O acidente cardiovascular que aconteceu ao treinador Van Der Gaag é reflexo da pressão a que os técnicos estão sujeitos face à desmesurada exigência da profissão. Infelizmente não é caso inédito. Recordo que, entre outros casos análogos, recentemente (dois, três, anos?) Ricardo Gomes ex-jogador do Benfica teve um AVC, quando treinava o Vasco da Gama.

O treinador tem de ter um grande poder de encaixe e uma sólida estrutura mental que lhe sirva de escudo protetor aos ataques internos e externos sempre que os resultados não surgem.

O treinador depende dos resultados. Quando no percurso da época a prestação da equipa está longe das expectativas, o treinador é sempre o bode expiatório. O futebol é um jogo que tem situações aleatórias e incontroláveis, que podem decidir a continuidade ou não do treinador nas suas funções.

O descontentamento dos adeptos, a crítica da comunicação social, o mal-estar dos dirigentes. A frustração de não alcançar os objetivos, de não conseguir preparar a equipa para jogar bem e ganhar, a incerteza dos próximos resultados, o receio de ser despedido. É um acumular de tensão que o organismo por vezes não aguenta.

O treinador é um homem só, que sente e vive o futebol durante as 24 horas do dia. O seu cérebro é um turbilhão onde as interrogações se cruzam com treinos, jogadores, árbitros, público, comunicação social, estratégias, jogos e reflexões. É claro que todo este stresse pode afetar o sistema nervoso central e alterar o sistema cardíaco.

Uma Faculdade de Ciências de Saúde estudou as alterações da pressão arterial de vários treinadores durante um jogo de futebol. 80% dos analisados tiveram um aumento brusco entre o antes e depois do jogo. Exemplo: um treinador tinha antes do jogo uma pressão de 13/9 e no final tinha 23/16.

Estes casos podem acontecer com jovens ou idosos, com aqueles que continuamente esbracejam irritados com os jogadores ou com os que estão aparentemente calmos no banco, muitas vezes estes sofrem mais. Diz-se que a inexperiência gera mais tensão nos técnicos em partidas decisivas. Mais rodagem costuma garantir maior tranquilidade no banco.

Os treinadores devem dominar a inteligência emocional, controlar reações, terem uma forte autoestima, refletirem nos erros com a equipa técnica, serem autocríticos e aceitarem os conselhos dos colaboradores para melhorar comportamentos e decisões. O futebol é para ser vivido.

Dedico este soneto a Van Der Gaag e a todos os treinadores!

banco técnico
             
banco onde sinto e treino a dor
onde vivo momentos de euforia                 
onde suporto instantes de pavor 
onde passo do prazer à agonia 

onde me exponho riu e lamento
onde nervoso me acalmo e agito
onde à vez respiro e rebento
onde passo de tranquilo a aflito 

onde dirijo o jogo à medida    
onde decido e altero convicto
em busca da vitória apetecida

onde mesmo a perder acredito
vencer. O banco é a minha vida  
nele desmaio, morro e ressuscito