O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, admitiu hoje nunca ter imaginado que a retoma do desporto tardasse tanto, na sequência das restrições impostas pela pandemia de covid-19.

Um ano depois de o desporto nacional ter sido suspenso, em 12 de março de 2020, antes do adiamento de Jogos Olímpicos Tóquio2020, Euro2020 e Copa América, entre centenas de outras competições em todo o mundo, José Manuel Constantino reconheceu que a atual situação do desporto era impensável.

“Não… pensava que, chegados ao verão, as coisas começariam a retomar alguma normalidade. Nunca imaginei que o processo de retoma fosse tão prolongado e os efeitos tão severos”, admitiu, ao ser questionado pela agência Lusa.

"Tardou a instalar-se um clima de diálogo"

Durante o último ano, o dirigente olímpico tem acentuado as críticas ao esquecimento a que o Governo votou o setor, nomeadamente devido à escassez dos apoios à retoma e à ausência no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), assinalando também algumas falhas no processo de reinício em contexto pandémico de muitas modalidades.

“Creio que houve um momento em que seria possível ter critérios técnicos mais apurados e menos restritivos, caso as normas oriundas da Direção-Geral da Saúde (DGS) fossem articuladas com as federações desportivas e a decisão estivesse suportada por conhecimento técnico sobre as especificidades de muitas disciplinas desportivas”, recordou.

Para Constantino, “tardou a instalar-se um clima de diálogo e confiança entre as autoridades de saúde e as desportivas, prevalecendo nas primeiras uma cultura de suposta superioridade intelectual no que respeita às condições de segurança sanitária no contexto desportivo”.

Com quase dois terços da atividade desportiva interrompida, os custos são ainda incalculáveis.

“Sobre o impacto financeiro, estamos a trabalhar nesse sentido e, sobre o impacto desportivo, vamos precisar de mais tempo para avaliar as consequências de ter parado há um ano cerca de 70% da atividade desportiva nacional. Os efeitos que tudo isso vai ter no sistema desportivo nacional carecem de mais algum tempo, para se avaliar o que desta paragem é recuperável e o que pura e simplesmente se perdeu. Só a retoma vai permitir perceber o sentido desta paragem”, explicou.

A quatro meses dos Jogos Olímpicos, o presidente do COP anteviu que o evento seja “atípico”, mas simbólico.

“Tudo leva a crer que os Jogos Olímpicos se realizarão, mas em condições que prevejo bem longe daquilo que são o habitual. Carregados de exames e avaliações permanentes, com inúmeras restrições à mobilidade, com uma Aldeia Olímpica bem longe daquilo que conhecemos e, à data, sem sabermos se há ou não público nas competições. Serão sempre uns Jogos atípicos, mas que corresponderão, assim o espero, a um sinal de esperança num futuro mais seguro e promissor”, rematou, sobre Tóquio2020, agendado de 23 de julho a 08 de agosto.