Passado já um quarto do campeonato é tempo dos dois eternos candidatos ao título de campeão nacional apresentarem uma equipa estruturada e definida para desenvolver um futebol de qualidade compatível com a capacidade individual dos jogadores. Mas passadas já sete jornadas, quer Porto, quer Benfica continuam a apresentar um futebol muito pobre, comparado com a riqueza dos intérpretes.

Ontem a equipa do Porto apresentou-se fragmentada e desorganizada, sem princípios de jogo definidos. O Porto de Vítor Pereira, mesmo quando o seu futebol não era fluído, nem acutilante, nem agradável, era quase sempre um Porto dominante. Os dragões na época passada tinham um plano de jogo, que passava por temporizar a posse de bola na zona intermédia, onde preparava os lances de pré e de finalização.

Paulo Fonseca não tem James, nem Moutinho, tem Lucho com mais um ano de idade e por isso tem problemas no meio-campo e nas alas. Fernando será sempre o trinco. Lucho mantem a clarividência, mas desgasta-se e a manutenção do ritmo é menor. Herrera e Defour, nada têm a ver com Moutinho. Colocar Josué nas alas é tentar fazer dele outro James. Mas Josué é mais centro campista e menos extremo. Pode vir a ser outro James, como poderá substituir Moutinho. Também Quintero nos poucos minutos que joga marca e demonstra ser um tecnicista, especialista em livres. Se não alinha de início pode repartir os 90 minutos com o artista Lucho, ou até jogar a seu lado simultaneamente. 

A evolução ofensiva dos dragões é prejudicada por este problema do meio-campo e também porque os laterais avançam menos do que na época anterior. Apesar do primeiro golo partir de uma iniciativa de Alex Sandro. Também Jackson se ressente da falta de solicitações, oriundas das laterais e da zona central. Ontem Jackson, como a bola não chegava, foi à procura dela, recuou, movimentou-se para os corredores laterias e apareceu no sítio certo para bisar. É a arte, a inteligência e o improviso individual a colmatar a ausência de organização e planeamento.

No Estoril-Benfica faltaram os elementos básicos para se realizar um bom jogo de futebol. Os jogadores corriam, tentavam passar a bola aos colegas, mas não conseguiam realizar três passes seguidos, jogavam devagar, devagarinho, para trás e para os lados. Entrar nas grandes-áreas, normalmente é o desejado, mas ontem, vá-se lá saber porquê, quase não entraram. Mas é ali na zona do agrião que se fazem e aconteceram os três golos.

Faltou velocidade a ambas as equipas. Onde estão as anteriores mudanças de ritmo do Benfica do ano passado, que atuava à velocidade da Luz, esta época nem reagem à velocidade do som que vem dos adeptos das bancadas. O Estoril também não repetiu as grandes exibições que fazem dele a sensação do campeonato. Na primeira parte nem por uma vez incomodou Artur.

Este jogo disputou-se a velocidade de cruzeiro. Foi de uma sonolência, acredito que muitos espectadores adormeceram durante o mesmo. Contudo, o Benfica sem jogar bem foi superior ao Estoril, não só por marcar mais golos, mas também pelas oportunidades flagrantes que desperdiçou: Gaitan, Lima falhou uma grande penalidade e perdeu um golo feito, Enzo também teve uma situação para marcar. O Estoril além do golo teve nos últimos momentos possibilidade para empatar. Ganhou em cantos 10 a 0, mas isso é mais o comprovativo da ansiedade e intranquilidade dos jogadores do Benfica do que mérito do Estoril.

O Benfica a jogar mais de meia hora contra dez não aproveitou a superioridade, não respondeu com um posicionamento dinâmico que obrigasse os canarinhos a defenderem, receosos e sem confiança, pensaram mais em segurar o resultado do que em dilata-lo. O Estoril na situação de inferioridade fez o que devia fazer, arriscou e equilibrou o jogo.

O Benfica é um caso de estudo. O treinador é o mesmo, os jogadores de ontem com duas exceções foram os mesmos. Então por que não espalham como espalhavam anteriormente o seu futebol: rápido, dinâmico, fluente, atrativo pleno de qualidade e de golos? Ao invés apresentam-se esta época lentos de ideias e sobretudo de pernas. Já se fala que a equipa está doente por carências de capacidade física e anímica.

Porto e Benfica terão de jogar muito, muito mais. Os treinadores já têm mais do que suficiente tempo para passar as suas ideias e a filosofia de jogo a implantar. Já escrevemos que a vida de treinador é difícil, dado que é visionada e criticada por uma mole humana que pouco ou nada entende de futebol. Cada adepto é treinador de bancada, onde opina de cátedra. A comunicação social quer é “sangue”, esquece e ignora os sucessos de um passado recente.

Por isso treinadores profissionais devem ser diferentes e mostrar que o são, ao exteriorizarem toda a sua competência e conhecimento. Os treinadores devem dedicar-se e viver o futebol, refletir, imaginar, ter e concretizar ideias, experimentar e transformar para melhorar, investigando e tentando antecipar o futebol do futuro. O seu trabalho deve basear-se na criatividade, na inovação e em reinventar e concretizar possibilidades para melhorar o jogo e os espetáculos. Se continuarem nesta linha conservadora de deixar que as coisas aconteçam sem estarem planeadas, sujeitam-se a ficar na corda bamba.