De aparência frágil, leve como um “papel”. Assim era chamado o brasileiro Félix, o esteio da baliza da afamada melhor equipa de sempre: o Brasil do Campeonato do Mundo de 1970. O antigo guarda-redes, que faleceu em 2012 aos 74 anos, é o único aniversariante numa véspera de Natal a sagrar-se campeão mundial.

O título mundial foi o ponto alto de uma carreira que não parecia destinada a voos tão altos. Tudo começou na Juventus de São Paulo, até passar pela Portuguesa, Nacional de São Paulo e, novamente, na Portuguesa. Entre 1961 e 1968 fez mais de 300 jogos com a camisola do clube de origens lusas até que o trocou aos 30 anos pelo cotado Fluminense.

Foi já no Rio de Janeiro que a sua carreira levantou um voo ainda maior do que nas suas defesas. Cinco campeonatos cariocas, três Taças Guanabara e o Brasileirão de 1970 confirmaram o acerto da sua mudança de clube. Ao serviço do ‘Tricolor’ afirmou-se ainda na seleção brasileira, onde era pouco mais do que um “ocasional visitante”, e assume o lugar de titular na baliza, apesar de todas as críticas e da falta de consenso e apoio popular.

Com efeito, Félix era, para muitos, o elo mais fraco de uma equipa praticamente perfeita. Os nomes de Pelé, Jairzinho, Carlos Alberto, Tostão, Gerson ou Rivelino ofuscavam qualquer um e o guardião era o ‘patinho feio’. Dele se dizia – em tom jocoso - que podia sofrer facilmente três golos pois a equipa conseguiria sempre marcar quatro e vencer o jogo.

No entanto, o selecionador Mário Zagallo não hesitou em conceder-lhe a titularidade na prova mexicana. A campanha não poderia ser mais exemplar: seis jogos e outras tantas vitórias, tendo sofrido sete tentos ao longo da competição.

Embora nem o título mundial lhe valesse a unanimidade, o seu mérito foi reconhecido pelos colegas que com ele jogaram. A serenidade, experiência e elasticidade disfarçaram as crónicas falhas de posicionamento e de ‘timing’ a sair dos postes. E algumas vozes advogaram mesmo a sua importância por uma “defesa que valeu o título”.

Nas meias-finais com o Uruguai, o Brasil vencia por 2-1 a cinco minutos do fim. É então que Félix brilha ao negar o golo no cabeceamento de Cubilla, abrindo assim caminho para o golo da tranquilidade, da autoria de Rivelino, e para a final, na qual o ‘escrete’ bateu por 4-1 a rival Itália.

Félix era o guardião que estava no sítio certo e na equipa certa para ser feliz. E foi.