Para a Ferrari, um símbolo do automobilismo, a comemoração do milésimo Grande Prémio da Fórmula 1 no domingo, no circuito de Mugello (Itália), não veio na melhor altura.

Tudo estava planeado para ser uma grande festa. A prova foi organizada para a ocasião e pela primeira vez no circuito toscano, não muito longe da sede de Maranello, ainda com alguns espetadores, quando até agora todas as etapas deste ano foram disputadas à porta fechadas devido ao novo coronavírus.

Mas sem pontuar na Bélgica, com dois abandonos em Monza, o saldo dos dois últimos Grandes Prémios é catastrófico. "Esperamos que o próximo, que é uma data importante com o milésimo Grande Prémio, seja um pouco melhor, mas o carro não está no nível que gostaríamos", disse o chefe da escuderia, Mattia Binotto. Toto Wolff, o chefe da Mercedes, também lamenta que a Ferrari não esteja a um nível para tornar o campeonato mais interessante.

Esta não é a primeira vez que a Ferrari passa por um momento difícil. O único fabricante a ter participado em todos os Mundiais de F1 desde 1950, não esteve presente no primeiro Grande Prémio da Grã-Bretanha. Somente na etapa seguinte, no Mónaco, Enzo Ferrari colocou os seus carros a correr.

Foram necessários dois anos (em 1952) para a Ferrari ter um piloto campeão mundial, com o italiano Alberto Ascari, e até 1961 para conquistar o título de construtores, criado em 1958. Desde então, a Ferrari ganhou 16 títulos de construtores, o último em 2008, e 15 títulos de pilotos, o mais recente com o finlandês Kimi Räikkönen em 2007.
Desde então uma seca de conquistas.

A equipa italiana não conhece nada parecido desde o início da década de 1970, antes da chegada de Luca di Montezemolo para o cargo de chefe e de Niki Lauda como piloto, ou em 1980 e 1981, com o início da era dos turboalimentadores.

RACE

Controlada pelo seu fundador Enzo Ferrari até à sua morte em 1988, a história da Ferrari também está intimamente ligada à da Fiat, que assumiu o controlo para rivalizar com a Ford no final dos anos 1960, uma história contada no recente sucesso de Hollywood, "Ford vs Ferrari".

Embora a Ferrari ainda esteja sob o controlo do grupo automobilístico italiano, ganhou independência financeira ao abrir o capital em 2015 sob a sigla "RACE". Desde então, as suas ações subiram 250% no mercado eletrónico Nasdaq dos Estados Unidos, passando de 55 a 192 dólares. Mas, desde a saída do trio mágico composto por Michael Schumacher como piloto, Jean Todt como chefe de equipa e Ross Brawn como engenheiro, que o 'cavalino' tem problemas na pista.

Nem o espanhol Fernando Alonso, que chegou com dois títulos de campeão mundial no currículo, nem o alemão Sebastian Vettel, que teve quatro, conseguiram levar novas conquistas para a Ferrari, embora tenham ficado próximos disso. Os chefes de equipa mudaram, os engenheiros também, mas os carros vermelhos começaram a ser superados no início da década pela Red Bull e depois pela Mercedes com a chegada dos motores híbridos em 2014.

O diretor do grupo Fiat, John Elkann, acredita que no futuro da equipa trará o seu mais alto nível. Numa entrevista no final de julho, ele atribuiu os fracos resultados a "fraquezas estruturais" e contratou Mattia Binotto para remediá-las. Mas este especialista, de sorriso largo, tem mostrado cada vez mais uma cara fechada nas corridas. Em Monza, ele nem quis ir à tradicional conferência de imprensa pós-corrida. A ausência dos adeptos italianos nas bancadas devido ao coronavírus salvou-o de uma vaia antológica. Mas, em Mugello, os adeptos estarão lá.