O investigador Marcus Melo Gomes afirmou hoje à Lusa que a polícia brasileira reprime a criminalidade e não a previne, podendo não estar preparada para gerir situações de conflito durante o Mundial de Futebol, em junho.

“A polícia brasileira atua segundo um modelo reativo-repressivo da criminalidade, não aplicando instrumentos de prevenção. Recorre sempre à força e age após o conflito estar instalado e isso não só não previne a delinquência como, em alguns casos, a agrava”, disse o professor da Universidade Federal do Pará, no Brasil.

Segundo o docente, a repressão por parte das autoridades brasileiras cria uma relação de desconfiança entre a comunidade e a polícia e vice-versa.

“Esta suspeita não promove segurança pública porque o cidadão desconfia que o agente policial abuse da autoridade, seja corrupto ou não esteja apto para resolver o conflito, não cumprindo as suas ordens”, explicou à margem do I Fórum Internacional de Criminologia de Língua Portuguesa, na Faculdade de Direito da Universidade do Porto.

Por outro lado, acrescentou, a polícia, aquando da ação, parte do pressuposto que a pessoa é suspeita ou criminosa, atuando com força, não contribuindo para a segurança.

O investigador brasileiro acredita que, durante o Campeonato do Mundo, em junho, determinadas situações de conflito se poderão intensificar, nomeadamente, agressões, roubos e furtos.

A “grande” concentração de pessoas e o excesso de álcool poderão justificar o aumento da criminalidade urbana neste período, explicou.

Marcus Melo Gomes referiu que as autoridades policiais, para prevenir estas situações, reforçaram o efetivo e investiram na aquisição de material.

“Mais polícias, veículos e patrulhamento não significam, necessariamente, maior segurança pública, caso as autoridades não estejam preparadas para lidar com situações de tensão”, salientou.

O investigador defendeu o conceito de “polícia comunitária” que privilegia mecanismos de prevenção e de aproximação à população.

“Em vez de atuar após o conflito estar instalado, estabelece uma relação de proximidade, confiança e credibilidade com as pessoas porque interage com elas e integra o seu dia-a-dia”, frisou.