Através da televisão ou na internet, isolados em casa ou em grupo, em bares, restaurantes e equipados com grandes écrans, milhões de chineses ficam acordados até de manhã para acompanhar o Mundial2014 de futebol.

É um fenómeno surpreendente num país que, mais uma vez, está ausente da competição, mas não ilustra apenas a crescente popularidade do futebol na China.

"Numerosos adeptos chineses passam noites sem dormir, desfrutando o calor e o doce sentimento de estar integrados no Mundo", escreve um jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) a propósito da "febre do Mundial" no país mais populoso do planeta.

De facto, nem sempre foi assim: a primeira vez que os chineses viram a final de um mundial de futebol foi em 1978, quando a televisão era um artigo de luxo e a China estava ainda a tentar sair de décadas de isolamento.

Devido à diferença horária entre o Brasil e a China, todos os jogos começam depois da meia-noite e alguns acabam cerca das 07:30, quando o sol já vai alto, mas isso não parece desmobilizar os mais entusiastas.

Num caso relatado pela televisão chinesa, o diretor de marketing de uma fábrica téxtil da província de Anhui, Li Quan, 27 anos, decidiu mesmo despedir-se do emprego: "Sinto que faltava qualquer coisa na minha vida. Até agora tem sido só trabalhar. Chegou a altura de parar e descontrair", escreveu aquele adepto no seu microblogue.

A avaliar pelas reações, Li Quan não se tornou propriamente um modelo. "Ele vai demitir-se de quatro em quatro anos?", questionou um internauta. "Deduzo que o homem seja solteiro e por isso pode fazer coisas `giras´", comentou outro.

Também já se registaram algumas "tragédias", como aconteceu durante o jogo Alemanha-Portugal: com o nervosismo, uma chinesa adepta da seleção germânica, grávida de dois meses, sofreu um aborto espontâneo e teve de ser conduzida de emergência ao hospital, relatou a imprensa local.

Até há cerca de duas décadas, o futebol na China era uma modalidade amadora e antes de o PCC adotar a política de "Reforma Económica e Abertura ao Exterior", em dezembro de 1978, o país não participava sequer nas atividades da FIFA.

A única vez que a China conseguiu qualificar-se para a fase final de um Mundial foi em 2002, na vizinha Coreia do Sul, mas perdeu os três jogos que disputou e não marcou um único golo.

Sem a sua seleção em prova, os adeptos chineses tendem a torcer pelos países que parecem mais fortes, nomeadamente a Alemanha e o Brasil.

Por coincidência, a China é também o maior parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos, e dentro da União Europeia, a Alemanha é o país com quem Pequim tem hoje mais intensas relações económicas.