Em cada dia partimos à aventura e nunca sabemos como o dia vai terminar. Contudo há pequenas rotinas que se repetem sempre e que, no fundo, marcam a identidade do rali pois são comuns a todas as concorrentes.

Acordamos todos os dias às 4 horas da manhã com a Dominique, directora de prova, a circular por entre as tendas e a dizer: " Bom dia. São quatro horas!" Visto-me muito depressa e vou a correr buscar o carro apenas para o conseguir estacionar junto à fita que circunda as tendas. Mesmo assim não consigo ser das primeiras. Depois entro na tenda para arrumar tudo o que está lá dentro do saco! Dobro a tenda e atiro tudo para dentro do carro. Entretanto a France foi ver a classificação e qual a nossa linha de partida para que possa estacionar no sitio certo. A hora de partida é um pouco estipulada ao acaso e nunca sabemos se somos das primeiras ou das últimas a partir. Posto isto, estaciono o carro e vou a correr para o pequeno-almoço. É neste momento que sinto saudades de casa.

O cheiro a fritos é um bocado enjoativo, o pão é do dia anterior e nunca há fruta. Comemos enquanto ouvimos o briefing e a France marca o primeiro ponto na carta. Se formos das primeiras a partir temos de acelerar. Há que passar pelo camião da água para trazer pelo menos seis garrafas de litro e meio e volto para o carro. Aperto os sacos e as tenda com uma fita para que não saiam do lugar, limpo o pára-brisas, verifico a pressão dos pneus e ponho protector solar. Enquanto esperamos observamos a carta e o caminho que temos de enfrentar até ao primeiro ponto. As primeiras equipas partem às seis da manhã.

Ao final do dia quando chegamos à meta e depois de controlada a carta de controlo, a France vai entregá-la ao responsável pela classificação. Enquanto isso eu procuro um lugar para montar a tenda bem junto à vedação. Quando a France chega, posso a partir com o carro para a fila do combustível e, uma vez atestado, vou entregá-lo ao mecânico. A partir de agora é hora de pegar no bloco e começar a escrever. Depois vou a correr para o telefone para ditar os meus textos. Se tiver tempo tomo duche que aqui é sempre de água quente. Se já for tarde vou jantar pois a prioridade é descansar uma vez que os dias são longos e intensos.

Hoje foi um exemplo disso. Demorámos quase 14 horas a completar o percurso e chegámos quase de noite ao acampamento. Foi um dia extenuante em que sentimos todo o tipo de emoção. O prazer de fazer as dunas com facilidade, de sermos as primeiras a chegar ao CP, a frustração de perceber que nos afastámos demasiado da linha ideal, o medo de não conseguir encontrar o CP, a exaustão e por fim o alívio de encontrar a última bandeira e chegar ao acampamento.