Josué, jogador que foi detido na sequência dos incidentes do AZ Alkmaar-Légia Varsóvia (Liga Conferência) relatou o sucedido em entrevista ao WP SportoweFakty. O jogador passou mesmo um dia na prisão até ser libertado no dia seguinte.

O jogador revela que não percebe o porquê de ter sido detido. "Se percebo? Não, de todo! Penso muito no assunto e continuo a não perceber nada. Afinal de contas, perdemos esse jogo. Os anfitriões ganharam. Se tivesse sido ao contrário, em teoria, algures, pensar-se-ia que tinha irritado a outra parte, que a tinha deixado mais nervosa. Mas é claro que isso não é desculpa para eles. O que não consigo compreender é como é possível que, numa rivalidade internacional, um clube leve tão a mal o outro clube, os seus convidados. Imediatamente após o jogo, nada indicava problemas. Falei com o meu colega do AZ Alkmaar, Bruno Martins Indi, estava tudo a correr normalmente. Depois fui tomar um duche e, quando saí, tudo começou."

Depois das entrevistas pós-jogo, do banho, o jogador foi para o autocarro. "Na altura, só havia dois seguranças no portão. Um homem e uma mulher. A saída era perto do autocarro. Literalmente a dois passos. Com o pé direito, sai-se do portão e com o pé esquerdo já se está no autocarro. Dois metros. Não mais do que isso. Então o segurança disse-me 'o portão está fechado, foi o que a polícia ordenou'. Ficámos à espera. Depois entram o treinador, o diretor desportivo e o presidente. O treinador pergunta porque é que não podemos sair e o segurança diz 'e quanto é que me pagam para vos obrigar a sair?'. E começa a rir-se. O motorista abre o portão e não acontece nada. Depois saímos todos. Mas ainda faltavam o Pawel e o Bartek, que foram os últimos a sair. Um pouco mais tarde, o roupeiro regressa para ir buscar o resto do equipamento. Mas já havia 4 ou 5 seguranças no portão. Num minuto, passam de dois, um homem e uma mulher, para 4/5 e estão tão zangados. O roupeiro queria entrar pela porta e eu já estava no autocarro, no meu lugar. Eles não queriam abrir-lhe a porta. Por isso, fui lá fora e perguntei o que se passava. O roupeiro respondeu-me que não o queriam deixar entrar. Um pouco mais tarde, abriram o portão e começaram a empurrá-lo para fora. Ao verem o que se passava, os jogadores abandonaram o autocarro, quando um dos nossos começou a ser atacado. Era o Sebastian [roupeiro]. Os guarda-costas eram grandes e fortes. Começaram a empurrar os futebolistas para longe. Depois apareceu um guarda-costas pequeno e começou a empurrar o nosso treinador. Nessa altura, já estávamos ao lado do autocarro, mas ao ver o que estava a acontecer ao treinador Kosta, voltámos para trás. Mas não para procurar uma luta, apenas para ver o que tinha acontecido de novo. Mas não era nada de muito grave. Aproximamo-nos de novo do autocarro."

"Depois, olho para a minha esquerda e vejo um grupo a aproximar-se. Estão todos vestidos de preto. E faziam um gesto como se estivessem a tirar algo de trás do cinto. Na altura, pensámos que eram ultras do AZ Alkmaar. Mas era a polícia, só que estavam em trajes civis. Não tinham a cara tapada, mas tinham uns lenços para se taparem, aliás, mais tarde alguns deles taparam a cara. Vi por vezes polícias em trajes civis, mas com roupas normais. E estes estavam todos de preto. Entrámos novamente no autocarro, mas já havia muita polícia por perto. E então o presidente Mioduski tentou explicar-lhes toda a situação. Disse quem era e sublinhou que não gostava da forma como estávamos a ser tratados. E quando puxou do telemóvel para gravar o que se passava, tiraram-lhe o telemóvel e começaram a empurrar. Sento-me no meu lugar e a minha mulher telefona-me. Conto-lhe o que se passa e ela diz-me para ter cuidado comigo para que ninguém se magoe. Combinámos que falaríamos calmamente quando eu chegasse ao hotel. Mas eu já não cheguei ao hotel."

Sobre a detenção: "Estávamos sentados no autocarro e, de repente, o treinador chama-me, como capitão. Ele está na parte da frente do autocarro, eu estou na parte de trás. Ele diz-me que a polícia já escolheu um suspeito, porque aparentemente um dos seguranças foi ferido. E esse suspeito é Rasha Pankov. Fiquei surpreendido. O treinador diz-me então que a polícia exigiu que ele passasse a noite na esquadra. Mas nunca nos disseram isso durante a detenção. E acreditem, não é a mesma coisa. Depois digo ao treinador que, se o Rasha for lá sozinho.... Olhando para a forma como nos estavam a tratar, com tanta antipatia, como nos estavam a tratar, eu tinha a certeza de que se o Rasha fosse sozinho, ia levar uma sova. Eu disse-lhe que ele não podia ir para lá sozinho. O treinador responde que aqui não há lugar para negociações. Passam 15 minutos. O treinador fala com a polícia, fala com Rasha e este último diz que sim, que vai com a polícia. Os agentes já tinham comunicado que, se o futebolista não saísse, entrariam à força no autocarro. E isso teria sido um massacre. Não estou a dizer que nos teriam matado, mas teria sido 'duro'. Então o Rasha diz 'ok, vou-me embora'. Mas depois o polícia diz: 'Não, não, não. Já há dois suspeitos. O outro está a usar brincos pretos'. Era eu. Eu digo ao treinador 'OK, vamos embora'. Como equipa, não podíamos permitir que a polícia invadisse o autocarro, porque teria sido um massacre. Ao sair do autocarro, disse ao polícia: 'Eu vou convosco'. Mas isso não foi suficiente. Torceram-me os braços e levaram-me como se fosse um assassino. Tiraram-me o telemóvel e meteram-me no carro da polícia."

"Havia duas pequenas jaulas. Numa acabei eu, na outra Rasha. A partir daí, nunca mais o vi. Até ao fim do incidente. Não matámos ninguém, não assaltámos um banco, não fizemos nada de errado. Levaram-me porque tinha brincos pretos. Quando a porta se abriu... Bem, o cheiro não era agradável. O fedor a urina, nem tudo bem lavado. Podem imaginar. Fui parar a uma cela pequena. E perguntou-me no início se eu tinha percebido o que se tinha passado. Pois eu não percebi! Não tinha nenhuma acusação antes de ser detido, durante a minha estadia lá e depois de sair! Então porque é que me levaram para lá? Não percebo! Quem me conhece sabe que, quando faço alguma coisa, sou capaz de o admitir. Tenho coragem de o fazer. E, nesse momento, juro-vos pela minha filha, não fiz nada de mal e acabei na prisão! Sozinho, com uma visão muito perturbadora. Deram-me pão, mas eu não o quis comer. Não comi nada durante meio dia. Só pedi para me poder lavar. As minhas mãos, a minha cara. Foi o que me disseram, que eu tinha um lavatório por cima da sanita."