Eduardo Moreira, técnico e metodólogo de treino nos franceses do Créteil-Lusitanos antecipou em declarações ao SAPO Desporto o dérbi do próximo domingo entre Sporting e Benfica no estádio José Alvalade. Em caso de vitória, os encarnados podem dar uma 'machadada' na luta pelo título. Os leões ainda lutam por objetivos já que ainda têm a 'Champions' na mira.

SAPO Desporto: Qual a estratégia para o clássico, espera um Sporting mais na expetativa ou a tomar a iniciativa logo desde início do encontro?

Eduardo Moreira: "É um dérbi e os dérbis são sempre jogos especiais ainda para mais este que tem muitas decisões que podem sair desde jogo. O Benfica precisa de vencer para carimbar o título [caso o FC Porto não perca com o Famalicão] e o Sporting ainda luta pelo acesso à Liga dos Campeões e quer a vitória. Em relação à equipa que pode fazer mais pelo jogo em termos estratégicos é claramente o Benfica, para tentar resolver já a sua situação.

Não acredito que o Sporting entre para o jogo numa estratégia mais defensiva até porque precisa dos pontos, são jogos especiais e ninguém os quer perder. Acredito que a abordagem do Sporting sejam uma abordagem séria, forte para poder controlar o jogo. Se os leões tiverem uma entrada forte terão mais tempo para gerir o jogo do que propriamente o Benfica, já que o tempo corre mais a favor do Sporting. Teremos um grande jogo, um jogo especial e espero que bem jogado e que seja um bom espectáculo.

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Momento de fair-play entre Nuno Santos e Gonçalo Ramos @LUSA créditos: © 2023 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

SD: A nível tático onde é que pode estar a chave deste encontro?

E.M: Conhece-se muito bem a forma de jogar de Benfica e Sporting e ambas as equipas se conhecem muito bem, não creio que haja alguma surpresa. Este tipo de jogos têm uma dimensão mais individual, uma vez que cada jogador se transcende e depois pode entrar numa dimensão mais coletiva e mais estratégica. Ambos têm argumentos para se poderem superiorizar ao longo do jogo. O Benfica em termos individuais e coletivos luta por algo que pode fazer com que os jogadores se transcendam muito mais, já que estamos a falar de um título. O Sporting obviamente que tem os seus argumentos, tem mais valias individuais que podem claramente fazer a diferença no jogo. O jogo será decidido nos detalhes porque o equilíbrio é grande e a motivação de ambos também é grande.

SD: Com vai estar este Benfica a nível psicológico, confirmada que está a saída de Grimaldo e a pressão da equipa ter eventualmente que vencer em Alvalade para se sagrar campeã nacional?

E.M: É normal que tanto nos plantéis do Sporting e Benfica haja sempre 'muito barulho' externo, mas isso dificilmente afeta o desempenho dos jogadores nos jogos porque este jogo é muito especial. Este jogo toda a gente o quer jogar, mesmo os jogadores que têm possibilidade de sair querem fazer um excelente jogo para confirmarem essa possibilidade. Os que estão na dúvida se ficam ou saem querem fazer um grande jogo para afirmarem o seu estatuto e depois temos os objetivos coletivos. Todos os jogadores, quer saiam, quer fiquem querem conquistar títulos.

Todos querem conquistar o acesso à Liga dos Campeões no caso do Sporting. Todos esses objetivos, todas essas situações que acontecem fora e temos dois treinadores que já demonstraram grande capacidade não só no plano técnico-tático como também na coordenação de homens e por isso têm condições para fazer com que as equipas estejam focadas naquilo que são os seus objetivos que passam pela vitória. Certamente os dois só terão na cabeça a vitória no dérbi.

SD: João Neves tem aparecido em bom plano nesta equipa do Benfica, numa posição que tem conhecido alguma rotatividade desde que Roger Schmidt assumiu o comando técnico dos encarnados.

E.M: Eu vejo com bons olhos o aparecimento dele, sempre que é possível observar um jovem com talento, não interessa se é jovem, o que interessa é se tem talento e condições para conseguir aguentar o peso e a responsabilidade de representar um clube como o Sporting, Benfica ou FC Porto. Tendo talento, sou sempre a favor. Felizmente temos assistido ao lançamento de alguns jovens que se têm afirmado e vejo sempre com bons olhos.

As épocas são maratonas, os jogadores passam por momentos bons e maus psicologicamente, e é bom haver sangue novo com qualidade e com talento porque trazem coisas novas e diferentes ao jogo e não são tão conhecidos por parte dos adversários o que pode trazer vantagens a nível estratégico porque acrescentam algo que não é tão conhecido e são jovens com alguma irresponsabilidade. E eu como treinador também gosto um pouco disso, dessa irreverência e dessa irresponsabilidade tática. E é o futuro e olharmos para o futuro é sempre bom.

SD: Ao que tudo indica Chermiti recuperou e vai juntar-se a Paulinho como mais uma opção para o ataque. Quando se lesionou, a equipa claramente ressentiu-se da ausência de Paulinho que é certo que não marca muito golos, mas é um jogador muito importante na manobra da equipa.

E.M: Já defrontei o Paulinho de jogar contra ele e não como treinador dele, mas já o conheço há vários anos e sem dúvidas nenhuma quer pelos movimentos que faz sem bola é um jogador extremamente completo que como todos os avançados passa por momentos de maior ou menor confiança em termos de finalização mas trabalha muito para o coletivo. Curiosamente nos momentos em que o Paulinho não está tão bem, são os momentos em que alguns colegas de setores crescem e isso também é devido a dele, não só ao mérito dos colegas. E uma equipa também funciona desta maneira. Compreendo que as pessoas queiram ver o ‘matador’, o número 9, o jogador que faz os golos, mas as equipas não funcionam sempre assim, mas ele é extremamente completo por causa disso. Quando está bem a equipa apoia-se nele. Mas quando não está bem dá na mesma mesma [o seu contributo à equipa].

SD: Qual a razão para este Benfica de Roger Schmidt não se ter conseguido impor com clareza, até ao momento, em jogos de maior nomeada contra os seus principais adversários a nível interno?

E.M: São jogos sempre diferentes. Pode ser uma questão estratégica que possa não ter funcionado em alguns jogos, também é o primeiro ano do treinador em Portugal e perceber tudo o que envolve e rodeia esse tipo de jogos também é diferente. O plantel do Benfica também teve algumas oscilações e nos tais pormenores pode influenciar, por isso é que eu falo de uma maratona. O que interessa é chegar ao fim ainda com condições para se disputarem este tipo de jogos para conquistar os títulos. É neste sentido que as equipas funcionam.

Ainda temos um Sporting com legítimas possibilidades de atingir o pódio, com o SC Braga [mais bem posicionado] e com Benfica e FC Porto a disputarem o título. Esta é uma época atípica porque houve um Mundial, e cada uma das equipas utilizou diferentes estratégias para suportar esta maratona, aqui e ali tiveram alguns acidentes, porque envolveu toda uma preparação no plano físico e mental e falamos dos próprios jogadores a terem que se adaptar a este contexto. Mas as oscilações têm sido sempre mínimas.