Findo o Campeonato do Mundo, não faltam números para analisar. Foram 171 golos marcados e mais de 3 milhões de espetadores nos estádios ao longo de todo o torneio. Mas para os adeptos brasileiros, há um número que se promete manter na ordem do dia: os quase 3 mil milhões de euros investidos em estádios.

Como destaca o Jornal de Negócios num artigo publicado esta segunda-feira, o valor é inédito. Nunca antes um único país gastou tanto dinheiro para organizar uma competição de futebol. Apenas a Coreia do Sul e o Japão, responsáveis pela organização conjunta do Mundial de 2002, investiram um valor superior (3,6 mil milhões de euros).

Mais ainda do que o valor bruto do investimento, o que mais preocupa os brasileiros é a utilização futura (ou falta dela) das infra-estruturas. O estádio mais caro do Mundial2014, o Mané Garrincha em Brasília, custou 537 milhões de euros, e dificilmente terá retorno a curto, médio ou longo prazo. O clube com maior reputação na capital é o Brasiliense, que disputa a série D (quarto escalão do futebol brasileiro).

A solução de recurso deverá passar pela organização de eventos e pelo agendamento de jogos internacionais, mas casos como a Arena Amazónia, que custou 243 milhões de euros, preocupam os economistas.

Em entrevista ao Jornal de Negócios, o economista brasileiro Marcos Mendes demonstrou a sua preocupação. “Os estádios de Brasília, Manaus e Cuiabá vão ser certamente elefantes brancos. Houve investimento desnecessário, e não foi só no número de estádios. Em São Paulo não era necessário um estádio novo. O Maracanã, no Rio, foi construído de novo depois de ter beneficiado de duas renovações recentes.”

Não faltam semelhanças com o caso do investimento português em 2004. A escala é naturalmente menor, mas na organização do Campeonato Europeu foram gastos cerca de 755 milhões de euros em 10 estádios. O caso do Estádio Magalhães Pessoa é talvez o mais premente, já que o país gastou investiu cerca de 90 milhões de euros num estádio que é ocupado pela União de Leiria, do Campeonato Nacional de Séniores.

Os próximos anos dirão qual o futuro das muitas infra-estruturas erguidas para o Mundial2014, mas não será fácil recuperar um investimento tão avultado. A Rússia vai enfrentar um problema semelhante em 2018, já que se prepara para bater novos recordes a nível de investimento público para organizar o próximo Mundial.