Menos de 24 horas depois dos festejos do título de campeão, o Benfica promoveu no seu centro de estágio, no Seixal, uma conversa aberta entre o treinador Roger Schmidt e a comunicação social. Uma conversa na qual o técnico alemão abriu o coração sobre tudo o que sentiu ao longo da caminhada para a tão desejada conquista, não se esquivando de falar sobre nenhum assunto.

Desde a justiça da vitória às palavras de Sérgio Conceição, passando pelos momentos mais complicados, a sua filosofia de treino e as perspetivas para a próxima temporada, eis as principais palavras de Schmidt.

Palavras de Sérgio Conceição e justiça do título

Roger Schmidt disse que respeita a opinião de Sérgio Conceição, mas sublinhou que o Benfica mereceu ser campeão nacional. O técnico dos dragões afirmou, no final do último jogo do campeonato, que a sua equipa foi a melhor da I Liga nesta época, apesar de ter terminado em segundo lugar, mas Schmidt contrariou essa ideia.

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"É a sua opinião e eu respeito. Não vi todos os jogos do FC Porto, mas vi a nossa equipa a jogar e acho que jogámos muito bem. E, como disse antes do jogo, a equipa que no final de 34 jogos tem mais pontos, se essa equipa também marcou mais golos e sofreu menos, merece ser campeã. E essa equipa foi o Benfica", ripostou o técnico alemão.

“Não temos de ser campeões com 20 pontos de avanço. Temos de ser campeões, não interessa se é por um ponto ou pela diferença de golos. Fizemos 87 pontos, acho que o recorde do Benfica é 88, portanto estivemos muito perto da melhor época de sempre”, lembrou o técnico campeão nacional.

A pior fase da época

Segundo Schmidt, o Benfica jogou “de forma consistente a um nível muito alto” durante a maior parte da época e só oscilou durante duas semanas, que coincidiram com as derrotas frente a FC Porto, Inter de Milão e Desportivo de Chaves.

“Foi talvez a pior fase da época para nós. Mantivemos um nível muito alto, mas nestas duas semanas não estivemos ao melhor nível. Não fomos tão dominantes, tão bons a controlar o jogo, a defender como fomos antes. E os nossos adversários foram muito eficazes nestes jogos. Mas o que fizemos depois, para dar a volta ao momento, foi muito importante para o resto da época”, comentou o treinador.

Esse período significou também a eliminação da Liga dos Campeões, nos quartos de final, mas Schmidt frisou que “não é uma vergonha não conseguir ganhar ao Inter”, lembrou que foi a única derrota da equipa “em 14 jogos” na competição e elogiou o desempenho dos jogadores.

“A maior parte dos outros jogos, ganhámos contra equipas de topo, por isso, não é uma desilusão termos saído da Liga dos Campeões nos quartos de final. Foi uma grande conquista dos jogadores. A forma como o Benfica jogou esta época nas competições internacionais foi incrível”, destacou o técnico alemão.

A sua filosofia como treinador

Durante a conversa com os jornalistas, Schmidt frisou também a vontade de vencer que o motivou ao longo da temporada e a sua forma de olhar para os jogos. "Para mim, o desejo de ganhar foi sempre maior do que o medo de perder", sublinhou.

"O treinador deve ter um objetivo que possa dar a conhecer à equipa", reforçou, antes de acrescentar: "O Jogo deve parecer mais fácil do que o treino. Dominar a área, tanto na defesa como no ataque, é um dos maiores desafios".

A festa do título

Schmidt mostrou-se impressionado com a dimensão da festa no Marquês de Pombal. "Sinceramente, nunca tinha visto nada assim como vi ontem. Creio que foi único, é uma das melhores celebrações que existem no futebol europeu. Já tinha visto no balneário fotografias de outras festas no Marquês de Pombal, mas nunca tinha vivenciado uma coisa assim", destacou.

"As fotografias são uma coisa, a realidade é outra. Foi tudo fantástico, o ambiente no estádio, o percurso até ao Marquês e, lá, o que sentimos foi absolutamente fantástico, com tanta gente. Enquanto membro da equipa, senti essa responsabilidade de deixar tanta gente feliz. Foi um dia fantástico para nós, uma recompensa por todo o esforço dos jogadores e, para além do nosso esforço, o esforço das nossas famílias que nos acompanharam. Foi tudo bom, para nós, para as nossas famílias e para os adeptos", destacou.

Olhar para o futuro: adeus a Grimaldo, vontade de manter Otamendi e Ramos e de ter um novo Enzo

Nesta conversa com os jornalistas, Roger Schmidt perspetivou também já o futuro, frisando que "é preciso reforçar o plantel". Confirmada está já a saída de Grimaldo e o técnico reconheceu: "Temos de substituir Grimaldo e não só. Kerkez é uma das opções..."

Sobre a perda de Enzo Fernandez, o técnico afirmou que "foi um momento muito difícil" e que "na altura não foi possível arranjar um substituto", algo que o clube terá de fazer agora. Isto apesar de Chiquinho ser ter conseguido adaptar muito bem: "aprendeu muito rápido".

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Quanto à continuidade de outro jogador em final de contrato, nada mais nada menos do que o capitão, Nicolas Otamendi, Schmidt disse que espera que este siga na equipa. ""Fizemos de tudo para manter Otamendi, mas já tem 35 anos e o contrato dele acaba. Espero que fique. Antes do Natal, começámos a falar com ele sobre um novo contrato. Ele quis esperar sempre pelo final da temporada e só aí tomar uma decisão. Claro que se me perguntarem o que quero, espero que fique", disse.

De quem também se tem falado que pode partir é Gonçalo Ramos, ainda que em circunstâncias distintas, vendido por uma verba avultada. "O Gonçalo [Ramos], também espero que ele fique. É jovem para ficar mais um ano no Benfica. Fez uma grande época, tem um grande talento como ponta de lança, não há muitos no mercado. Vamos ver. É possível mantê-lo, mas a decisão também é dele. Ficaria muito feliz se ele ficasse mais uma época", reconheceu o técnico.