Ontem [sexta-feira] escrevi que a pressão tem o seu lado positivo. A da seleção foi de querer, de vontade, de entrega e de determinação, que motivou e transmitiu confiança aos jogadores para realizarem um jogo positivo, equilibrado nalguns momentos da primeira parte e totalmente dominado por nós na segunda.

A capacidade volitiva é a base para a realização de qualquer feito, a pertinácia, a perseverança são fundamentais na procura do desejado. Ontem podemos dizer, ao contrário de jogos anteriores, com uma exceção, que todos estiveram à altura.

Tínhamos perspetivado que a equipa que melhor interpretasse o guião venceria. De facto, o estudado por Paulo Bento esteve mais elaborado, mais bem ensaiado e foi bem compreendido pelos jogadores, que executaram, em grande percentagem, o que estava programado, para suplantar as caraterísticas dos suecos. Neste jogo, os suecos deram a entender que não tinham nenhum planeamento.

Aliás, os nórdicos só em três ocasiões assustaram Portugal. A primeira por má marcação dos centrais, que permitiram que Elmander entrasse pelo meio dos dois e quase marcasse. Outra, foi um excelente remate de Larsson que fez brilhar Rui Patrício e por fim um livre direto que passou a centímetros do poste. E ficaram por aqui. Ontem na Luz os suecos foram somente, altos e loiros.

Dizia-se que o perigo vinha do alto, que jogavam futebol direto. Que Ibrahimovic era muito perigoso. Afinal por mérito da nossa equipa, os suecos não remataram de cabeça uma só vez. O futebol direto foi anulado com facilidade. E o famoso capitão dos suecos, não brilhou, foi apagado por Pepe e praticamente não se viu.

Paulo Bento disse: «A prioridade é trocarmos a bola à flor da relva para impormos um futebol mais técnico». Se o disse, melhor o fizeram os jogadores. Na realidade, a posse de bola foi construtiva, na base da temporização e sempre com o objetivo de chegar à baliza de Isacksson.

Realizamos uma excelente segunda parte e não deviam dizer que foram os suecos que recuaram. Eles foram empurrados pelo jogo rendilhado dos portugueses, pelo futebol de passe curto e médio, feito em triangulações, ora do lado direito, por João Pereira, Moutinho e Nani, e também no lado oposto, embora menos, por Fábio Coentrão estar menos apoiado.

Defendemos bem. E atacamos imenso. Esta foi a segunda parte mais bem jogada nesta fase de classificação. Rui Patrício transmitiu confiança. Os laterais foram excelentes extremos. Os centrais muito seguros. Os médios cumpriram, mas Moutinho sobressaiu ao realizar uma exibição a fazer recordar as grandes prestações que fez no Porto. Dos atacantes, Postiga foi o menos regular. Nani e Cristiano são dois ótimos tecnicistas, hábeis, imprevisíveis e como tal difíceis de marcar.

Não há bela sem senão. Paulo Bento terá de retificar o porquê dos infrutíferos cruzamentos e a incorreta colocação dos possíveis recetores. Não se pode desperdiçar este caudal ofensivo, que deve desaguar na baliza dos adversários. Ontem em 27 só o do golo foi exceção, é pouco aproveitamento para tanta pré- finalização. Eu ouço, mas não ligo quando dizem que isso aconteceu porque os suecos são grandes.

No teste, de quem é melhor, Cristiano Ronaldo ou Ibrahimovic, não há comparação possível. É o nosso Cristiano. O sueco no PSG marca muitos golos, porque tem ótimos municiadores que trabalham para ele. Na seleção é diferente, a bola não lhe chega e como a Suécia pratica o jogo direto, quando lhe surge não vem redonda, por isso ele veio buscar o esférico atrás.

Cristiano por vezes não repete na seleção as exibições que realiza no Real Madrid, porque as equipas espanholas jogam o jogo pelo jogo e por isso o nosso capitão tem mais espaço e surge muitas das vezes isolado, face à sua velocidade e há perceção onde deve surgir para marcar. Ontem foi um autêntico capitão e esteve muito bem, não só na antecipação que concretizou em golo, como a jogar e fazer jogar. Merecia o segundo, mas caprichosamente foi à trave.