Das comissões às finanças, passando pela Academia da Maia, Villas-Boas passou a pente fino aquilo considera ser um mau exercício de gestão por parte da administração do FC Porto. Em Cantanhede, em mais uma casa do FC Porto que encheu para receber o antigo técnico dos dragões, o agora candidato a presidente levantou novamente várias questões sobre as opções tomadas pela direção portista, encabeçada por Pinto da Costa.

"O FC Porto já está a ser vendido, vocês é que ainda não viram. Naturalmente, para vender parte da SAD haveria de lançar o tema à Assembleia Geral. O que esta Direção fez foi vender 30% da Porto Comercial. As receitas comerciais são de 40 a 50 milhões de euros. Desvaloriza o valor global do FC Porto, porque 30% das receitas já estão para outro lado. Isto são maus sinais e sinais para os quais olhamos com preocupação, pelo que na semana passada decidi, eu, como sócio, acionista e candidato, endereçar uma carta à Direção do FC Porto relativamente a questões que estão a ser tomadas sobre o FC Porto. O presidente terá oito dias para o responder, senão irei reunir acionistas e aí a comunicação será direta e institucional com a CMVM e a FC Porto SAD, obrigando a direito de resposta", referiu.

"Vender o FC Porto não é o caminho, o caminho é perceber a vantagem competitiva que tem enquanto clube de associados. Temos valores, temos cultura, temos história, temos legado. Um clube de um proprietário não tem este valor, esta cultura. O Inter foi de um tailandês, depois foi para um americano. Um exemplo: depois passa para um russo, para um fundo árabe e em dez anos podemos ter um clube com quatro proprietários diferentes. Estão lá, querem dinheiro, obtêm retorno e o clube segue com outros. Não ligam ao projeto desportivo, querem vertente financeira. Os clubes de associados, por falta de governança de anos anteriores, estão em situação limite e todos estão a recorrer a apoios da banca internacional para reestruturar dívida e reformatarem o projeto desportivo. Está a acontecer com o Real, com o Barcelona, com o Sporting, se bem que o perdão ajudou bastante, vai acontecer com o Benfica, tem de acontecer com o FC Porto. Ninguém quer ajudar, na banca dos fundos, quando os interesses são outros e estão ligados às comissões, há um esbanjar de dinheiro permanente", acusou o antigo treinador.

Villas-Boas abordou ainda a questão da Academia na Maia e tudo o que aconteceu desde a aprovação da venda dos terrenos em hasta pública. "Quando soltei o que disse sobre a Academia da Maia, o FC Porto fez um comunicado dedicado a mim, que eu tinha dito que era um chorrilho de mentiras e eles iam provar que não. Agora falou o vereador [Francisco Vieira de Carvalho, do PS] e a coisa está quente. Parece que a Academia pode tornar-se um caso de polícia… O FC Porto, em comunicado, já veio desmentir Fernando Gomes [administrador da SAD], que disse que a construtora ia adquirir terrenos e o FC Porto pagaria renda. O comunicado dizia que FC Porto é que ficava detentor. Os comunicados desmentem-se uns aos outros, ninguém se entende", frisou, para prosseguir.

"Vendo este imbróglio da Maia, o que ficará para nós contratualmente? O que estará ali? É ou não possível rescindir contratos? Que impacto terá? E os pareceres? Tudo isto são atrasos. Desta vez não fui eu que falei, foi um vereador que veio falar de interesses alheios. Os próprios vieram desmentir. Não me meto nisso. Chorrilho de mentiras foi dizerem que estavam lá tratores e não estavam. Só posso pôr tratores em algo que é meu e os terrenos são da ABB e os outros vão a hasta pública", avisou.

À semelhança do que Pinto da Costa anunciou no mesmo dia, Villas-Boas voltou a referir o que havia dito na apresentação da sua candidatura, reforçando a intenção da aposta no futebol feminino e no futsal. Pelo meio, como sempre, houve elogios ao líder máximo do FC Porto e a revelação de que aceitaria mudar o nome do Estádio do Dragão para Estádio Jorge Nuno Pinto da Costa.