Os 15 golos em Campeonatos do Mundo dão ao brasileiro Ronaldo um estatuto único na história do futebol mundial que recordamos na rubrica "Um Oceano de Histórias". O ‘Fenómeno’ distribuiu a sua eficácia por três mundiais, com quatro golos em 1998, oito em 2002 e três em 2006. Na memória dos adeptos, porém, o grande Mundial de Ronaldo é o de 2002, no outro lado do globo, com a prova disputada entre a Coreia do Sul e o Japão.

Foi na Ásia que o ‘Fenómeno’ voltou a ser fenomenal, deixando para trás a controvérsia de 1998 e as graves lesões que chegaram a colocar em causa a sua carreira.

As cicatrizes da glória

O caminho de Ronaldo para o Campeonato do Mundo de 2002 foi longo, sinuoso e muito doloroso para o avançado brasileiro. Nas quatro épocas que se seguiram ao torneio de 1998, o internacional canarinho fez apenas 52 jogos e 25 golos pelo Inter. A praga de lesões e a traição do seu joelho direito, demasiadas vezes repetida em Itália, levou o jogador às lágrimas.

A dúvida estava instalada entre os adeptos: poderia Ronaldo voltar a ser o jogador que eles recordavam? Uma pergunta à qual nem o Fenómeno então saberia responder.

Em 2002, Ronaldo regressou de mais de um ano de paragem e conseguiu ganhar o ritmo necessário para merecer a confiança de Luiz Felipe Scolari, que o chamou para a ‘Copa’ e lhe devolveu o lugar de líder do ataque. Tal como fazia diante das balizas contrárias, Ronaldo não desaproveitou a oportunidade.

No primeiro jogo, o Brasil começou logo por estar em maus lençóis. A Turquia estava na frente do marcador, mas Ronaldo deu início à reviravolta na segunda parte, que lançou o mote para a primeira (2-1) das sete vitórias canarinhas nessa competição. O ‘Fenómeno’ era novamente decisivo no Brasil.

No segundo jogo da ‘canarinha’, o segundo golo, fechando a goleada à China em 4-0. Por fim, o ponta de lança encerrou a fase de grupos com um ‘bis’ na vitória sobre a Costa Rica, por 5-2. Em três jogos Ronaldo levava já quatro tentos, tantos quantos os que marcara no Mundial anterior. A cada jogo que passava Ronaldo parecia cada vez mais forte, renascido das cinzas das lesões que o atormentaram. 

O arranque da fase a eliminar não arrefeceu o instinto do número nove brasileiro. Ao golo nos oitavos de final à Bélgica (triunfo por 2-0) seguiu-se o único jogo em branco, diante da Inglaterra, nos quartos de final. Mas aí foram Rivaldo e Ronaldinho a vestirem o fato de heróis.

A passagem à meia-final marcou novo duelo com a Turquia… e nova vitória. Se é verdade que os registos históricos só recordam o seu golo solitário aos turcos, o que os adeptos não esquecem é o famoso “penteado Cascão”, com um pequeno arco de cabelo na parte da frente da cabeça a fazer as delícias da imprensa. Um penteado que foi também ele um “fenómeno”.

Com seis golos em outros tantos jogos, Ronaldo regressava a uma final do Campeonato do Mundo. Quatro anos antes havia sido uma presença demasiado ausente. Agora, era a vez de ser a estrela.

Perante a poderosa Alemanha, guardada pelo ‘gigante’ Oliver Kahn, Ronaldo fez os dois golos da vitória. O Brasil era pentacampeão do Mundo e Ronaldo, com oito golos, recuperava a sua condição de herói do povo brasileiro. Com as cicatrizes nos joelhos como companheiras, o Fenómeno voltara a ser… fenomenal.