A coordenadora técnica da equipa portuguesa de boccia disse este sábado que, em Portugal, a modalidade «não pode continuar a viver só do voluntarismo» e admitiu que os resultados nos Jogos Paralímpicos Londres2012 foram os que temia.

Portugal, que nas anteriores edições arrecadou 22 medalhas paralímpicas no boccia, sai de Londres com duas medalhas - prata e bronze -, menos três do que as conseguidas em Pequim2008.

«Nós estávamos habituados a ter muitas medalhas, mas não temos condições de trabalho como têm os outros países», disse Helena Bastos, acrescentando: Estes não foram os resultados que queria, foram os que temia».

A técnica considerou que o decréscimo no número de medalhas conquistadas é «também uma lição» a admitiu: «provavelmente temos de aprender alguma coisa e às tantas organizarmo-nos de uma maneira».

Helena Bastos, que elogiou o «empenho de todos os atletas portugueses», lembrou a evolução que a modalidade tem tido, sobretudo nos países asiáticos e considerou que os atletas portugueses fazem muito com as condições que têm.

«Muito fazemos nós com as condições que temos e com o voluntarismo que fazemos para estar aqui e para fazermos o melhor que podemos», disse.

Numa comparação com outros adversários, Helena Bastos lembrou que, antes do Jogos, «houve países que tiveram os jogadores mais de um ano» a viver em centros de treino.

«Nós treinamos dentro do possível, alguns fazem treinos bidiários, mas outros não conseguem», porque os acompanhantes têm de trabalhar fora, afirmou.

«Tenho jogadores que realmente treinam diariamente e duas vezes por dia, mas tenho outros que treinam uma ou duas horas por dia», afirmou, admitindo que muitas vezes tem dificuldades em marcar os estágios devido «aos empregos de cada um».

Segundo a técnica, enquanto o nível competitivo não foi tão elevado «o voluntarismo fazia com que Portugal tivesse bons resultados», mas agora começa a não chegar, até porque «os asiáticos subiram muito, nos Jogos de Pequim e também aqui em Londres».

Helena Bastos considerou essencial apostar na formação de novos jogadores, porque, ao contrário do que sucedia há uns anos, «as crianças com deficiência, e muito bem, estão integradas nas escolas».

Antes, explicou, «as pessoas com deficiência focavam-se no jogo, agora têm outros interesses como as novas tecnologias».

Helena Bastos considerou, por isso, que «enquanto o desporto escolar não investir no desporto escolar adaptado, vai ser difícil encontrar novos atletas», referindo, no entanto, que muitos dos atuais ainda têm margem de progressão.

No boccia, modalidade na qual Portugal soma várias medalhas paralímpicas, os atletas são divididos em quatro classes, que são designadas pelas letras BC seguidas de números.

As classes um e dois são destinadas a atletas que jogam com a mão ou com o pé, a três agrupa os atletas que jogam com calhas, e a quatro os praticantes que sofrem de doenças neuromusculares.