O Futebol Português tem caraterísticas únicas em termos internacionais, que capta atenção além fronteiras. Entre nós temos um dos melhores jogadores do mundo (Crsitiano Ronaldo), um dos melhores treinadores do mundo (José Mourinho), um dos melhores agentes do mundo (Jorge Mendes) e, até há pouco tempo, um dos melhores árbitros do mundo (Pedro Proença).

Contudo, internamente, os adeptos de Futebol continuam a dar mais importância às vitórias e sucessos competitivos dos seus clubes, a curto prazo, do que ao espetáculo Futebol propriamente dito. Este sentimento generalizado é, em minha opinião, simultaneamente causa e efeito da cultura desportiva que temos. Por exemplo, são raros os casos de dirigentes que possuem uma visão de desenvolvimento e sustentabilidade dos seus clubes a longo prazo. Os clubes, na sua larga maioria, vivem para suprimir as necessidades que as contingências de curto prazo lhes apresentam. Abstenhem-se de criar o seu próprio futuro. Isto acarreta um foco excessivo sobre o sucesso do desempenho a curto prazo, com implicações no desenvolvimento desportivo e competitividade global do nosso produto ‘Futebol’. E o grande problema é que este clima já contamina, também, o Futebol de Formação, em que os objetivos deveriam ser, ainda mais convictamente, de desenvolvimento a longo prazo.

Mas olhemos para o aquilo que é o nível de desenvolvimento de algumas das áreas estruturantes do Futebol Português.

Na esfera técnica, o nível de desenvolvimento do futebol Português é referência em termos internacionais. A vanguardista evolução operada ao nível da metodologia do treino e da formação de treinadores, iniciada na década de 80 do século passado, faz com que hoje tenhamos provavelmente a melhor geração de treinadores a nível mundial. Basta olharmos para os números. Nos últimos anos, temos consecutivamente sido o país com mais treinadores na fase de grupos das competições europeias de clubes (Champions league e Europa league). No ano transato, 8 treinadores Portugueses foram campeões em países como Inglaterra, Rússia, Grécia, Suiça, Portugal, México, Grécia e Egipto. Temos, provavelmente, a melhor escola de formação de treinadores do mundo. Por tudo isto, Portugal é hoje bastante procurado por diversos agentes desportivos ligado ao fenómeno Futebol. Alguns treinadores começam a vir fazer a sua formação como treinadores a Portugal. Exemplo disso é o sucesso da recente pós-graduação internacional em High Performance Football Coaching, que a Faculdade de Motricidade Humana criou, com a ajuda de José Mourinho. Alguns dos alunos são treinadores já com larga experiência profissional, que viram aqui uma oportunidade ímpar de projetar a sua formação profissional. Um deles, Adam Sadler, acabou de se consagrar campeão inglês pelo Leicester. Mas há mais exemplos interessantes. No ano passado, o ex-selecionador Brasileiro, Mano Menezes, frequentou um curso de treinadores UEFA PRO, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol. Apesar de nao necessitar de obter a licença, este conceituado treinador optou por esta via para atualizar e potenciar a sua própria formação. Na esfera técnica, o Futebol Português está bem e recomenda-se!

A qualidade da formação de jogadores jovens evoluiu também muito nos últimos anos. Apesar da reduzida densidade populacional do país, continuamos a formar jogadores em grande quantidade e qualidade, que têm permitido, inclusivamente, que as Seleções Nacionais Jovens continuem a obter excelentes resultados desportivos no panorama internacional. O expoente dessa qualidade da formação de jogadores são, por exemplo, as distinções de Luís Figo e, mais recentemente, de Cristiano Ronaldo, com a Bola de Ouro da FIFA. E escrevo estas linhas no dia em que o SL Benfica deu a conhecer os contornos milionários da venda de Renato Sanches ao Bayern de Munique. Podíamos destacar muitos outros jogadores, certamente. Mas para um país com apenas 10 milhões de habitantes, estes factos são absolutamente geniais!

Na esfera da gestão, há alguns exemplos de boas práticas nos clubes, mas são, contudo, ainda escassos. Quanto à gestão das competições, o cenário é, em minha opinião, muito negativo. Creio mesmo que é a este nível (gestão das competições e dos clubes) que muito podemos ainda evoluir. É necessário que a perspetiva dos nossos dirigentes mude. Enquanto não perceberem que, nesta indústria, a procura pelo monopólio não é a solução, a decalage entre clubes continuará excessivamente grande para que o nível de competitividade e, consequentemente, a atratibilidade do Futebol Português possa crescer. Os modelos competitivos anglo-saxónicos (e.g., Inglaterra, MLS, etc.) são, a este respeito, uma referência. Todos conhecem o exemplo do empréstimo financeiro do Bayern Munique ao Bayer Leverkussen, para evitar a sua falência financeira. Sem opositores de elevado nível, niguém consegue evoluir. Conseguimos imaginar ato semelhante entre Benfica e Sporting, por exemplo? Reduzir as assimetrias orçamentais redistribuindo de forma mais equitativa as receitas promoveria o equilíbrio entre as equipas. Maior equilíbrio aumentaria a competitividade. Maior competitividade implicaria maior valorização do produto. Maior valorização do produto significaria maior encaixe financeiro para todos. E até maior capacidade de competir internacionalmente. Decalcar estes modelos anglo-saxónicos pode ser perigoso, pois culturalmente somos diferentes. Mas precisamos urgentemente de caminhar neste sentido. É uma questão de perspetiva, onde todos ganharão mais. É um desafio e uma questão educacional decisiva para as próximas gerações de dirigentes desportivos. E nessa altura talvez surjam casos como o Leicester entre nós!

Seja o melhor treinador de bancada!

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