Algum dia tinha de cair para o outro lado. Ontem foi o dia. A derrota de Portugal frente ao Chile, nas meias-finais da Taça das Confederações não pode ser encarado com tanto drama. Desde que Fernando Santos assumiu a equipa que a seleção lusa vem demonstrando dificuldades para jogar formações mais fortes. No Euro fez três empates na fase de grupos, afastou a Croácia com um golo no prolongamento, eliminou a Polónia nos penáltis e bateu a França na final com os deuses do futebol a guiarem o pé direito de Éder e Patrício a ser gigante. Só nas meias-finais frente ao País de Gales ganhou com menos sofrimento. Esta quarta-feira frente ao Chile, Fernando Santos mexeu mal na equipa e pagou a fatura no final. A falta de pontaria nos penáltis voltou a tramar os lusos.

O jogo: Duas horas de futebol, zero golos. Pontaria demasiado desafinada

O jogo prometia. Aquele que era visto como uma final antecipada não desiludiu nalguns aspetos. Afinal de contas, estavam em campo os campeões europeu e da América do Sul. Duas equipas que ainda não tinha perdido na prova e que eram vistas como favoritas a vencer a Taça das Confederações, uma vez que a Alemanha está na competição com uma equipa secundária.

Os primeiros dez minutos faziam antever um jogo de parada e resposta, com muitas oportunidades de golo. Rui Patrício encheu a baliza e negou o golo a Vargas, aos sete. Bravo imitou o colega e evitou o tento de André Silva, aos oito. Muita emoção em apenas um minuto no Kazan Arena. Mas foi só fogo de vista. A partir daí o encontro entrou numa monotonia, com as duas equipas encaixadas uma na outra e com isso, rarearam os lances de perigo. Esperava-se que Portugal desbloqueasse o jogo pelo ar onde tinha vantagem na estatura (os centrais do Chile, Medel e Jara, têm 1,77 e 1,80 metros, respetivamente) mas os chilenos foram autênticos leões, ganhando quase todos os duelos aéreos. Impressionante!

O problema para Portugal foi quando o Engenheiro Fernando Santos teve de mexer na ´maquina` para faze-la produzir algo diferente. Até fez quatro substituições, algo inédito em provas da FIFA (testado pela primeira vez nesta Taça. As equipas que forem para o prolongamento têm direito a uma substituição extra) mas nenhuma delas melhorou a equipa. As entradas de Nani e Quaresma não trouxeram nada de novo (Portugal ficou mais pobre na frente), a saída de André Silva fez com que Ronaldo quase desaparecesse do jogo já que passou a ser o homem mais adiantado, André Gomes esteve tempo demais em campo e Gelson devia ter entrado mais cedo.

O Chile era mais pragmático na hora de atacar. E até ganhava duelos aéreos na área lusa, como aconteceu várias vezes com Alexis Sanchez e Vidal. Só um Rui Patrício inspirado e a falta de pontaria manteve o resultado inalterado. Os 90 minutos passaram rápido, pelo que ainda haviam mais 30 minutos de futebol antes dos penáltis. E nestes 30 minutos foram os chilenos que estiveram mais perto de resolver o assunto: duas bolas nos ferros nos derradeiros minutos no mesmo lance e um remate de Alexis Sanchez que Bruno Alves não deixou que desse em golo. Foi apenas o adiar do inevitável.

Porque nas grandes penalidades, o Chile mostrou mais arte e cabeça fria e converteu todos os que marcou (só precisou de marcar três dos cinco obrigatórios), contra Portugal que não fez marcou qualquer penálti. Quaresma, Moutinho e Nani viram os seus remates serem defendidos por Bravo. Curiosamente, três jogadores que acertaram na baliza no Euro2016, quando Portugal eliminou a Polónia nas grandes penalidades. É, o futebol é mesmo assim...

Agora só resta a Fernando Santos e aos seus rapazes despedirem da Rússia com alguma dignidade, vencendo o jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares. Poderá ser contra os alemães (é sempre bom ganhar as alemãs, nem que seja a equipa B deles) ou poderá também ser um reencontro com o México, com quem Portugal empatou a duas bolas na fase de grupos. Seja com quem for, é preciso despedir com alguma dignidade. E já sem Ronaldo, dispensando para conhecer os filhos que nasceram durante a prova.

Momento chave: Ferros tramam Chile

No derradeiro minuto dos 30 do prolongamento a equipa de Juan Antonio Pizzi podia ter resolvido a contenda a seu favor, mas a sorte esteve com Patrício. A primeira ´bomba` de Vidal foi devolvida pelo poste, a recarga de Hernandez foi à barra.

Os melhores: Bravo foi gigante, Vidal encheu o campo

Bravo: negou o golo a André Silva aos oito com uma grande defesa. Nos penáltis, travou os três remates dos portugueses. Gigante.

Arturo Vidal: é a cara da garra chilena. Corre que se farta, ocupa bem os espaços, dá tudo em campo, luta por todas as bolas como se fossem as últimas. Ganhou vários lances de cabeça na área lusa, teve um tiro no poste e marcou o primeiro penálti... à bomba.

Os piores: Santos não soube mexer

Fernando Santos: o engenheiro não soube mexer na ´máquina` desta vez. Nenhuma substituição que fez melhorou o jogo de Portugal. Pior, Portugal passou a jogar menos. Teve medo de arriscar.

André Gomes: foi um dos mais rematadores de Portugal. Teve nos pés várias situações, com bolas à entrada da área, mas todos os seus remates saíram por cima. Noite desinspirada do médio que saiu demasiado tarde do jogo.

A polémica: Penálti para o Chile que nem o videoárbitro... viu

Corria o minuto 113 de jogo, ou seja, já no prolongamento, quando José Fonte chegou tarde a um lance com Francisco Silva e travou o chileno dentro da área. Penálti claro que nem o árbitro nem o videoárbitro viram. Então para que serve o videoárbitro?

Reações:

Fernando Santos: "Nos penáltis, umas vezes é-se herói, outras não"

William Carvalho: "Fizemos uma excelente campanha"

Cédric: "Infelizmente as coisas não correram bem"

Bernardo Silva: "Não tivemos a sorte que tivemos noutras alturas"

Juan Antonio Pizzi: "Encontro foi muito equilibrado"

Claudio Bravo: "Estávamos convencidos da nossa qualidade"

Curiosidades: by playmakerstats do ZeroZero

Esta é a 3.ª vez que uma seleção não consegue marcar num desempate por grandes penalidades em fases finais: Suíça (2006), Brasil (2011) e Portugal (2017).

Em oito meias-finais de grandes competições de seleções, Portugal foi derrotado em seis e apenas chegou a duas finais (2004 e 2016).

Esta é a 4.ª edição consecutiva com o representante da CONMEBOL na final das Confederações: 2017 (Chile), 2013 (Brasil), 2009 (Brasil), 2005 (Brasil).

Portugal perdeu pela 2.ª vez um desempate por penáltis: 2012 com a Espanha (2-4) nas meias-finais do Euro e em 2017 com Chile (0-3) nas ´meias` das Confederações.

Nani é o 3º jogador português que mais vezes representou a Seleção Nacional de Portugal (111 internacionalizações).

Esta será a 5.ª final da