Esta meia-final entre o Brasil e o Uruguai até poderia ter sido um bom espetáculo, poderia, mas não foi. Como treinador interrogo-me sobre as causas das quais resultou este inesperado e pobre futebol. Sabendo, como se sabe, que os modelos apresentados pelos competidores são antagónicos, pergunto, porque é que as equipas não usufruíram das suas vantagens na apresentação, e no aproveitamento, de um processo tático preparado para surpreender o opositor.

Infelizmente a organização tática nas equipas de Scolari fica dependente da capacidade individual dos jogadores, já que coletivamente a ausência de um plano de jogo é por demais evidente. A razão da elevadíssima percentagem de passes errados está na falta de um plano com uma dinâmica de envolvimento treinada e assimilada pelos jogadores. Não admira que esta vitória seja fruto de alguma felicidade e sobretudo pela capacidade individual do menino Neymar.

Aliás, as declarações de Scolari no final são esclarecedoras quando o técnico brasileiro afirma que «o importante foi notar que ainda temos algumas coisas para aprender, no sentido de jogarmos com mais qualidade. Ainda somos novos. Vamos ter que amadurecer um pouquinho». É como se lê, só uma questão de idade. A organização surge quando estiverem maduros.

O treinador do Uruguai, Tabárez, conseguiu transformar uma equipa recheada de ótimos jogadores de características atacantes num grupo ultra defensivo. Já o tinha feito frente à Espanha e ontem repetiu o feito. Como é que uma seleção que tem Suárez e Cavani, os quais em conjunto marcaram nos seus campeonatos perto de 70 golos, pode transformar dois inatos goleadores em defesas de marcação aos laterais brasileiros?

Este treinador, e muitos mais, desconhecem que quando se joga em 4x4x2, os dois arietes não devem desperdiçar energias a defender, a sua missão são as ações ofensivas. Tabárez afirmou «que a sua equipa fez uma pressão muito forte e que, com isso, o Brasil não conseguiu impor o seu jogo». Está tudo dito!

Quando não existem planos nem organização, os projetos são apenas de intenção e de teoria, os quais não funcionam na prática. Fala-se muito, criam-se cenários, imagina-se um grande jogo de futebol, mas o que acontece na realidade é precisamente o contrário. É urgente inovar a metodologia de treino assim como é importante treinar o que se vai apresentar no jogo. Acreditem, não é difícil. É preciso é pensar, estudar e investigar para criar futebol. Dessa forma as ideias surgem naturalmente!

Hoje jogam Espanha e Itália. A Espanha é uma exceção. Os jogadores espanhóis, ao contrário dos restantes, sabem o que fazem e porque o fazem em campo, dado que existe um plano de jogo coletivo, o qual é bem interpretado individualmente pelas características e pela inteligência dos jogadores! Era bom para o futebol que os italianos apresentassem um antídoto para neutralizar o quase imbatível futebol dos espanhóis e não repetissem o resultado negativo de 4-0 no final do Europeu de 2012.