Os velejadores olímpicos portugueses queixam-se da falta de verbas para preparar o Rio2016 e lamentam a «época perdida», a federação subscreve as críticas e responsabiliza o Estado, questionando a utilidade do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).

«A época desportiva acaba daqui a três meses. Não há milagres. Espero que a partir de agora as coisas entrem na normalidade. Precisamos saber com o que contamos. O pior ano é este, o primeiro. Estamos ainda a pensar o que vai acontecer, o que devia estar pensado desde que acabou Londres2012», diz José Leandro, presidente da Federação Portuguesa de Vela, em declarações à agência Lusa.

Em causa, está o facto de o Estado/IPDJ ainda não ter assinado os contratos programa com as federações para o Rio de Janeiro2016, pelo que estas continuam a receber em duodécimos e sem saber com que verbas podem contar para a competição/preparação, facto que lhes «dificulta imenso» a gestão.

O dirigente diz mesmo desconhecer qual a «função e interesse» em manter o IPDJ, no seu entender uma das chaves do problema:

«As federações são entidades privadas de grande capacidade e competência, não um departamento do IPDJ, embora eles achem que sim e, por isso, nos chateiam a todo o momento.»

José Leandro defende que é essencial haver «desburocratização» de processos e queixa-se do controlo «tão assertivo, regular e sem qualquer objetivo de melhorar a atividade» promovido pelo IPDJ, lembrando que atualmente o grande desafio das federações «é sobreviver», pelo que, recorda, o Estado não precisaria «complicar» a sua vida.

«Deixem as federações respirar, cumprir o seu objetivo. Com responsabilidade, obviamente. Deixem-nos trabalhar e depois vejam os resultados», vincou, lastimando as constantes «inspeções, sindicâncias, papeis para trás e para a frente, os relatórios, que depois não servem para nada».

José Leandro, que assegura representar o pensamento da generalidade das federações, deixa um desejo:

«Vamos esperar que isto mude, altere. Que haja alguém ao nível do Governo, o ministro ou o secretário de estado, alguém que dê um murro na mesa e diga `vamos acabar com esta forma e arranjar outra que facilite a atividade´.»

O olímpico Miguel Nunes é o exemplo da «frustração» pela situação, considerando que todo o projeto Rio2016 pode estar em causa devido aos atrasos – esta época tem um parceiro novo, o jovem Gonçalo Pires, mas ainda não teve verbas para poder competir internacionalmente.

«Esta situação está a afetar-me bastante. Tenho um parceiro novo e precisamos fazer provas, campeonatos lá fora. Sozinhos em Portugal não conseguimos o que é suposto. Temos os europeus em junho, supostamente assegurados, mas cancelamos uma prova que decorre agora em Itália e já nos disseram que dificilmente vamos a outra na Holanda», lamentou.

Sem aferição do nível internacional e com preparação completamente alterada, o velejador assume já que «a época está comprometida em termos de resultados», pelo que entende que «dificilmente a tripulação atingirá os objetivos exigidos».

«E depois, se não houver apoio para o ano por falta de resultados, esta vai ser certamente uma campanha que não vai chegar ao fim, pois estes projetos não existem sem apoios», concluiu.