Um dos conselheiros que fazia parte o Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol até ao passado dia 4 de junho, considera que a decisão de primeira instância em absolver Islam Slimani no lance com Andreas Samaris no Sporting-Benfica da Taça de Portugal foi "um verdadeiro escândalo".

Diz o jornal Record que Domingos Cordeiro, advogado em Évora, escreveu uma carta ao presidente do Conselho de Justiça (CJ), Manuel Santos Serra, já divulgada pela TSF, onde explica a sua versão sobre o processo. Recorde-se que o Benfica fez uma participação contra Slimani por alegada agressão a Samaris, que não terá sido vista pelo árbitro Jorge Sousa. A 8 de abril a secção não-profissional do CD decidiu absolver Slimani, com seis votos a favor e um contra - precisamente o de Domingos Cordeiro, que escreveu, à mão, uma declaração de vencido. Agora em junho, a decisão foi alterada e Slimani foi punido com um jogo de suspensão por "conduta violenta". Neste acórdão, é referido que a anterior decisão do CD tinha sido tomada por unanimidade, algo que não é verdade e que foi o motivo para a carta aberta de Domingos Cordeiro.

"A deliberação do CD, de 8/4/2016, é para mim, e penso que para a esmagadora maioria dos portugueses (...), um verdadeiro escândalo, e nesta medida, a referência à unanimidade, constante do acórdão do CJ, é insuportável", pode ler-se na carta. Para Cordeiro, tratou-se de "uma deliberação política desportiva, determinada por 'atendismos'". A decisão proposta (...) é tudo menos uma decisão baseada na Lei e nos Regulamentos", considera o advogado.

Escreve o Record que em várias conversas informais entre diferentes conselheiros, havia a convicção de que Slimani deveria ser punido por agressão. Por isso, a decisão de o absolver, tomada por uma esmagadora maioria de 6 contra 1, acabou por revoltar Domingos Cordeiro. Na primeira reunião do CD sobre o caso, a 27 de novembro (seis dias após o jogo), houve dois conselheiros que votaram a favor de um processo sumário e que permitiria tomar uma decisão em duas semanas. Só que "não foi essa a orientação defendida quer pela direção jurídica da FPF [impulsiona o procedimento disciplinar, conduz a instrução, acusa e elabora o relatório final], quer pela maioria do CD", que era formado por quatro elementos eleitos pela lista de Fernando Gomes e mais três da lista de Carlos Marta, candidato derrotado nas eleições anteriores.

Domingos Cordeiro, o único a votar contra a absolvição de Slimani, foi um dos conselheiros que não foram reconduzidos no último ato eleitoral da Federação Portuguesa de Futebol.