Não pode ser por acaso que o Sporting CP vence o campeonato novamente num curto espaço de tempo. Cada vez mais os 10 milhões de euros gastos na contratação de Rúben Amorim parecem trocos, tal é a satisfação e felicidade que trouxe aos adeptos leoninos. Porém, a conquista deste título não foi uma ocasionalidade, mas sim consequência de muitos fatores intrínsecos e extrínsecos ao treino.

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É importante caracterizarmos o contexto. O Sporting esteve duas épocas sem ser campeão nacional, depois de Rúben Amorim o ter conquistado em 2020/21 após 20 anos sem qualquer campeonato conquistado por parte dos leões. É incontornável o peso que Amorim tem no projeto do Sporting e o seu peso no sucesso do clube. Vamos então a alguns pontos que acredito terem sido determinantes na conquista do título.

1. Conhecimento do plantel da parte de Rúben Amorim

O facto de Rúben Amorim estar há cinco épocas no Sporting CP faz com que o treinador português conheça muito bem a sua equipa, as suas fraquezas e aquilo que precisa para a potenciar. A chegada de jogadores como Hjulmand e Gyökeres foram criteriosamente pensadas em consequência da ausência de jogadores como estes últimos – sendo que os mesmos demonstraram-se fundamentais ao longo da temporada, não sendo por acaso que são os dois jogadores com mais minutos do plantel leonino.

Sporting
Morten Hjulmand festeja com os colegas um golo ao Benfica créditos: EPA/JOSE SENA GOULAO

2. Consolidação do modelo de jogo

Dizemos que não interessa quem joga na equipa do Sporting, tudo parece igual independentemente de quem joga. Toda a gente percebe o seu papel, sabe onde encontrar os seus companheiros e tal processo é a consolidação de quatro anos e meio a trabalhar um modelo de jogo que, claro, teve as suas adaptações ao longo das épocas e de acordo com as características dos jogadores.

Dia da apresentação de Rúben Amorim
Dia da apresentação de Rúben Amorim

3. Antiga potenciação de jogadores que conduziu a um melhor mercado de transferências

O trabalho de Amorim já leva algum tempo e é em consequência desse longo período de potenciação de muitos jogadores - como por exemplo Matheus Nunes, Ugarte, Pedro Porro, Nuno Mendes, entre muitos outros – que o Sporting consegue a contratação de jogadores como Gyökeres com um vasto mercado, como já inclusive o seu agente mencionou. Esta potenciação ajuda no recrutamento de melhores jogadores que vêm o trabalho com Rúben Amorim como um passo de sucesso na sua carreira.

Sporting vs Tottenham
Manuel Ugarte disputa a bola com Pierre-Emile Højbjerg. créditos: MIGUEL A. LOPES/LUSA

4. Rotação do plantel com jogadores de diferentes características

Uma das principais mais-valias de Amorim passa pela capacidade que tem de gerir o plantel e manter o rendimento de diversos jogadores. Rodou ao longo da época cerca de oito defesas centrais (se quisermos contar com Matheus Reis), dando minutos a todos eles (uns mais que outros). Trouxe de volta o melhor Quaresma quando Diamonde esteve indisponível, estreou Rafael Pontelo e ainda houve minutos para Neto. Nem a curta lesão de Coates deitou abaixo o setor defensivo leonino...

Para além disso, aproveitou Pote no meio-campo quando ainda não havia Daniel Bragança e Koba. Soube aproveitar os momentos de forma de Marcus Edwards na primeira volta e de Francisco Trincão na segunda volta. Gyökeres foi constante no ataque leonino, mas também Paulinho acumulou bons minutos ao longo da época.

O avançado sueco parece ter retirado pressão ao avançado português que fez uma das melhores épocas da sua carreira. No meio de quatro competições (Liga Portuguesa, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga Europa), a equipa de Rúben Amorim foi muitas vezes alterada, mantendo quase sempre o nível competitivo.

Como se não chegasse a rotatividade devido a condições físicas, ela também esteve presente a nível tático. Matheus Reis em detrimento de Nuno Santos para jogos de maior exigência defensiva e Catamo em detrimento de Ricardo Esgaio quando o adversário se apresentava mais sólido defensivamente. Catamo é ainda peça importante no rendimento de Trincão pela capacidade com que retirou a pressão de Trincão em ocupar sobretudo o corredor lateral.

Sporting vs Sporting de Braga
Eduardo Quaresma festeja. créditos: FILIPE AMORIM/LUSA

5. 100% de vitórias caseiras no campeonato nacional

Não sei se já sabias mas o Sporting venceu todos os jogos em sua casa a contar para o campeonato nacional. O apoio em Alvalade está em claro crescimento, a comunhão entre adeptos nunca esteve tão boa – também consequência da já muito elogiada comunicação de Rúben Amorim – e a mesma tem sido fundamental para que o Sporting tenha feito do Estádio José Alvalade uma fortaleza.

Adeptos do Sporting
Adeptos do Sporting créditos: © 2024 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

6. Adversários diretos mais fracos

Para todas as equipas existem adversários e, sendo incontornável que o Sporting melhorou imenso da época anterior para esta nova, os rivais dos leões enfraqueceram a olhos vistos. O FC Porto encontra-se numa espiral de dúvidas, incertezas e um futebol que nunca encontrou regularidade, para além de enfrentar uma eleição presidencial que gera constante desconforto e separação de adeptos.

Já o Benfica de Roger Schmidt também esteve muito aquém das expectativas face aquilo que foi o orçamento do mercado de transferências dos encarnados. O treinador alemão apresentou muitas dificuldades na implementação de um modelo de jogo que conseguisse potenciar os ativos da sua equipa.

Roger Schmidt e Sérgio Conceição
Roger Schmidt e Sérgio Conceição créditos: ANTONIO COTRIM/LUSA

7. Gyökeres

Podemos falar de inúmeros jogadores que tiveram papel preponderante na equipa do Sporting, porém não há nenhum que tenha tido um impacto tão grande como Viktor Gyökeres teve nestes últimos anos no futebol português. Foi determinante na quantidade de golos que marcou, nas assistências preconizadas, mas também pela criação de oportunidades em jogadas que nada pareciam resultar em lances de perigo.

A capacidade física e de explosão do avançado sueco surpreenderam a grande maioria das equipas portuguesas que raramente conseguiram se superiorizar ao avançado. Somando a isto, Gyökeres era também uma referência na transição ofensiva, seja pela capacidade com que conseguia segurar a bola de costas para a baliza, mas também pela capacidade de procurar as costas da linha defensiva com movimentos de rotura – aproveitando a sua velocidade e a resistência ao choque. Um dia mais tarde, quando falarmos do Sporting CP campeão 2023/24, um dos primeiros nomes que nos passará pela cabeça será o do sueco Gyökeres.

 Viktor Gyokeres
O festejo icónico de Viktor Gyokeres. créditos: ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

8. Rúben Amorim

Não posso terminar sem fazer uma honra ao nome mais utilizado neste artigo: Rúben Amorim. Se tantas vezes colocamos os treinadores em questão pelos seus trabalhos, temos também de os saber elogiar quando fazem bons trabalhos.

Rúben Amorim não desistiu do 3-4-3 apesar de duas épocas sem conseguir vencer o campeonato, adaptou-o, melhorou-o e soube tirar o maior proveito dos seus jogadores para tal. Não há dúvidas do impacto da sua liderança e pela aproximação com que trouxe a sua equipa aos adeptos. O sucesso do treinador português não é aleatório e acredito que nos próximos anos possamos comprovar uma vez mais o porquê de ser discutido como um dos melhores treinadores de sempre do Sporting CP.

O Sporting foi o justo campeão desta edição da Liga Portuguesa face à sua regularidade exibicional que os catapultaram para uma vantagem pontual histórica no clube.

Rúben Amorim
Rúben Amorim

PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.