O presidente do Comité Olímpico de Portugal defendeu hoje uma “mudança de paradigma” do desporto português, sob o risco de o país conseguir resultados “residuais” nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. 

«É necessário mudar de paradigma. É indispensável mudar de paradigma, sob pena de, daqui a quatro anos, Portugal ser um país residual nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro», afirmou Vicente Moura, em Weymouth.

O presidente do COP referiu que a responsabilidade pela definição da política desportiva do país «é do Governo» e terá de ser ele a decidir «o que quer fazer em termos desportivos do país». 

«Podemos restringir a prática desportiva, podemos restringir modalidades, mas temos de tomar opções, porque, se não tomarmos essas opções, caminharemos para a desgraça de termos uma participação irrelevante no Rio de Janeiro. E isso não pode acontecer porque a opinião pública portuguesa não aceita», acrescentou.

Vicente Moura notou que «o desporto representa os melhores índices do país» e elogiou resultados como o alcançado por Luciana Diniz, no salto de obstáculos, e em especial a medalha de prata conseguida na canoagem por Emanuel Silva e Fernando Pimenta: «Uma medalha importante para o país, mas também para a canoagem».

O responsável do COP também garantiu que o comité olímpico «fez tudo o que estava ao seu alcance» na preparação da equipa para Londres2012, «tal como o atual Governo e o anterior, para mais numa situação em que o país está com dificuldades económicas». 

«Fez-se um grande sacrifício, mas isso chega? Se chega, estaremos satisfeitos até ao Rio. Eu acho que não chega», frisou, dizendo ainda: «O Governo, o Comité Olímpico, as federações todas, temos de nos sentar, temos de falar, encontrar novos caminhos e pôr a população portuguesa a fazer desporto».

Apesar do discurso, Vicente Moura não quis falar da sua recandidatura à presidência do COP, que apenas abordará já em Lisboa, mas assumiu a «experiência acumulada em 11 Jogos Olímpicos», sublinhando: «O importante é termos um rumo sobre o que queremos dentro de 10 anos».

«Se queremos 10 ou 11 medalhas, rápidas, então temos de mudar de caminho. Há muitos atletas africanos que querem vir para a Europa e as medalhas aparecem», disse, dando ainda o exemplo da delegação espanhola: «30 por cento dos atletas da Espanha não nasceram no território, são estrangeiros».

O responsável do COP defendeu, ao invés, que em Portugal se coloquem «os filhos, os netos, os jovens a praticar desporto» e disse que as medalhas «aparecerão naturalmente, fruto do trabalho que for feito ao longo de uma década».

Em jeito de balanço à forma como correram as coisas em Londres, Vicente Moura não escondeu a desilusão com o resultado de Telma Monteiro no judo, reiterando que «se o judo tivesse tido melhores resultados, não se teria instalado este clima no país» em relação aos Jogos.

«Não fui surpreendido pelos resultados. A dada altura disse que esta era a equipa mais bem preparada de sempre. Alguém entendeu que isso queria dizer medalhas e não quer dizer medalhas. Temos a obrigação de preparar os atletas que temos da melhor maneira possível», disse.

Moura preferiu realçar o «bom trabalho realizado por algumas modalidades», «com um nível qualitativo elevado», como foi o caso do ténis de mesa, do tiro, enquanto outras, como a natação, mostraram «o seu nível atual».

«Nunca falhámos com valores financeiros às federações, aos atletas e aos técnicos. Quando houve o colapso da federação de vela, foi o comité olímpico que preencheu esse colapso. A vela está aqui em todas as classes porque eu próprio assumi os pagamentos e todos os problemas administrativos. Ainda agora tenho problemas administrativos para resolver», assumiu.

A forma como a comitiva portuguesa se comportou em Londres2012 não passou em claro: «Aqui não houve nenhum tipo de problema. Tenho de agradecer a toda a gente, ao chefe de missão e a todos os elementos da comitiva. Houve problemas, mas foram problemas menores»