Num entrevista em conjunto com vários órgãos de comunicação social portugueses, Cristiano Ronaldo respondeu a todas as questões com a frontalidade que se lhe reconhece dentro das quatro linhas.

Questionado sobre o que é que a Selecção nacional não deve fazer no Mundial 2010, Ronaldo falou em evitar cometer erros infantis.

“Não cometer erros infantis, não deixar de lutar e acreditar, não deixar de ter sempre esperança, pensarmos que tudo é possível. Sabemos que a primeira fase será complicada mas a partir daí tudo pode acontecer”

Sobre que tipo de erros infantis pode uma equipa cometer, Ronaldo salientou o papel do treinador em aproveitar ao máximo as características dos seus jogadores e a forma como cada jogador assimila a sua função no seio da equipa.

“É fácil de dizer: toda uma equipa funciona quando cada jogador sabe o que tem de fazer dentro de campo. Um defesa não pode sair a jogar a driblar, o defesa esquerdo a mesma coisa. Cada um tem de fazer o que o treinador pede e ele é que sabe as características de cada jogador e tentará aproveitá-las ao máximo. Uma equipa só funciona bem se cada um souber o que fazer.”

Depois de uma fase de qualificação para o Mundial 2010 complicada, em que Portugal esteve em risco de falhar o passaporte para a África do Sul, esta será uma oportunidade de ouro para a selecção portuguesa brilhar em África.

“Claro que sim, por aquilo a que assistimos na fase de qualificação. Passou-me pela cabeça não estar no Mundial mas as coisas correram bem e agora vamos dar uma resposta positiva. Vamos ter bastantes dias juntos no estágio, demasiado tempo juntos até (solta gargalhada) mas isso vai ajudar bastante para reforçar o espírito de grupo. Vai ser positivo, o mister Queiroz vai ter tempo para conhecer melhor os jogadores e criar uma base sólida.”

Carlos Queiroz assumiu o cargo de seleccionador nacional no final de 2008, depois de seis anos marcados pela era de Scolari, e trouxe muitas mudanças no seio da selecção nacional. Cristiano Ronaldo acredita que a linha de mudança se vai manter no Mundial 2010 apesar de alguns jogos menos conseguidos na fase de apuramento.

“Por vezes a mudança de muitos jogadores faz com que a equipa não renda o máximo e foi isso que aconteceu em certa altura. Portugal teve altos e baixos mas na fase final fizemos bons jogos. Lembro-me do jogo na Dinamarca em que tivemos 20 oportunidades de golo. Isso demonstrou o poderio que tivemos no jogo, a força que possuímos, o entrosamento. Queiroz é a pessoa indicada e sendo um conhecedor do seu trabalho, acho que Portugal vai ficar muito melhor depois do tempo em que estivermos juntos. E pelos jogadores que temos.”

O Mundial 2010 vai ser a quarta presença de Cristiano Ronaldo numa fase final de uma grande competição. Para o internacional português, vestir a camisola das quinas é sempre motivo especial.

“É sempre especial, como se fosse a primeira vez. Será diferente mas especial. Tenho um grande orgulho e motivação em estar novamente num Mundial. É claro que tenho muita experiencia comparativamente à minha estreia, no Euro 2004. As grandes competições definem-se muitas vezes por detalhes. A meu ver temos uma grande selecção e se trabalharmos bem, formos sérios e se tivermos um pouco de sorte acho que vamos fazer um grande Campeonato do Mundo.”

O clima de euforia em torno da selecção já não é o que era com os adeptos portugueses a criticarem muito as actuações da equipa portuguesa. Para Cristiano Ronaldo o clima criado pelos adeptos tem sempre influência na equipa e pede para que em vez de assobiarem a equipa a aplaudam.

 “Lembro-me do jogo que fizemos em Coimbra (com a China) em que na primeira parte jogámos bem mas não na segunda.

Parecia que tudo tinha mudado: começaram a assobiar os jogadores e isso influencia, mesmo aqueles que estão habituados a grande pressão, pois sentem que o colega está mais pressionado e o futebol torna-se logo outro. Digo isto: em vez de assobiarem, gastem a energia a aplaudir, o feito vai ser melhor. Sei que é difícil mas os jogadores vão para dentro de campo com o intuito de fazer as coisas bem. Somos humanos. Você é jornalista e nem sempre faz as melhores perguntas, eu nem sempre jogo bem, às vezes falo um drible a mais quando devia passar a bola, mas peço às pessoas que sejam mais calmas e tentem ajudar. Por vezes são os jogadores que ajudam os adeptos e às vezes tem de ser o contrário. Lembro-me do que o Ferguson fazia. Às vezes aquilo parecia um cemitério. Ele falava e acontecia o oposto: o ambiente contagiava e os jogadores jogavam melhor. Quem gosta da selecção tem de apoiar. Sei que é difícil mas graças a isso os jogadores jogam melhor.”

Portugal tem a sua estreia marcada no campeonato do Mundo 2010 a 15 de Junho, no Estádio Nelson Mandela Bay/Porto Elizabeth, com a Costa do Marfim.