Nelson Oliveira (Lampre-Merida) não conseguiu repetir hoje o idílio dos ciclistas portugueses em Gap, acabando por ver o seu colega espanhol Ruben Plaza vencer a 16.ª etapa da Volta a França.

Gap é, por sina, um destino português – Sérgio Paulinho ganhou aí em 2010, Rui Costa três anos depois – e, por isso, hoje, na numerosa fuga do dia lá estava Nelson Oliveira que, depois do abandono do seu líder na Lampre-Merida, esperava o momento oportuno para se fazer notar neste Tour.

O bicampeão nacional de contrarrelógio saltou do pelotão logo aos cinco quilómetros dos 201 entre Bourg-de-Péage e Gap, na companhia de nomes incontornáveis nestas aventuras, como Peter Sagan (Tinkoff-Saxo), Thomas De Gendt (Lotto Soudal), Bob Jungels (Trek) ou Pierrick Fedrigo (Bretagne Séché-Environment).

Aos 12 fugitivos iniciais juntaram-se, 100 quilómetros depois, outros 11, entre os quais estavam outros ‘habitués’, como Thomas Voeckler (Europcar), Michel Golas e Matteo Trentin (Etixx-Quickstep) ou Daniel Teklehaimanot (MTN-Qhubeka), o primeiro africano a vestir a camisola da montanha na prova.

Os 23 encontraram o equilíbrio perfeito e fizeram ampliar a vantagem até a uns ‘escandalosos’ 20 minutos, registados a pouco mais de dez quilómetros de Gap, quando Ruben Plaza, companheiro de Oliveira na Lampre-Merida, já seguia confortavelmente isolado na frente – com o companheiro na frente, o jovem de Anadia abdicou da perseguição.

Mas Sagan, sempre inconformado com o seu estatuto de eterno segundo – tem cinco desde o arranque da 102.ª edição, 16 desde a sua estreia -, desceu a toda a velocidade rumo a Gap, arriscando, inclusive, cair, numa tentativa desesperada de alcançar o espanhol, que cruzou isolado a meta, depois de pedalar 04:30.10 horas.

“Foi muito difícil chegar ao final da etapa, para conseguir a vitória. Senti-me muito bem na fuga, trabalhámos todos juntos. Esta era uma etapa que eu sabia que me interessava”, disse o veterano espanhol, de 25 anos, que correu em Portugal no Benfica (2008) e na Liberty Seguros (2009), foi campeão de contrarrelógio em duas ocasiões (2003 e 2009) e não conseguia qualquer triunfo há dois anos.

Sagan, que cruzou a meta 30 segundos depois, a bater com o punho cerrado no peito, pode alegrar-se, nem que seja brevemente, porque hoje fez história no Tour: é o primeiro ciclista desde Sean Kelly, em 1985, a terminar dez vezes entre o ‘top 5’ nas 16 tiradas disputadas.

Enquanto os fugitivos iam chegando a conta-gotas – Oliveira foi 20.º, a 04.14 minutos -, no grupo de favoritos, que ainda subiam ao Col de Manse, a contagem de segunda categoria situada a 12 quilómetros de Gap, os ataques à amarela de Chris Froome (Sky) sucediam-se, sendo Vincenzo Nibali (Astana) o mais bem-sucedido.

O vencedor do ano passado fez jus à sua condição de exímio descedor para se destacar na técnica e perigosa descida até Gap, conquistando 38 segundos aos restantes favoritos, que cortaram a linha a 18.12 minutos. Todos menos Geraint Thomas (Sky), que foi abalroado por Warren Barguil (Giant-Alpecin) e saiu em frente numa curva, indo embater com a cabeça num poste.

Mas o susto não passou disso mesmo, com o sexto classificado a perder apenas 38 segundos, mantendo-se na corrida ao pódio, que no segundo dia de descanso será ocupado por Froome, Nairo Quintana, o colombiano da Movistar que está a 03.10 minutos da amarela, e Tejay Van Garderen, o norte-americano da BMC, que é terceiro a 03.32.

A 102.ª Volta a França em bicicleta regressa à estrada na quarta-feira para Digne-les-Bains e Pra Loup, no total de 161 quilómetros.