A Amnistia Internacional (AI) denunciou hoje, em comunicado, a situação de uma empresa de engenharia responsável pela construção de infraestruturas no Mundial de futebol do Qatar2022 não pagar salários desde há meses aos seus trabalhadores migrantes.

Segundo a AI, a empresa Mercury MENA deve milhares de dólares a trabalhadores vindos de vários países, que trabalharam em projetos junto ao estádio Lusail, no Qatar, palco escolhido para acolher as cerimónias de abertura e de encerramento do primeiro Mundial em solo árabe.

Entre outubro de 2017 e abril de 2018, a AI entrevistou 78 antigos funcionários da Mercury MENA, oriundos da Índia, Nepal e Filipinas, a quem a companhia deve dinheiro.

"Em 2017, o governo do Qatar foi aplaudido após o anúncio de um programa de reformas laborais. Mas, enquanto se firmava esse acordo, dezenas de empregados da Mercury MENA ficaram sem salário e em alojamento miserável, perguntando-se o que iam fazer para comer", refere o diretor adjunto do Programa de Assuntos Globais da AI, Steve Cockburn.

Segundo este, "muitos acabaram a trabalhar sem salário durante meses, desiludidos por um sistema que não os protegeu".

Cockburn instou o Qatar a que "ajude esses trabalhadores migrantes a reconstruir as suas vidas e que demonstre que leva a sério a melhoria dos direitos dos trabalhadores".

Em resposta à AI, o Ministério do Trabalho do Qatar já reagiu e informou que a situação "não é tolerada pelo Estado do Qatar" e que "atualmente está a ser levado a cabo um procedimento judicial contra a Mercury MENA".

"Se bem que a Mercury MENA já não opere no Qatar, os assuntos legais continuam e realizaremos uma investigação completa. Abordaremos qualquer problema e violação existente e solucionaremos qualquer outro assunto", acrescenta.

No Qatar estão quase dois milhões de trabalhadores migrantes, o que representa aproximadamente 95 por cento da mão de obra daquele emirado árabe.

Cerca de 40 por cento (perto de 800 mil) trabalha no setor da construção e muitos em eventos relacionados com o Mundial2012.

Já denunciado por organizações internacionais, impera o sistema de 'kafala' (patrocínio), utilizado para manter debaixo de controlo os trabalhadores imigrantes. O sistema outorga ao empregador o papel de trabalhadores não qualificados, o que faz deles responsáveis pela situação legal no país.

Notícia atualizada às 17h58