O ex-comandante das forças pacíficas das Favelas do Rio de Janeiro, Fernando Montenegro, garantiu hoje que haverá segurança máxima nos Jogos Olímpicos de 2016, apesar de aconselhar o cancelamento dos mesmos.

O agora consultor de segurança, que falava durante uma conferência que decorreu na Universidade Autónoma de Lisboa, traçou um cenário negro à realidade que se vive não só no Rio de Janeiro, como pelo Brasil inteiro.

"Não tenho interesse em falar mal do Brasil. Mas a realidade mostra que não é um país normal. Há quatro mil homicídios por ano no Rio de Janeiro. Portugal tem sensivelmente o mesmo número de habitantes [11 milhões] e tem 140 homicídios. O Brasil tem 21 das 50 cidades mais violentas do mundo. Aliado a isso, Dilma Roussef aboliu a necessidade de vistos para entrar no país durante o período da competição, o que impossibilita qualquer controlo", afirmou.

Fernando Montenegro não tem dúvidas. A realização dos Jogos Olímpicos só acontece por motivos políticos e relembra que para além da questão da segurança há graves problemas com as obras públicas e com a saúde.

"Há 50 mil casos de dengue, não foram realizadas obras de despoluição de lagoas. Foi encontrada uma bactéria multirresistente que continua ativa. As obras públicas foram mal feitas. Houve a queda da ciclovia, mas a construção e alargamento do metro no Rio de Janeiro não foi testada. Vai circular mesmo assim", alertou.

Tirada esta 'fotografia' ao país e à cidade onde se realizam os Jogos Olímpicos, Fernando Montenegro garante que todas as forças de segurança, que terão cerca de 40 mil elementos durante o evento (a que se somam 60 mil unidades de segurança privada), estão empenhadas em que tudo corra dentro da normalidade.

"Foi adquirido equipamento de última geração, como por exemplo 'software' que analisa as imagens de vídeo vigilância e que deteta movimentos suspeitos dando o alerta às forças de vigilância ou equipamento eletrónico que bloqueia os sinais dos comandos de 'drones'. Há um edifício no Rio destinado às forças de seguranças de todos os países, onde haverá partilha de informação e que tem como objetivo alimentar as centrais de inteligência", revelou.

Este responsável adianta que o mais difícil é atuar no campo da prevenção. Por isso foram criadas rotas específicas para as comitivas internacionais, patrulhamento e autorização de navegação no espaço aéreo e marítimo policiamento de proximidade. Mas apenas no perímetro onde haverá competição.

"Há zonas de Rio de Janeiro em que se circula completamente à vontade e onde o crime irá acontecer mais facilmente. Aliás, a própria geografia da cidade dificulta a intervenção das forças de segurança. Tem muitas montanhas. Para esta competição terá de haver uma boa articulação entre das forças de defesa, de segurança pública e inteligência", concluiu.

Os Jogos Olímpicos de 2016 decorrem de 05 a 21 de julho e contarão com a participação de sensivelmente 18 mil atletas, aos quais se somam ainda os juízes e treinadores das modalidades. Manaus, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo serão o 'berço' que acolhe o futebol.