À beira da sua despedida olímpica, após cumprir no Rio2016 a sétima presença em Jogos, João Rodrigues assume que vai começar tudo de novo após 15 de agosto, quando sair pela última vez da prancha à vela.

Engenheiro de formação, mas sem exercer há 10 anos, o velejador madeirense assumiu, em entrevista à agência Lusa, que sabe que, aos 44 anos, vai ser difícil regressar a essa área profissional, pelo que terá de dar um novo começo à sua vida, algo que, contudo, não o assusta.

“Considero que a partir do dia 15 de agosto, que é quando acabam as regatas da vela, vou começar a escrever um livro que está em branco, vou começar de novo aos 44 anos. Isso assustou-me algumas vezes, mas agora acho fascinante que possa começar de novo e que possa escrever uma linha de cada vez no resto da minha vida”, referiu.

João Rodrigues recordou o risco que “quis correr”, em 2006, quando, após um ano e meio dedicado em exclusivo à engenharia, decidiu voltar a competir, pois quis lançar-se “em algo que sabia que tinha um prazo muitíssimo limitado, que está agora a chegar ao fim”. “Estabeleci para mim mesmo que não me ia preocupar com o dia seguinte, portanto não tenho um plano B, não tenho nenhum plano para o pós-Jogos Olímpicos”, assumiu.

Voltando mais de 24 anos atrás, João Rodrigues lembrou a forma como completou o curso de engenharia no Instituto Superior Técnico, reconhecendo que “hoje já não era capaz de fazer isso”.

Quando entrou para a faculdade, um professor alertou-o que, ali, eram exigidos “100% de dedicação, portanto não havia espaço para atletas de alta competição”. “De facto eu sou bastante obediente e dediquei-me a 100% à faculdade no primeiro ano e meio e foi obviamente o período em que tive piores notas no Técnico”, recordou.

No entanto, a qualificação para Barcelona92 colocou-se no meio e obrigou a um ano sabático e a presença nos seus primeiros Jogos fez com que João Rodrigues acreditasse e quisesse estar mais vezes naquele evento, traçando uma meta ambiciosa: a qualificação para Atlanta96 e acabar o curso.

“Nos três anos seguintes a Barcelona, de certa forma, a carreira desportiva e cadeira universitária complementaram-se. Em vez de serem antagónicas e de se prejudicarem, eu descobri que a carreira desportiva me dava aquela capacidade de resiliência, de nunca desistir, de estabelecer um objetivo e de ir até final para o cumprir. Por outro lado, a carreira universitária exercitava-me um músculo que dificilmente conseguia fazer na vela, que era o meu músculo cerebral”, afirmou.

João Rodrigues assumiu que “as duas se entrosaram perfeitamente e aqueles três anos e meio até à qualificação para Atlanta foram, de facto, dos melhores anos” da sua vida.