José Manuel Constantino considera a delegação portuguesa aos Jogos Olímpicos Rio2016 mais homogénea e representativa do desporto nacional, mas quer aguardar para inferir se o salto qualitativo é fruto de um crescimento sustentado.

“Considero que é mais homogénea, considero que é mais alargada, porque tem mais modalidades – passámos de 13 para 16 -, considero que representa melhor o desporto nacional”, definiu o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) ao referir-se à delegação de 92 atletas, a terceira maior de sempre, que vai representar Portugal entre 05 e 21 de agosto, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

No entanto, o dirigente olímpico defendeu que será preciso esperar mais algum tempo para ver se o crescimento da delegação em termos quantitativos e qualitativos está assente em resultados sustentados ou se é fruto de resultados esporádicos.

“Não é aconselhável fazer essas avaliações em tão curto espaço de tempo. O que é certo é que esta delegação revela uma consistência de resultados desportivos, porventura, ligeiramente superior ao que tem sido a média das últimas representações. Vamos ter agora de aguardar para perceber se este indicador se confirma em termos de resultados nos Jogos e se se confirma em termos de continuidade na avaliação que é feita à participação nacional em provas internacionais”, sublinhou.

José Manuel Constantino recordou que a instituição a que preside tem assinalado, repetidamente, que o problema do desenvolvimento desportivo nacional tem a montante uma questão de natureza cultural que se prende com o entendimento que os portugueses e as suas elites políticas têm quanto ao papel que o desporto deve assumir na sociedade portuguesa.

“Chamo a atenção para que as mudanças de governo não se traduzem em alterações políticas qualitativas. Há uma certa constância nos modos de intervenção, nos programas, o que me leva a reforçar esta ideia de que o problema do desporto nacional, mais do que as infraestruturas, meios de financiamento, centros de preparação desportiva, tem a ver com uma questão de natureza cultural, que resulta, em termos gerais, da sociedade portuguesa não dar a importância que outras sociedades dão e que permite um desenvolvimento mais sustentado e mais consistente”, sustentou.

Questionado sobre se a sociedade portuguesa está demasiadamente concentrada no futebol, o presidente do COP contrapôs, argumentando que esta está pouco centrada no desporto em si.

“A desvalorização que tem sido feita ao longo dos anos nestas matérias só acontece porque a sociedade portuguesa não se inquieta relativamente à desvalorização que esta área tem no âmbito da formação das crianças e dos jovens”, disse, lembrando o permanente esquecimento a que o desporto está votado.

Constantino indicou que há “todo um conjunto de ausências sistemáticas da representação institucional do desporto”, quando o desporto tem em relação a áreas como a saúde ou a formação dos jovens “um papel muito significativo, que tem peso e que pode ajudar a sociedade portuguesa no seu todo a ser mais desenvolvida”.

“O desporto tem muito a dar à sociedade e a sociedade tem muito a dar ao desporto e é este desencontro que não permite tirar e aproveitar todas as potencialidades que a prática desportiva poderia dar”, concluiu.

Sobre a eventual importância que o recente reconhecimento público por parte do Presidente da República aos feitos desportivos nacionais possa ter numa mudança de mentalidade em relação ao desporto, o dirigente olímpico referiu que resta esperar para ver se Marcelo Rebelo de Sousa é “uma pessoa que está atenta ao desporto e não apenas aos êxitos desportivos”.

“É importante que o Presidente da República e outras instâncias do estado reconheçam o mérito desportivo dos nossos atletas, mas o desporto é muito mais do que isso, está para além disso. O que eu espero do Presidente da República, como desejo que isso ocorra também com outros responsáveis do Estado, é que haja uma atenção acrescida aos problemas da prática desportiva, particularmente das crianças e dos jovens”, manifestou.