Com apitos e a abanar bandeiras, a super-fã Kyoko Ishikawa marcou presença em todos os Jogos Olímpicos de Verão dos últimos 30 anos e o residente em Tóquio não planeia perder os jogos na sua cidade.
A mulher, de 51 anos, está ansiosa por receber o mundo em Tóquio, apesar do aumento de infeções e dos custos astronómicos terem convencido muitos japoneses que o evento não deveria acontecer este ano.
"Os Jogos Olímpicos são fantásticos", disse Ishikawa, que se tornou numa cara familiar nos recintos dos jogos com a sua roupa tradicional japonesa e a sua bandana 'hachimaki', decorada com o branco e vermelho da bandeira do seu país.
"O poder da diversidade. A energia da diversidade. Os Jogos Olímpicos são só três semana, mas nesse curto período temos uma imagem concentrada de todo o mundo", disse à Agence France-Presse.
Uma terceira vaga de infeções de COVID-19 está a provocar nervosismo no Japão, com o Primeiro-Ministro Yoshihide Suga a anunciar na segunda-feira que estava a considerar declarar o estado de emergência na área metropolitana de Tóquio.
Uma sondagem recente levada a cabo pelo canal público NHK revelou que uma maioria das pessoas no Japão opõem-se à realização dos jogos adiados de Tóquio 2020 este ano, com a maioria a mostrar-se a favor de um novo adiamento ou mesmo de um cancelamento.
Mas Ishikawa - uma empresária de sucesso com a sua própria empresa de IT, que se transforma numa fã exuberante a cada quatro anos - tem uma opinião diferente.
A sua obsessão começou com uma viagem a Barcelona, em 1992, onde conseguiu comprar um bilhete barato para a cerimónia de abertura e ficou arrebatada com a atmosfera.
No dia seguinte, encontrou-se por acaso com Naotoshi Yamada, um compatriota que foi a todos os Jogos Olímpicos desde os Jogos de Tóquio em 1964 e que a colocou 'debaixo da sua asa'.
Avô Olímpico
Juntos, Ishikawa e Yamada - conhecido no Japão como o 'Avô Olímpico', com o seu chapéu dourado que é imagem de marca - viajaram para todos os Jogos Olímpicos de Verão seguintes, chamando atenções e fazendo amigos pelo caminho.
Yamada morreu em 2019, aos 92 anos, deixando por cumprir o seu sonho de ver os Jogos Olímpicos em Tóquio pela segunda vez.
"Foi uma pena, porque Tóquio 2020 seria o fechar do ciclo que foi a sua vida como fã dos Jogos Olímpicos", disse Ishikawa, "Sem isso, não se vira a página".
"Quero dar o meu melhor para levar o seu legado e o seu espírito. Claro, eu não posso ser ele, mas vou tentar fazer o meu melhor à minha madeira. Ele passou o bastão, mas o papel é diferente".
Ishikawa diz que ficou entusiasmada quando Tóquio foi escolhida para receber os jogos, mas sabia que seria difícil conseguir bilhetes no Japão, onde a procura foi enorme ao início.
Ela e a sua família inscreveram-se para um máximo de 60 bilhetes cada no primeiro sorteio, mas sem sorte. No segundo, conseguiram um bilhete para o Wrestling.
Agora que 18 por cento dos bilhetes vendidos no Japão vão ser reembolsados depois dos compradores pedirem o dinheiro de volta, Ishikawa está confiante que conseguirá mais bilhetes. Mas ela está mais preocupada com a possibilidade do evento nem sequer acontecer.
Símbolo de esperança
No último mês a organização revelou várias contramedidas para o vírus de forma a conseguir realizar os jogos de forma segura, desde banir os gritos de apoio nos estádios até pedir aos adeptos para que façam download de aplicações de tracking para os seus telemóveis.
Ishikawa está convencida de que os jogos devem seguir em frente, mesmo que a organização tenha de reduzir o número de espectadores, ou até excluir os visitantes estrangeiros.
"Para o Sr. Yamada e para mim, o propósito de estar nos Jogos Olímpicos não era só apoiar... o propósito principal era partilhar amor, amizade e sorrisos", disse.
"O valor de acontecer sem pessoas do resto do mundo seria só de 50 por cento - ou menos - mas é melhor do que nada".
Ishikawa também planeia fazer parte do trajeto da tocha olímpica e mostra-se ansiosa por aumentar a sua coleção de memórias dos Jogos Olímpicos, que vai desde bilhetes e t-shirts até porta-chaves e programas.
Mesmo que os jogos sejam cancelados, Ishikawa está determinada em olhar para o lado positivo, dizendo que seria uma "memória icónica" da sua vida de fã dos Jogos.
Mas mostra-se confiante de que Tóquio 2020 será relembrado pelas razões certas.
"Definitivamente, vão acontecer", disse, "Vão ser um símbolo de esperança. Vai ser um sinal de que continuamos a lutar - esperança para o ser humano".
Comentários