André Villas-Boas mostrou-se "muito triste" pela decisão dos atuais membros da SAD do FC Porto em não renunciarem, uma semana depois das eleições para os órgãos sociais do clube azul e branco que o elegeram 32.º presidente.

Em declarações aos jornalistas à chegada a Chaves, onde a equipa principal de futebol irá defrontar os flavienses, o recém-eleito presidente diz não entender o impasse criado pela SAD do FC Porto.

Já este sábado, André Villas-Boas viu-se obrigado a vir a terreno negar que José Pereira da Costa vá ser cooptado como administrador financeiro da SAD do futebol dos ‘dragões’.

O FC Porto tinha anunciado que a SAD ia cooptar, na terça-feira, administrador financeiro escolhido pelo recém-eleito presidente do clube, André Villas-Boas, que toma posse nesse dia, “ocupando uma vaga que não estava preenchida no conselho de administração, tendo-lhe até sido já atribuído um gabinete de trabalho com todos os meios no Estádio do Dragão, bem como livre acesso às áreas todas do universo empresarial da SAD”.

Impasse no FC Porto: "Continuamos aqui num impasse relativamente à cooptação da nossa Administração porque na Administração do FC Porto SAD, nenhum dos administradores quer renunciar ao seu posto e nós só entraremos na Administração da SAD por cooptação se tivermos direito total de executivo e de veto. Não acontecendo, não podemos estar a permitir-nos ficarmos reféns de uma comissão executiva que possa assinar e continuar a ditar atos de gestão com um dos membros nossos já dentro da Administração. Tínhamos ficado claros que não entraríamos, não tomaríamos qualquer posição.

Comunicado da SAD do FC Porto: "Ficámos surpreendidos pelo comunicado, porque não nos disseram nada relativamente a terça-feira, pelo que entendemos reagir e clarificar os associados que, enquanto não houver ou renúncia ou poder total executivo e de veto por parte do José Pedro Pereira da Costa, nenhum membro da nossa Administração entrará na Administração do FC Porto."

É importante romper com o passado? "Não se trata de romper com o passado mas de acelerar o novo processo de vida do FC Porto, que já muito foi ditado pelos sócios e que aos quais não compreendem. Já todos tivemos maus exemplos do futebol português, onde SADs e clubes desportivos entraram em litígio. Evidentemente, isso não está em causa. Agora, é uma situação de uma vitória evidente, onde os sócios querem ver clarificada e nós só queremos entrar com plenos de poderes, porque só dessa forma é que começamos a implementar toda a nossa visão e todo o nosso projeto."

Clube está unido? "O FC Porto está unido, estamos é num impasse jurídico, burocrático, que não se justifica, na minha opinião. Apela-se à humildade das pessoas em renunciarem ao seu cargo. Até porque os mesmos órgãos sociais da sociedade anónima desportiva já estão em gestão desde o dia 31/12/2023 e já anunciaram a sua saída, alguns deles, há muito tempo. Portanto, na nossa ótica, é uma falta de respeito para os fãs associados ao futebol português."

Espera que tudo seja resolvido rapidamente? "Naturalmente. Ainda por cima, tendo em conta a vitória expressiva nas eleições. Parece que navegamos ainda dentro da mesma Direção e Administração."

Pinto da Costa no Jamor: "Todos temos um respeito enorme pelo presidente, ninguém se importa que esteja presente na final da Taça de Portugal, porque estaria sempre como presidente honorário. Se fosse esse o caso, teríamos de muito gosto em convidá-lo. Agora, parece-me um arrastar de uma situação que não se justifica. Vão passar nove dias quando eu tomar posse do clube no dia 7 e depois estar a adiar tudo o que são decisões estruturantes, a construção de equipas de futebol feminino, a construção, provavelmente, de uma nova modalidade do FC Porto, renovações de plantel, decisões estruturantes relativamente à academia, e todas as decisões que têm a ver com a sociedade desportiva e o grupo FC Porto, e continuamos a estar num impasse."

Sentimento sobre isto tudo? "É muito triste. Ninguém quer afastar as pessoas de forma abrupta. O resultado eleitoral foi expressivo. Disse recentemente que se pedia humildade aos membros da Administração do FC Porto para renunciarem ao seu cargo. Assim foi também nos diferentes clubes rivais, onde as pessoas souberam entender a vontade dos sócios, e aqui, a sociedade desportiva do FC Porto não está a entender a vontade dos sócios e está a atrasar prazos, bem como o Presidente da Assembleia Geral da sociedade anónima desportiva, que já poderia ter chamado também, em antecipação, essa Assembleia Geral de destituição dos órgãos sociais."

O primeiro passo da transição entre a atual e a futura administração da FC Porto SAD iria, segundo os ‘dragões’, coincidir com a investidura dos novos órgãos sociais do clube rumo ao quadriénio 2024-2028, numa sessão aprazada para terça-feira, às 12:00, no Estádio do Dragão, no Porto.

André Villas-Boas tornou-se o 32.º presidente da história do FC Porto, ao somar 21.489 votos (80,28%) para se superiorizar há uma semana nas eleições dos órgãos sociais do clube, interrompendo uma sequência de 15 mandatos e 42 anos de Pinto da Costa, que acumulou 5.224 (19,52%), com o empresário e professor Nuno Lobo a somar 53 (0,2%).

O ato eleitoral mais participado de sempre dos ‘dragões’ teve com a afluência de 26.876 associados ao Estádio do Dragão, tendo também havido 73 votos em branco e 37 nulos.

A inédita eleição de André Villas-Boas, de 46 anos, implica o fim do ‘reinado’ presidencial de Pinto da Costa, de 86 anos, que já comandava o FC Porto desde 17 de abril de 1982, tornando-se, desde então, o dirigente com mais títulos e longevidade do futebol mundial.