A saída de Maniche do Benfica para o FC Porto ficou envolto em polémica. O médio era titular na Luz mas, de um momento para outro, deixou a equipa e passou a treinar sozinho até o final do seu contrato. Viria a assinar, a custo zero, pelo FC Porto, na época 2002/2003, tendo permanecido nos 'dragões' durante duas épocas e meia.

Na sua autobiografia 'Maniche 18, as Histórias (Ainda) não Contadas', escrito em coautoria com Tiago Guadalupe e editado pela Prime Books, o médio, agora com 41 anos, explicou o que o levou a sair do Benfica. Luís Filipe Vieira, presidente do clube 'encarnado', queria que renovasse por cinco épocas mas que, para tal, tinha de mudar de empresário, abandonando Paulo Barbosa para ser representado por José Veiga.

"Vieira vira-se para mim e diz-me: 'Tenho aqui um contrato de cinco anos para ti. Quero que renoves porque és um jogador importante para o presente e para o futuro do clube.' O contrato estava em cima da mesa, esperando apenas a minha assinatura. Nem olhei para o vencimento. Queria continuar no Benfica e cinco anos de contrato era um motivo de felicidade para mim. Aproximo-me. Pego numa caneta e, quando vou assinar o contrato, o Vieira diz: 'Espera! Espera! Assinas cinco anos, mas tens de ir para o José Veiga!' [...] 'Pensa bem porque se não fores para o Veiga, não jogas nunca mais aqui. Vais treinar à parte até ao final do teu contrato.' Mantive-me firme aos meus princípios, aos meus valores éticos e morais, e voltei a rejeitar a troca de empresário. Saí porta fora e não assinei o contrato que estava à minha espera. Aquela situação prejudicou-me? Sim e muito. Não só a nível desportivo mas principalmente em termos pessoais e familiares. O meu futuro, e por consequência o da minha família, ficou assim envolto numa nuvem de incerteza e repleto de pontos de interrogação", conta o jogador, num dos 18 capítulos do seu livro.

Afinal não foi Mourinho: a versão de Maniche sobre a camisola rasgada de Rui Jorge no Sporting-FC Porto de 2003/04
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Na mesma obra, o antigo internacional português falou da sua admiração por José Mourinho e conta como o técnico o foi buscar para o FC Porto.

"Mourinho telefonou-me e fez-me um convite: 'Estás preparado para vir para o norte do país, jogar no FC Porto e enfrentar uma nova realidade? Posso contar contigo? Eu gostava muito e, caso aceites, falarei com o presidente Pinto da Costa para validar a tua contratação.' Acho que o mister Mourinho percebeu a minha incrédula reação. Fiquei mesmo surpreendido. Estava à espera de tudo menos da chamada do José Mourinho e, por consequência, do FC Porto. Respondi logo que sim, nem pensei duas vezes [...] Sabia que o José Mourinho confiava em mim. Sabia também que o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa apreciava as minhas capacidades e virtudes pois, no meu segundo ano de Alverca, o presidente portista concedeu uma entrevista em que referiu que havia dois jogadores do Alverca que gostava de ver no FC Porto: Deco e eu", explica.

E de onde vem o nome Maniche, quando o verdadeiro nome é Ricardo de Oliveira Ribeiro? A troca aconteceu no Benfica, pelas mãos de Arnaldo Teixeira, um dos técnicos que mais marcou o médio no clube 'encarnado'.

"Arnaldo Teixeira foi muito mais do que um simples transmissor de conhecimentos, foi um lapidador, um educador, um formador, um excelente condutor de crianças. Fez-me ver que alcançar objetivos ambiciosos, mas realistas, é possível, desde que baseados num esforço constante e construtivo. [...] Quando saí dos iniciados do Benfica para os juvenis, ele, como já referi anteriormente, era o treinador dos juvenis. O cabelo louro que eu apresentava, escorrido sobre um rosto branco, muito idêntico ao de Michael Manniche, o avançado dinamarquês que jogou no Benfica nos anos 80, foi o suficiente para ele me atribuir essa alcunha. As parecenças eram evidentes, mas só a nível físico, pois tínhamos características totalmente diferentes. E, assim, o Nuno tornou-se Maniche. Uma alcunha que passou a fazer parte da minha vida, que me acompanhou dentro e fora das quatro linhas, e que me irá escoltar até ao fim dos meus dias", pode-se ler.

O livro, de 300 páginas, tem o prefácio de José Mourinho, o treinador que transformou Maniche num médio de topo. O atual técnico do Manchester United falou também da sua admiração pelas qualidades do antigo internacional português.

"Conheci um miúdo rebelde em 2000. Em 2004, era um dos melhores médios do mundo. Porquê? Simplesmente porque nunca deixou de ser rebelde, espontâneo, genuíno e a sua humildade abriu-o para o conhecimento e a interpretação do jogo [...] Em pouco tempo, transformou-se num dos melhores médios do mundo, e hoje, passados tantos anos, continuo à procura de Maniches, e a verdade é que tenho muitas dificuldades em encontrar [...] De expulso a capitão de equipa. De exemplo de mau profissional a exemplo de raça benfiquista. De extremo deslocado a comedor de bolas onde elas andam mais... no centro do campo. Ele era um médio, ele era um 8, ele era o melhor amigo do 6 e o parceiro do 10. Ele defendia como um 6 e atacava como um 10. Ele aprendeu a jogar a 6 e a jogar a 10... era um 8! Um 8 top! Jogava como treinava e treinava como jogava. O meu jogador estava a chegar, o meu jogador estava a madurar. Saí do Benfica e o destino levou-nos até ao Porto...", conta Mourinho.

'Maniche 18, as Histórias (Ainda) não Contadas', escrito em coautoria com Tiago Guadalupe e editado pela Prime Books, estará nas bancadas ainda esta semana. São 300 páginas e 18 capítulos, onde Maniche conta vários episódios caricatos e outros mais sérios da sua carreira. Uma carreira que teve, entre outros títulos, uma Liga dos Campeões, uma Liga Europa, uma Taça Intercontinental, duas Ligas portuguesas, uma Taça e uma Supertaça de Portugal, todos pelo FC Porto. Venceu ainda uma Liga Inglesa pelo Chelsea e uma Liga Italiana pelo Inter Milão.