Infelicidade (duas bolas nos ferros e um autogolo caricato - com alguma polémica à mistura), ineficácia (algumas situações de golo não aproveitadas) e uma evidente falta de soluções para dar a volta a um adversário fechado na sua defesa, com as linhas bastante recuadas e com a lição bem estudada. Três aspetos que explicam mais uma noite para esquecer do Benfica na Luz, que terminou com um empate a um golo ante o Moreirense, mais dois pontos perdidos, e assobios à equipa após o apito final.
Num jogo em que, como lhe cabia, entrou a pressionar e a encostar o Moreirense à sua grande área, o Benfica tardou a criar situações de golo, mostrando muitas dificuldades para furar por entre a muralha defensiva montada por Ricardo Sá Pinto e pelos cónegos. Efetivamente, e apesar do domínio das águias, os primeiros três remates do jogo até foram dos visitantes. Depois, quando as oportunidades começaram a surgir, não houve eficácia (nem sorte, no espetacular remate de Rafa à trave aos 20 minutos). O Benfica acabaria mesmo os primeiros 45 minutos sem qualquer remate na direção do alvo (considerando que um remate à trave não é um remate no alvo). E, sem remates na direção da baliza, não é fácil marcar golos...
Na primeira parte, com o Moreirense muito fechado no meio, o Benfica tentou explorar as alas, mas fê-lo sobretudo recorrendo a muitos cruzamentos para a grande área, a maior parte sem grande propósito e resolvidos sem grandes dificuldades pelos defesas adversários. Uma tendência que acabou por se estender ao longo do encontro, mesmo depois dos dois golos. A sorte - ou falta dela - também voltou a dar de si, é um facto (na infelicidade do autogolo de Gilberto e em mais uma bola aos ferros, desta feita por Grimaldo), mas não chega para justificar mais dois pontos perdidos em pleno estádio da Luz num jogo em que as águias podiam e deviam ter feito mais. O título é, cada vez mais, uma miragem e percebe-se que os adeptos não estejam satisfeitos.
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O jogo: demasiado domínio para tão pouco acerto
Sem Everton Cebolinha, infetado com COVID-19, Nélson Veríssimo, no seu terceiro jogo ao leme das águias após a saída de Jorge Jesus, apostou no jovem Paulo Bernardo como titular e também mexeu no ataque. Gonçalo Ramos, que tinha feito dupla com Seferovic na última jornada (vitória por 2-0 na receção ao Paços de Ferreira), começou no banco e foi Darwin Nuñez a alinhar de início ao lado do suíço na frente de ataque. E o Benfica entrou pressionante, mas sem conseguir criar perigo.
A exceção foi o tal remate de Rafa à trave, aos 20 minutos. Pensou-se que os lances de perigo poderiam começar a ocorrer com maior frequência a partir daí, mas eles continuaram a escassear. Um cabeceamento de Seferovic, um remate de João Mário e um desvio de Morato, todos a errar o alvo (ainda que por pouco) foram pouco para tanto domínio territorial e de posse de bola.
A segunda parte não foi muito diferente. O Benfica até entrou com velocidade, criando perigo logo a abrir, por Paulo Bernardo, mas uma vez mais a finalização não foi a melhor, com mais um remate ao lado. O primeiro remate na direção da baliza só surgiu aos 51 minutos, por Grimaldo, e saiu à figura do guarda-redes contrário.
Por seu lado, o Moreirense ia saindo, amiúde, para o ataque, sempre que conseguia furar a primeira linha de pressão dos encarnados, e num desses lances acabou por marcar. Paulinho cruzou para o segundo poste, a bola sobrevoou um jogador dos cónegos (que estava adiantado, mas que o árbitro da partida, Rui Costa, e o VAR, terão considerado que não interferiu no lance, apesar de ter saltado), Gilberto até se antecipou ao adversário direto, mas o esférico sobrou para Otamendi que, na tentativa de afastar o perigo, cortou contra o colega brasileiro e a bola acabou no fundo da baliza.
O Benfica até reagiu bem ao golo e empatou logo depois, por Darwin Nuñez (num lance, também ele, feliz). Pablo cortou uma bola contra Fábio Pacheco e esta caiu nos pés de Darwin que, isolado, ainda viu Kewin Silva parar o seu primeiro remate, mas só teve de encostar na recarga.
Estava feito o 1-1 com 25 minutos (mais os descontos) ainda pela frente. Tempo mais do que suficiente para um Benfica motivado pelo golo dar a cambalhota no marcar e chegar à vitória, pensou-se. Mas a verdade é que, apesar das várias alterações introduzidas por Nélson Veríssimo, as águias só por duas vezes estiveram verdadeiramente perto de marcar: num remate de Grimaldo que ainda roçou no poste, aos 76 minutos, e numa cabeçada de Otamendi, por cima, já em desespero, em mais um dos muitos cruzamentos que os jogadores encarnados foram enviando para a grande área adversária ao longo do jogo. Nenhuma delas entrou e o Moreirense resistiu mesmo, com a sua muralha defensiva, saindo da Luz com um ponto no seu segundo jogo sob as ordens de Ricardo Sá Pinto, depois de terem triunfado em Guimarães no primeiro.
O momento: Golo caricato (e polémico) do Moreirense
Estavam decorridos 61 minutos de jogo quando o marcador, enfim, mexeu. E para o lado que menos se esperava, com o Moreirense a marcar.
Paulinho, na direita, cruzou para o segundo poste, na direção de Walterson. Pelo meio, a bola sobrevoou Rafael Martins, que no meio da área estava desenquadrado com a trajetória do esférico, mas que a ele tentou chegar. No segundo poste, Gilberto antecipou-se a Walterson, cortou na direção de Otamendi e este, na tentativa de aliviar, atirou contra o colega e a bola só parou no fundo da baliza. Um golo caricato, que foi ainda foi alvo de VAR, que terá concluído que o posicionamento e ação de Rafael Martins não teve interferência no desenrolar da jogada, confirmando assim a decisão do árbitro.
O melhor: Grimaldo a tentar remar contra a maré de um lado e o patrão Steven Vitória do outro
Num jogo em que Rafa, que tem sido o grande desequilibrador do Benfica ao longo da época, não esteve inspirado (talvez por não ter espaço, devido ao facto de o Moreirense se ter apresentado com as linhas tão recuadas, ou por estar a jogar mais como extremo do que junto aos pontas-de-lança, como vinha sendo hábito com Jorge Jesus) e só apareceu realmente no jogo no remate à trave aos 20 minutos , os principais desequilíbrios por parte das águias surgiram pelo flanco esquerdo e foram da responsabilidade de Grimaldo. O espanhol tentou sempre rumar contra a maré, empurrar a equipa para a frente e até chegou a enviar uma bola ao poste.
No Moreirense, Steven Vitória foi o expoente máximo de um muro defensivo que raramente falhou. O central, que até já passou pelo Benfica, mostrou neste regresso à Luz um excelente sentido posicional, concentração e qualidade no jogo aéreo.
O pior: Gilberto em dificuldades e um suíço desaparecido
Não foi só pelo autogolo que marcou - em que foi profundamente infeliz, com a bola a ser cortada contra si por Otamendi - que Gilberto teve uma noite desastrada. O lateral direito mostrou desacerto quer a atacar, com vários passes falhados e cruzamentos ineficazes, e a defender também não mostrou nunca o posicionamento ideal perante as investidas de Walterson.
No ataque, Seferovic voltou a ser titular, mas embora mostrando a vontade que o caracteriza de correr a todos os lances, andou meio alheado das jogadas das equipas e quando as (poucas) oportunidades surgiram, não foi eficaz, como num cabeceamento ligeiramente ao lado perto da meia hora. Não foi de estranhar que tivesse sido o primeiro homem a ser substituído por Nélson Veríssimo.
As reações
Sá Pinto destacou a força mental do Moreirense, Fábio Pacheco falou em "grande exibição"
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