Arnaldo Almeida não conseguiu fugir à paixão que lhe está na pele e aceitou o desafio de substituir Joaquim Ezequiel como motorista do carro vassoura da Volta a Portugal em bicicleta, uma experiência que está a ser «ótima».
Uma das figuras mais queridas da caravana, o emblemático Joaquim Ezequiel, que durante mais de uma década conduziu o carro-vassoura e fez parte do “staff” da prova rainha do ciclismo português, morreu este ano. A necessidade de encontrar um substituto levou a organização a recorrer à prata da casa, neste caso Arnaldo Almeida.
«Este ano assumi essa responsabilidade, na substituição de uma pessoa muito querida que já nos deixou, que é o senhor Joaquim Ezequiel. Como homenagem trago-o comigo no carro, impresso num slide que eu consegui obter na Net. É o meu companheiro durante a corrida», contou à agência Lusa.
No pelotão desde 1979, ora no papel de regulador, ora no de bandeira amarela, sem esquecer o de comissário do livro de ponto, entre outras coisas, herdou um legado que de dia para dia o surpreende.
«É empolgante ver a forma como as pessoas se manifestam, muito saudável, com uma alegria que eu nunca pensei que estivesse expressa nelas. De certa maneira, é muito engraçado sentir na pele a reação das pessoas à passagem do carro vassoura», assumiu.
Apesar de ter andado à pendura no veículo mais emblemático da caravana, o papel de comissário, com o sentido de responsabilidade que lhe é inerente, impedia-o de sentir e manifestar as emoções. «Isto é completamente diferente, é ótimo», garantiu.
Agora, Arnaldo Almeida está mais do que satisfeito com a experiência, embora reconheça que o trabalho é «solitário e ingrato», sobretudo quando vê ciclistas entrarem no seu carro.
«Este ano já foram dois, um do Boavista, que é o Bruno Lima, outro da equipa norte-americana. Olhar para as expressões deles a entrar para o carro vassoura cria tristeza. Daquilo que vivi de experiência, entraram, recolheram-se ao silêncio e nada mais», descreveu o comissário de 51 anos, que já conta sete ou oito Voltas a Portugal.
Para o ano, se o desafiarem, o antigo ciclista amador, que teve de desistir da carreira em 1979, depois de quatro épocas, porque não conseguia conjugar o treino e a participação nas provas com o trabalho «para juntar um pé-de-meia», voltará a ser o motorista ao serviço dos desistentes.
E a explicação é simples: «É uma paixão. Muitas vezes queremos tirar da nossa pele a experiência do ciclismo, o convívio, mas efetivamente não conseguimos, porque é uma coisa que nasce connosco a partir do momento em que entramos no ciclismo. Acho que só mesmo quando Deus nos quiser levar é que acaba».