O Benfica perdeu ontem uma oportunidade clara para marcar distâncias para o seu rival Sporting neste arranque de temporada. O dérbi de ontem abria a possibilidade de 'cavar um fosso' de cinco pontos para o clube de Alvalade em apenas três jornadas e colocar pressão sobre a candidatura dos leões ao título. O empate foi o consolo possível num jogo que dominou durante mais tempo, mas no qual até a derrota chegou a estar perto de acontecer.
Na estratégia para o primeiro dérbi da temporada, Jorge Jesus seguiu a lógica dos jogos anteriores, mexendo apenas nas peças que não tinha disponíveis e no pilar que já estava recuperado. Assim, avançaram André Almeida e Enzo Pérez para o meio-campo (Samaris ficou no banco), deixando Salvio, Gaitán e Talisca no apoio a Lima. Já na baliza, continuava a morar Artur, que adiou uma vez mais a estreia de Júlio César.
Com a equipa bem presente nos flancos, o campeão nacional fez dos corredores a sua rota de assalto à baliza de Rui Patrício. O lado direito foi o flanco privilegiado, com Salvio e Maxi Pereira a 'infernizarem' Jefferson. As investidas rapidamente abriram brechas e foi por aí que lateral e extremo fabricaram o golo de Gaitán, aos 12'. O número 10 argentino era o grande dinamizador do ataque encarnado, começando no lado esquerdo mas com liberdade para vaguear por todo o meio-campo ofensivo. A criatividade de Gaitán era, assim, o 'abre-latas' da defesa leonina.
O domínio do Benfica não era um produto exclusivo de uma superioridade incontestada, mas sim de uma certa apatia e falta de reação do Sporting. Consequentemente, nada fazia prever o golo do empate, aos 20'. Artur apagou num instante a boa imagem deixada nos últimos jogos, com várias grandes penalidades defendidas, ao mostrar uma vez mais a sua inaptidão a jogar com os pés. Chutar contra Carrillo, tropeçar sozinho e ver Slimani marcar terá sido o 'canto do cisne' para o brasileiro na baliza dos encarnados.
A partir daí, o Benfica não escondeu o peso psicológico pela forma como sofreu o golo. Receosa de nova falha do seu guardião, a equipa recuava mais e deixava de pressionar a defesa dos leões, que assim encontraram espaço para subir e ganhar ascendente. Mais: cada canto era agora um "ai Jesus" face à insegurança de Artur, que contagiava de forma negativa os colegas.
Só no segundo tempo, particularmente nos primeiros 25 minutos, é que o campeão nacional soube reagir. Enzo Pérez estendeu a sua influência e Gaitán e Salvio eram setas apontadas à baliza leonina e o golo parecia iminente a cada jogada. Realce para o crescimento de Talisca nesta partida, mostrando bons pormenores. Porém, o Benfica revelava ainda carências no ataque. Sem Rodrigo ou Cardozo a seu lado, Lima é uma presa fácil e deixa o Benfica 'curto' para voos mais altos, pelo que o empate viria a resistir até ao apito final.
Entre os destaques pela positiva nos encarnados há a realçar Eliseu e Talisca, os dois reforços com entrada direta no onze e que provaram estar já num nível interessante. O lateral português mostrou sempre grande segurança a defender e desenvoltura no ataque, enquanto o jovem médio brasileiro revela maior conhecimento das ideias da equipa. Acima destes, André Almeida, com um jogo de grande simplicidade e eficácia, Enzo Pérez, pela classe imune a rumores de fim de mercado de transferências, e, obviamente, Gaitán. O argentino é o toque de classe deste Benfica e o jogador mais difícil de substituir na equipa.
Pela negativa, Lima e Artur. O avançado brasileiro trabalhou muito, mas continua desinspirado na hora de rematar à baliza; já o guardião voltou aos seus piores momentos. Comprometeu um dérbi que estava bem encaminhado e pode ter custado dois pontos importantes neste arranque de temporada. No próximo jogo já deverá estar Júlio César na baliza. Resta saber se o mercado vai ainda ditar mais alguma mudança forçada...
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