Começou no futebol, como lateral direita, mas foi na corrida que Magda Moreira conquistou mais de três dezenas de medalhas que soma atualmente. Natural de Calheta São Miguel, Magda tem no currículo várias participações em provas nacionais e internacionais. Este ano, concluiu o liceu e está a tentar apurar-se para os Jogos Olímpicos da Juventude.

Até aos 12 anos jogava futebol, mas depois de participar, em 2013, numa corrida municipal promovida pela edilidade de Calheta São Miguel (ilha de Santiago), onde conquistou o segundo lugar, Magda Moreira começou a interessar-se pelo atletismo. “Não treinava atletismo, mas depois da corrida vi que tinha potencial. Comecei a ir aos treinos, a correr e a participar em provas”.

Em janeiro de 2014, ainda com 12 anos, participou na Corrida da Liberdade, na cidade da Praia, e fez o percurso na categoria sénior. Conta que chegou em 7.º, mas o seu resultado não foi reconhecido. “Infelizmente, não reconheceram a minha chegada à meta”.

Sibylle Schellmann, presidente da JAK, associação desportiva que a representa atualmente, corrobora a história e lamenta: “Disseram que ela não poderia participar como sénior, por ter menos de 16 anos, então, não deveriam deixar que ela participasse (nessa categoria) desde o início. Ela consegue chegar muito antes de vários atletas ‘veteranos’ e depois não reconhecem a sua chegada? Não é correto”.

A adolescente ficou triste, mas focou-se noutras provas: participou no Campeonato Regional de Santiago e depois de participar no Campeonato Nacional de Atletismo (2014), na ilha do Sal, recebeu a notícia de que iria participar nos Jogos da CPLP 2014, em Angola, que acabaria por ser a sua primeira e única participação nesse evento.

Aos poucos o gosto pela corrida começou a aumentar, recorda.

Desde 2015, que passou a integrar as fileiras da JAK, Jovens Atletas de Kadjeta (Calheta São Miguel).

Lesão

Em 2016, depois de terminar uma sessão de treino e de não ter feito os alongamentos como deve ser, segundo confessa, contraiu uma lesão na virilha. “Fiquei parada quatro meses . Fiz tratamento e fisioterapia”. A lesão foi determinante para que passasse a encarar os treinos com maior seriedade.

Entretanto, ficou impedida de participar nos Jogos da CPLP 2016 que, ainda por cima, nessa edição tiveram lugar na ilha do Sal. Já este ano, 2018, a prova acontece em São Tomé e Príncipe, em julho próximo, mas Magda não vai poder participar por ser maior de 16.

Porque nem tudo correu mal, antes pelo contrário, depois da recuperação, Magda conseguiu integrar em maio de 2017, a comitiva cabo-verdiana nos Jogos das Ilhas, em Martinica, onde conseguiu subir ao pódio.

“Já tinha mais experiência e estava mais forte”, afirma a atleta quando compara a sua preparação física em relação aos Jogos da CPLP de 2014 e assegura que a equipa nacional de atletismo teve uma boa prestação nos Jogos das Ilhas. No caso de Magda, ficou em segundo lugar nos 1500 m e em terceiro nos três mil metros.

“Em Cabo Verde, temos menos condições de treino, por exemplo, mas mesmo assim temos de continuar. Quem sabe um dia conseguimos chegar lá”.

Desde então, tem somado várias provas, sendo a maioria nacional, e conquistas - mais de 35 medalhas.

Jogos Olímpicos da Juventude

Este ano, depois de ter ficado em primeiro lugar na prova júnior (de 5 km) na Corrida Odjo d’Água, organizada pela Federação Cabo-verdiana de Atletismo em março, a atleta voltou ao Sal para participar na primeira edição do Campeonato Nacional de Pista de Clubes e conquistou o primeiro lugar duas vezes: na prova de 1500 m e de dois mil metros.

Desde o verão de 2017, Madga conseguiu uma bolsa de um ano do Comité Olímpico de Cabo Verde para a apoiar na sua preparação para os Jogos Olímpicos de Verão da Juventude de 2018 que acontecem de 6 a 18 de outubro na Argentina.

Antes ainda disso ainda a espera um campeonato no Gana e vai participar nos Jogos Africanos na Argélia, onde vai tentar atingir os mínimos necessários para os Jogos Olímpicos da Juventude.

Treinar para vencer

Os resultados que conseguiu até hoje exigiram empenho e dedicação. No que diz respeito à alimentação diz que come de tudo, compensa com os treinos intensivos de segunda a sábado ou, pelo menos, quatro vezes por semana.

Conciliar os treinos com os estudos — Magda é finalista da Escola Secundária de Calheta São Miguel este ano e fez a sua última prova no dia 25 de maio — era mais simples quando tinha aulas à tarde. Com as aulas no período de manhã, por vezes, tem de pedir dispensa ao professor de Educação Física para poder ir fazer os treinos.

Aluna da área de CT ( Científico-Tecnológica), Magda ainda não se candidatou para o ensino superior, mas diz que quer fazer a sua formação superior numa área ligada ao desporto, como, por exemplo, a Fisioterapia.

A família sempre a apoiou nesta ‘caminhada atlética’. A mãe, sempre que possível, vai às suas competições e os quatro irmãos, principalmente o mais novo, são também os seus grandes apoiantes.

E nesta família a genética parece puxar para o desporto. A irmã mais velha está na Suíça, onde joga futebol, a do meio, Mayra, também é atleta como a Magda, a irmã de seis anos gosta igualmente de correr.

Já o mais novo, com apenas quatro anos, pede para ir treinar com a Magda. “Quando regresso a casa com um prémio monetário, ele diz: ‘Quero correr para ganhar dinheiro como tu’”.

Apesar de a apoiarem, os amigos do liceu reclamam bastante de que nunca participa nos convívios por estar sempre a treinar. “Quando eles organizam alguma atividade, tenho muitas vezes de recusar porque nesses dias tenho corridas ou treinos. Eles gozam comigo e dizem “Tu só queres correr””.

Inicialmente, sentia-se bastante ansiosa antes de começar uma prova. “Antes ficava com muito medo. Hoje já conheço os adversários, conheço a mim mesma (…) Um dia, fugi de uma corrida. Tinha 13 anos (risos)”.

Sibylle Schellmann recorda também com um sorriso que “a fuga” aconteceu uma corrida no Sal e a menina só se queixava de dores de cabeça e que “acabou por não participar”.

Se tivesse de dar um conselho a outros jovens atletas deixa alguns: cumprir com as regras e ouvir o que treinador ( e deixa elogios ao seu - Floriberto Costa) diz, sempre. “Ter humildade. Numa corrida é normal tanto vencer como perder. Se queres ganhar, tens de treinar e não ficar sentado em casa”.

‘Não é só o dom que conta é também o trabalho’

Desde 2015, Magda integra as fileiras da JAK, uma associação desportiva de Calheta S. Miguel, fundada em 2012 e liderada por Sibylle Schellmann.

Conheceram-se durante o campeonato nacional no Sal em 2014, mas, na altura, Magda representava outra associação e foi só depois de cumprir até ao fim esse contrato que a jovem passou a representar a JAK.

A associação conta com dezenas de crianças, da Calheta de São Miguel, divididas em três grupos: os mais novos ( de 6 a 9 anos) que treinam uma vez por semana; um grupo com idades entre os 9 e os 12 anos e ainda um grupo de atletas maiores de 13 anos.

“Temos atletas com bom potencial”, afirma Sibylle e acrescenta: “A Magda acaba por ser um exemplo para os outros que veem que quando uma pessoa treina à séria e com garra, quando dá tudo para chegar ao topo, consegue o que quer. Os outros também podem conseguir. Não é só o dom que conta é também o trabalho”.