A ambição do Presidente chinês, Xi Jinping, de converter a China numa potência do futebol até meados deste século já levou cerca de 100 treinadores portugueses a rumarem ao país.

Alguns são contratados por clubes e outros estão integrados no sistema de ensino público, que incluiu em 2015 a modalidade no desporto escolar, parte de um "plano de reforma do futebol" decretado pelo Governo, visando elevar a seleção chinesa ao estatuto de grande potência.

Vítor Pereira, antigo treinador do FC Porto que conquistou o título de campeão na China, no seu primeiro ano no comando técnico do Shanghai SIPG, atribui o sucesso dos portugueses no país à sua "capacidade de adaptação" e "boa formação".

"Um dos segredos do treinador português é ter essa capacidade: chegamos a qualquer lado e adaptamo-nos", afirmou à agência Lusa o técnico, no final da primeira época na China.

Gonçalo Figueira, 31 anos e natural de Arganil, distrito de Coimbra, lembrou que "a China olha para Portugal como uma grande potência do futebol".

"A vitória no campeonato da Europa [em 2016] valorizou o treinador português junto dos chineses", disse Figueira, que dá formação a técnicos numa academia no sul da China.

O país mais populoso do mundo, com quase 1.400 milhões de habitantes - mais do dobro de toda a União Europeia -, é atualmente o sétimo asiático mais bem classificado no 'ranking' da FIFA, no qual ocupa o 76.º lugar do 'ranking' da FIFA, atrás de Cabo Verde, Burkina Faso e muitas outras pequenas nações em vias de desenvolvimento.

Apenas por uma vez a China esteve presente num campeonato do mundo, em 2002, na Coreia do Sul e no Japão, onde não passou da fase de grupos, após derrotas com Brasil, Turquia e Costa Rica.

No entanto, nos últimos anos, grandes empresas chinesas, privadas e estatais, investiram o equivalente a centenas de milhões de euros nos clubes do país, respondendo ao desejo de Xi Jinping em converter a China numa potência futebolística à altura do seu poder económico e militar.

O 'sonho chinês' para o futebol, anunciado pelo líder, passa por três etapas: qualificar-se para a fase final de um Mundial, organizar um Mundial e vencê-lo, em meados deste século.

"A China funciona ao contrário da Europa: em primeiro lugar está a seleção, depois estão os clubes", explicou Rui Mota, técnico interino no Beijing Guoan, terceiro classificado da Superliga, e que antes fez parte da equipa técnica da seleção chinesa sub-19.

"Na Europa, os clubes detêm os passes dos jogadores, têm de dialogar com a seleção, no sentido de haver um acordo entre ambos. Aqui os clubes acatam o que a federação impõe", descreveu.

O poder financeiro do país asiático, a segunda maior economia mundial, garante que técnicos portugueses vão continuar a rumar ao país.

"A nível monetário compensa, sem dúvida", afirmou Figueira, que tem um mestrado em treino desportivo especializado em futebol, pela Faculdade de Motricidade Humana.

"Eu acredito que hajam treinadores a ganhar tanto como eu na II Liga [portuguesa] e eu trabalho com escolas e eles com equipas profissionais", explicou.

Só a academia do Shandong Luneng, uma das mais prestigiadas da China, que acolhe 300 jovens futebolistas, e inclui 36 campos relvados, escola, restaurantes e hospital, conta com oito portugueses nos quadros. O coordenador técnico é o antigo diretor técnico da Federação Portuguesa de Futebol Francisco Silveira Ramos.

"O futebol na China está a desenvolver-se muito depressa, eles querem rapidamente colocar a seleção no campeonato do mundo. Há muito trabalho para fazer e penso que podemos ajudar do ponto de vista tático, estratégico, do entendimento do jogo ou cultura tática", observou Vítor Pereira.

O treinador lembrou que “abrem-se portas para mais portugueses, por cada título que se consegue ou cada trabalho bem feito”.

"Quando se chega a um país e se mostra competência, trabalho, esforço e dedicação, a seguir vão abrir-se mais portas, muitas vezes até para treinadores que têm menos visibilidade, que ninguém conhece, mas que estão a começar a carreira", rematou.

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