Como nos dias 16 e 17 se realizam as jornadas comemorativas dos 10 anos da Desporto-Direito - Revista Jurídica do Desporto, sobre as regras do Fair Play Financeiro da UEFA, na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, hoje abordo este tema do Fair- Play financeiro.

As regras do Fair- Play financeiro elaboradas pela UEFA entraram esta época em vigor e acho que são medidas importantes para dignificar e valorizar o futebol. Estas normas visam a redução de salários inconcebíveis e o valor das transferências exorbitantes de jogadores. Tudo isto é ofensivo para o cidadão comum e para a crise económica que grassa por essa Europa fora.

Esta é forma de controlar e de educar os irresponsáveis maus gestores, ansiosos de títulos e de outros benefícios. Não é por acaso que a maioria dos grandes clubes europeus seja gerida por magnatas, pouco preocupados em estruturar os clubes. 

A avaliação no final desta época penaliza os clubes que tiverem despesas superiores às receitas e os que na final da época apresentarem prejuízos de 45 milhões de euros na soma das duas ou três últimas temporadas, ficam impossibilitados de atuarem nas provas europeias e de receberem os prémios da sua prestação.

Bem, isto vai ter de mudar pois num passado recente, os clubes europeus, em média, gastaram 64 por cento das suas receitas em salários. E em 73 deles, a massa salarial era superior ao total das receitas.
Mas os maus exemplos continuam, dado que as transferências realizadas neste defeso envolveram dezenas de milhões, como a Bale, que pode ser vista como uma provocação humilhante. Isto leva-nos a pensar: qual Fair- Play qual carapuça? 

Contudo, ao ler recentemente «Três grandes já devem 920 milhões de euros» e que a Benfica SAD lidera com 440,5 milhões de euros, segue-se o Sporting, com 258,9 milhões de euros e o FC Porto, com 220,2 milhões de euros. Em conjunto, o valor dos passivos subiu mais de 50 milhões de euros face à época transata.

Não serve de atenuante mas não são só os nossos clubes, dado que todos os clubes do mundo apresentam passivo. Isto demonstra que os nossos clubes são devedores e suportados pelos bancos, que usufruem do aumento substancial dos juros e das VMOCs.

Esta parceria sujeita-se a várias engenharias financeiras, mas com interesses antagónicos. Os clubes, dependentes dos empréstimos para tapar buracos de compromissos anteriores, aceitam a bola de neve, os bancos não se importam porque para além dos elevados juros têm a segurança de ativos dos jogadores e das hipotecas.

Os clubes terão de ser mais comedidos e disciplinados na gestão financeira. Têm e são obrigados a reduzir as despesas a um nível inferior às receitas. A grande fonte de poupança e simultaneamente de enriquecimento será o investimento no futebol juvenil.

O Sporting acionou a tempo o aproveitamento e a incorporação dos jovens criados na Academia. A juventude substituiu “mercenários”, mais interessados no dinheiro e menos nos interesses e na mística do clube. Este, entre outros, foi o mais importante passo para o Sporting se manter viável. O Sporting é um exemplo a nível mundial, a seguir por todos os clubes.