No dia em que abandonámos a corrida tentámos arranjar transporte para voltar para casa. No dia seguinte o camião que nos viria buscar entrava em Marrocos. Nada poderia correr melhor. Contudo, acabou por ficar retido na fronteira obrigando-nos a esperar mais tempo do que desejaríamos.

Para me manter equilibrada caminho e escrevo.

Caminho pelo deserto fora em direção aquelas palmeiras lá ao fundo, apenas porque preciso de uma referência no horizonte. Para além de um cantar de pássaro que, de vez em quanto se solta no ar, o silêncio tomou posse desta paisagem. Ouço apenas o tecido da calças, o trilhar dos meus sapatos neste chão que gosto de pensar que ninguém pisou, a minha respiração mais forte do que o normal pois esta constipação nunca mais me larga e o ar suave a roçar-me nos ouvidos. Provavelmente, estes sons existem sempre quando caminho... mas nunca dou por eles. O relógio é o meu companheiro. Tenho de saber quando voltar para trás porque aqui não tenho a noção do tempo. O caminhar pode ser infinito... tal como esta paisagem.

Volto para trás. Agora a silhueta do hotel com as suas chaminés a atirar fumo são a minha direção. É engraçado pensar que aqui uma lareira acesa pode ser um luxo. É que estamos no deserto e a madeira para queimar vem de muito longe.... mas está muito frio. Acho graça cruzar-me de vez em quando com as minhas pegadas. Como é possível... se o espaço é tão amplo?! Vem-me então à memória uma frase do filme O Panda do kung Fu: "Às vezes cruzamo-nos com o destino nos caminhos que escolhemos para o evitar!" Sim... estou no sitio ideal para deixar a minha cabeça divagar sobre este tema. Questionar a sequência dos acontecimentos é algo que faço sempre quando as coisas me correm mal. Nem sempre encontro resposta... nem sempre me agradam as respostas que encontro...mas sejam elas quais forem, encontro sempre em alguma a coragem para continuar a lutar... para construir o meu destino!