A segunda parte da entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan trouxe mais críticas, com o português a acusar Erik ten Hag de o ter tratado de forma diferente face a outros colegas do Manchester United. O avançado explicou ainda o que o levou a deixar Old Trafford antes do final do jogo com o Tottenham, deixou elogios a Lionel Messi e apontou a idade com que pretende terminar a carreira.

Pré-época: "Tive problemas nas férias, a minha filha bebé um problema de saúde, bronquite. Estava em Maiorca e ela esteve uma semana no hospital. E toda a gente inventou histórias a dizer que eu não queria viajar. As pessoas têm de perceber que eu sou um ser humano, não há nada mais importante que a minha família, isso é inegociável. Passei por momentos difíceis, estava muito preocupado. Falei com os dirigentes do Man. United e eles não acreditaram em mim. Isso magoou-me, duvidaram da minha palavra. Não me apresentei para a pré-época porque não podia deixar a minha família. Não era justo fazê-lo. No mundo do futebol toda a gente é muito individualista e não se preocupam contigo, com o teu momento, com a tua família... Duvidaram do meu profissionalismo, mas como é que estás no topo durante 21 anos se não fores o mais profissional?"

As frases mais marcantes da primeira parte da entrevista de Cristiano Ronaldo
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Deixar o estádio na pré-época (jogo com o Rayo Vallecano): "Arrependo-me de o ter feito mas, ao mesmo tempo, senti-me provocado pelo treinador. Não sou jogador para jogar três minutos num jogo, sei o que posso dar à equipa. Só falam de mim, da ovelha negra. Saí eu e oito jogadores. Não sei porque só me citam a mim. Ok, percebo, está feito. Entendo, pedi desculpa ao treinador e o capítulo está encerrado."

Não entrou com o Manchester City, a perder. Ten Hag disse que foi por respeito: "Desculpas. Vi muitas coisas, mas não quero criticar. Pode ter uma opinião diferente, eu respeito, mas desculpas a toda a hora não fazem sentido. Não me coloca diante do City por respeito à minha carreira, mas quer meter-me a três minutos do final com o Tottenham. Acho que fez de propósito. Se me quiserem pôr a jogar cinco minutos porque alguém se lesionou tudo bem, mas não foi o caso. Senti-me provocado. Mas arrependo-me de ter deixado o relvado mais cedo frente ao Totttenham."

Suspensão após recusar-se a entrar: "Não vou estar muito mais tempo no Man. United, estou em fim de contrato, eu percebo isso. Mas gosto que sejam frontais e honestos. Os meus valores vão sempre estar intactos, isso não se negoceia. Fiquei muito desapontado com qualquer clube e suspenderam-me três dias. Em termos desportivos, senti-me humilhado. Lembro-me de estar em casa e o Cristianinho perguntar: ‘Pai, não vais jogar?’. E eu: ‘Não filho, o pai está castigado. Ele riu-se e disse: 'Como pode o melhor do mundo estar castigado?'. Fiquei muito desapontado'."

Manchester United: "Sinto que estão a tentar forçar a minha saída. Não devia dizer isto, mas não quero saber. Sinto-me traído. Há pessoas que não me querem aqui e não é só este ano, no ano passado também. "Os donos, os Glazer, não querem saber do clube. Quer dizer, profissionalmente, desportivamente. Como sabem, o Manchester United é um clube com marketing e eles ganham o seu dinheiro com o marketing. Na minha opinião, eles não querem saber do lado desportivo".

RTP pagou 50 mil euros pela transmissão da entrevista de Cristiano Ronaldo
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Ainda o Tottenham e Ten Hag: "Não me digam que jogadores que ganharam tudo, de topo, iam jogar três minutos. É inaceitável! Pedi desculpa aos meus colegas de equipa, fiz um comunicado no Instagram, arrependo-me disso, mas não me arrependo de ter recusado entrar. O treinador não teve respeito por mim e na imprensa ele continua a dizer que conta comigo, que gosta de mim, mas é só 'blablabla' para a imprensa."

Possível saída do Man. United: "Acham que desaprendi a marcar golos? Se calhar só não estou tão motivado como antes. A motivação não é a mesma de há alguns meses. Novo desafio? Não posso responder agora, mas talvez seja melhor para o Man. United e também para mim começar uma nova etapa, mas, se voltar, serei o mesmo Cristiano. Espero que, se isso acontecer, me deixem brilhar."

Proposta recusada do futebol árabe: "Sim, nesse momento recusei. Se fores um agente, o Jorge Mendes tem mais de 100 jogadores, sempre dizem que se ele for ao Chelsea ou outro clube que é por causa do Cristiano Ronaldo. Eles [imprensa] até me ofereceram ao Sporting, ao Nápoles. Vou ser honesto, não tive muitos clubes mas tive muitas ofertas de outros clubes. A imprensa pressionou a dizer que ninguém me queria, eu estava feliz e motivado para estar aqui. Mas eles continuam a dizer que ninguém me queria. Como é que isso é possível com um jogador que na última época marcou 32 golos, contando com a Seleção."

Lionel Messi: "Jogador incrível, mágico, de topo. Como pessoa... Partilhámos o topo durante 16 anos, tenho uma grande relação com ele. Não somos amigos, mas é como um colega de equipa. Respeito-o muito pela forma como fala sempre de mim. É argentino, a minha namorada também... É um grande rapaz, faz tudo pelo futebol. Provavelmente o melhor que vi, a par do Zidane. Jantar com ele? Porque não? Adoro conhecer pessoas, partilhar coisas, ideias, aprender, novos pensamentos... Vou fazê-lo, de certeza, daqui a alguns anos."

Fim da carreira: "Quero jogar mais dois, três anos no máximo, quero acabar com 40. Uma boa idade, mas não sei o futuro. Às vezes planeias uma coisa na tua vida, mas a vida é dinâmica e não sabes o que pode acontecer. Planos para o futuro? Talvez escrever um livro, ensinar as pessoas sobre como manter a longevidade... Quero melhorar o meu inglês e vejo-me, no fim da carreira, a dar conselhos a milhões de pessoas, como ser um profissional de futebol. Passei por muitas coisas e quero inspirar pessoas, ser um exemplo."