Escrevi no último trabalho que a Espanha não era uma seleção invencível. Tinha demostrado debilidades nos jogos frente à Nigéria e sobretudo perante a Itália. E ontem, aconteceu o que poderia ter sucedido nos anteriores jogos.

Os espanhóis podem queixar-se de que sofreram os golos em momentos decisivos, os quais são antagónicos por serem motivadores para o Brasil e frustrantes o conjunto de Del Bosque. Nos momentos em que poderiam iniciar a recuperação, os espanhóis foram infelizes: sofreram um golo logo aos dois minutos e outro aos 44, ficando sem tempo para recuperar. A juntar-se a isso, algum cansaço provocado pelo calor e pela humidade deixou-os inferiorizados fisicamente. Apesar de tantas condicionantes, houve tantas outras na origem desta humilhante derrota.

A filosofia da Espanha é sempre a mesma, criar uma grande envolvência de posse de bola na procura de criar espaços para finalizar, mas isso não disfarça a má organização na recuperação defensiva quando a perde, a qual neste jogo mais se agravou porque a outra grande arma da seleção espanhola era pressionar, e ontem a pressão esteve completamente ausente.

A Espanha raramente teve períodos de domínio. Scolari, apresentou uma equipa compacta com um grande rigor defensivo, o qual resultou em pleno face à desorganizada seleção espanhola. Foi um jogo onde a capacidade individual dos brasileiros se sobrepôs ao inoperante posicionamento e à má distribuição dos jogadores espanhóis. Um Brasil de contra ataque ridicularizou uma Espanha incapaz de apresentar o seu habitual futebol de ataque organizado.

Falo em individualidades porque é a inteligência, a técnica e o génio  
dos jogadores que resolvem os jogos. O primeiro golo nasceu num passe direto de David Luís para a extrema direita de onde saiu o cruzamento para Fred. Este jogador, mesmo deitado, sonhou que marcava e marcou. O segundo merece um Óscar, pois este excelente jogador temporizou até Neymar lhe solicitar o passe. O terceiro é uma obra de arte de Marcelo que proporcionou a Fred bisar.

Dizer-se que Thiago Silva é o melhor central do mundo pode dizer-se, mas para mim David Luís é o melhor neste momento. Marcelo não tem rival. Óscar é o médio sucessor dos ex-grandes talentos brasileiros. Fred tem nome de interprete dos Flinstones e ouve bem quando lhe dizem: «Fred abre a porta» - é um predador de área, mata, disfruta e oferece aos colegas. Neymar é um craque ilusionista, fez furor nesta prova e vai continuar a fazer ainda mais no futuro.

A Espanha perdeu porque defendeu mal em que o sector defensivo desapoiado e desorientado cometeu erros nos três golos e em mais três lances que só não deram golo por acaso. Percebe-se porque é que Mourinho não punha a jogar nem Casillas, nem Arbeloa. Com a agravante dos dois centro campistas, Iniesta e Xavi não defenderem, o médio ala Mata não acompanhava Marcelo. Desta forma este Brasil coeso, cumprindo corretamente o plano tático, e determinado a recuperar o seu prestígio futebolístico, aproveitava inteligentemente o adiantamento dos espanhóis. Quando recuperavam a bola, ou jogavam direto ou o meio campo sem marcação avançava e juntamente com os avançados, criando por várias vezes superioridade.

Esta vitória fez com que o futebol do Brasil surgisse no momento exato, para acalmar e atenuar a contestação social. A qual, terá de ser ressarcida até ao Mundial, para que este se desenrole em paz!