Uma das histórias mais fantásticas da I Guerra Mundial ocorreu no dia de Natal de 1914 com uma trégua espontânea entre os dois lados das trincheiras na região de Ypres, Bélgica.

De acordo com os relatos, soldados alemães começaram a decorar as trincheiras com velas no final do mês de dezembro e a entoar hinos natalícios. O conflito armado tinha começado há cinco meses e muitos dos soldados tinham naturalmente saudades das respectivas famílias. Duas semanas antes do Natal, o Papa Bento XV fez um apelo oficial para umas tréguas natalícias, mas os respectivos governos envolvidos no conflito ignoraram o pedido de Sua Santidade.

No entanto, nas trincheiras a realidade era outra. Para além de conviverem com a morte diariamente, os soldados viviam uma situação miserável nas trincheiras onde a lama e a falta de condições higiénicas acentuavam a precariedade dos que ainda não tinham morrido.

A poucos dias do primeiro Natal na frente de combate, os soldados acabaram por ignorar as ordens superiores e de forma espontânea 'enterraram o machado de guerra' para conviver com o 'outro lado'.

Na cidade de Saint-Yvon, na Bélgica, próxima da fronteira com França, soldados alemães e britânicos suspenderam as hostilidades após cinco meses de sangrentos combates e 'abraçaram' o espírito natalício com troca de presentes, canções natalícias e até um jogo de futebol terá sido disputado em 'terra de ninguém' entre soldados das duas frentes de combate.

Mais de um século depois do alegado jogo de futebol disputado entre alemães e ingleses , o serviço postal britânico Royal Mail publicou uma carta de um veterano inglês à sua mãe onde é relatada a trégua espontânea entre os dois lados das trincheiras.

Segundo o relato do capitão AD Chater, o seu batalhão estava em alerta total quando um soldado alemão surgiu no horizonte de braços erguidos em sinal de paz. Os soldados britânicos hesitaram em dispurar pois notaram a ausência de armas e aí começou a 'Trégua de Natal' de 1914 quando um soldado inglês subiu a sua trincheira para cumprimentar o 'inimigo'.

Na carta enviada pelo oficial inglês à mãe é ainda descrito como as trincheiras dos dois exércitos ficaram lotadas de 'inimigos' a trocar de votos de um 'Feliz Natal'. O capitão AD Chater revela que o armistício espontâneo aconteceu também porque os soldados queriam descansar e esquecer por alguns momentos a rotina violenta dos constantes massacres. Este intervalo de paz serviu ainda para que os respectivos regimentos enterrarem os seus mortos sem qualquer risco de confronto armado e houve até tempo para um jogo de futebol entre os dois lados.

E foi neste contexto que soldados alemães e ingleses terão disputado uma 'peladinha' que ganhou contornos de lenda ao longo dos anos. O jogo em questão foi confirmado por vários veteranos de guerra do exército britânico com Bertie Felstead, fuzileiro inglês presente nas trincheiras da Frente Ocidental, a garantir que um colega do seu batalhão improvisou uma bola de couro e que duas equipas de 50 jogadores fizeram uma espécie de 'peladinha' sem regras no território de Ploegsteert.

Num jogo em que o resultado não era importante, ficou o relato de um momento de paz partilhado com uma bola. Outro dado curioso vai para os relatos de um sargento britânico que terá dado uma reprimenda aos seus soldados dizendo que, "o objetivo é vencer os alemães, não fazer amizades com eles".