Rita, Dina e Tiago sentem que trabalhar nos Jogos Olímpicos de Londres, fora das competições, sem salário e abdicando das férias pessoais, é mesmo uma «oportunidade única».

«É sentir que se está no sítio certo à hora certa», resume Rita Carvalho, editora de uma publicação científica e a residir na capital britânica há cinco anos.

Esta lisboeta de 37 anos vai abdicar dos habituais dias descansados de praia em Portugal e arrisca-se a passar um verão britânico cinzento e chuvoso a correr entre casa, o emprego, o parque olímpico, o aeroporto e onde mais os atletas portugueses necessitarem de ir. Mas vai fazê-lo, explicou à agência Lusa, porque quer «conhecer outras culturas, interagir com pessoas de todo o mundo» e porque tem «um pouco de curiosidade também de ver como é que se organiza algo desta envergadura».

Rita é uma das sete voluntárias escolhidas para dar assistência à delegação nacional durante os preparativos e até ao final das competições. Das quatro semanas que vai estar em funções, adiantou, duas trabalhará em tempo parcial e para as duas semanas dos Jogos tirou férias, sobrando apenas alguns dias para o Natal.

Mas conta o caso de uma outra voluntária cujo empregador não facilitou e que preferiu despedir-se para poder estar nos Olímpicos.

Já Dina da Silva, de 48 anos, não teve o mesmo dilema porque esta é uma época de férias na escola onde é professora, em Stockport, perto de Manchester, no norte de Inglaterra. Tal como Rita, quando se candidatou, em 2010, não sabia que funções iria desempenhar, que podiam ser desde assistência aos espetadores como funções administrativas junto da organização.

Por razões pessoais, ficou feliz por ter sido atribuída à delegação portuguesa pois, de certa forma, sente estar a homenagear o pai, que morreu de leucemia em abril.

«Trabalhar com a equipa portuguesa é muito importante para mim. Eu nasci em Inglaterra, mas tenho imenso orgulho de ter raízes portuguesas», disse à Lusa.

Durante as próximas semanas vai ficar em casa de familiares, mais perto de Londres, deixando para trás o marido e os dois filhos, de 20 e 22 anos. Porém, confessa que o mais difícil é deixar a mãe, que sente muito a falta do pai, após 49 anos de casamento.

As saudades da família são outro elo comum com Rita e com Tiago Brandão Henriques, investigador de 35 anos que foi escolhido para assessor de imprensa da delegação olímpica portuguesa.

«Eles estão contentes e comungam comigo a excitação», confiou Tiago à Lusa, a propósito de também ter de abdicar de férias este ano.

Enquanto Rita e Dina seguiram um processo de recrutamento nacional, que selecionou cerca de 70 mil dos 250 mil candidatos, Tiago foi entrevistado diretamente pelos responsáveis portugueses, após um apelo da embaixada de Portugal no Reino Unido.

Tiago, de 35 anos e natural de Paredes de Coura, acredita que foi escolhido devido ao perfil de antigo desportista amador, vivência no estrangeiro com passagens pelos Estados Unidos e Espanha, e gosto pela participação cívica.

No currículo tem ainda a participação como voluntário na Expo98 em Lisboa, uma experiência que compara à dos Olímpicos e à corrida de uma maratona. «Há uma excitação inicial e pelo meio muitas dificuldades», adverte. Mas a principal preocupação, garante, é cortar a meta com o sentimento de dever cumprido e um «sorriso por chegar ao final».