portugal parte com pouca glória

Na saída de Magaliesburg, depois de perder com a Espanha por 1-0, os navegadores tinham à sua espera cerca de meia centena de pessoas, entre portugueses, locais e elementos das lojas e hotéis que, durante este período, viram aumentar substancialmente o seu negócio com a presença das centenas de jornalistas e adeptos que acompanharam a campanha da selecção no Mundial 2010.

Longe da glória da chegada, a 6 de Junho, houve mesmo quem questionasse a fraca presença de adeptos nesta hora. "Devia estar mais gente, há alguns que estão a trabalhar, mas sei de muitos que não vieram porque não querem", disse ao Sapo Desporto uma das adeptas visivelmente emocionada com a partida de Portugal.

À chegada a Lisboa, Carlos Queiroz voltou a afastar o cenário de demissão e afirmou que as “respostas serão dadas em Setembro”, altura em que começa a fase de apuramento para o Europeu de 2012.

Prémios e polémica pós Mundial

Após a final do Mundial 2010, em que a Espanha venceu a Holanda por 1-0, um diário desportivo avançou que a participação portuguesa na África do Sul teria dado prejuízo à Federação Portuguesa de Futebol. Em causa estariam os prémios atribuídos ao seleccionador e equipa técnica, assim como as elevadas quantias gastas pela FPF nos meses precedentes da competição.

A FPF desmentiu, através de um comunicado, que a participação de Portugal no Mundial 2010 tenha dado prejuízos, mas não desmentiu os elevados prémios à equipa técnica, avaliados em 3 milhões de euros. Carlos Queiroz vai receber cerca de 720 mil euros por ter levado a selecção nacional aos oitavos-de-final.

Num comunicado publicado no site da FPF, após uma reunião directiva de balanço, o organismo reconheceu que a participação de Portugal “fica aquém do que todos ambicionavam” mesmo que a eliminação tenha “sido frente a Selecção que viria a consagrar-se Campeã do Mundo”.