Terminada a preparação torna-se possível concluir que a Seleção Nacional tem 26 jogadores capazes de integrar o onze e dar uma excelente resposta em campo. Neste sentido, existiram processos que se foram consolidando, outros que apresentam ainda uma pequena necessidade de uma última “afinação”, mas tem-se verificado um grande compromisso por parte dos convocados. Assim, pode-se confirmar, devido à observação realizada destes três jogos, que Portugal entrará no Euro 2024 apostado em assumir os seus jogos e em deter o controlo total da posse de bola, o que será uma mudança de paradigma com os torneios anteriores.
Teste 1 - a Finlâdia
No encontro frente à Finlândia, ainda com muitas baixas e num claro início do período preparatório, Roberto Martínez deu oportunidade a vários jogadores de mostrarem a sua valia e de justificarem a sua presença. Desta forma, João Neves, Vitinha e Francisco Conceição conseguiram não só agarrar a oportunidade, como realizar excelentes exibições.
Na primeira parte, o Selecionador Nacional apostou em João Cancelo e Nuno Mendes como laterais, o que se traduziu numa tentativa de criar maiores desequilíbrios pelos corredores laterais, e criar maior equilíbrio ofensivo e defensivo no corredor central. Para isto mesmo, João Palhinha, João Neves e Vitinha foram os médios. Neste sentido, João Palhinha atuou frequentemente como recuperador imediato da posse de bola, enquanto Vitinha e João Neves controlavam o ritmo de jogo com a qualidade e velocidade por forma a criar desequilíbrios na Finlândia.
No ataque, Francisco Conceição e Rafael Leão foram os desequilibradores em ações individuais com Diogo Jota a ser o avançado-centro. Posto isto, Portugal dominou o jogo por completo, contudo pareceu sempre faltar uma maior presença ofensiva pelo corredor central.
Porém, deve ocorrer melhorias em alguns momentos de transição defensiva em que os centrais (António Silva e Rúben Dias), mas também João Palhinha, ficaram um pouco expostos quando o primeiro momento de contrapressão falhava. Além disso, e na segunda parte, verificaram-se algumas lacunas, principalmente na linha defensiva, acabando inclusivamente por ceder dois golos, algo que tem de servir de lição para os jogos que virão contra equipas de outra valia.
Teste 2 - a Croácia
No segundo teste da Seleção Nacional, o jogo contra a Croácia foram expostas algumas dificuldades que ainda não tinham sido demonstradas na “Era Martínez”. O selecionador nacional optou por começar com uma estratégia de grande ocupação do corredor central, libertando os corredores laterais maioritariamente para Diogo Dalot e Nuno Mendes. No corredor central ofensivo posicionavam-se Vitinha e Bruno Fernandes, o avançado, Gonçalo Ramos, e os dois extremos, Bernardo Silva e João Félix. Desta forma, João Palhinha, o médio mais recuado, juntava-se aos dois centrais, Rúben Dias e Gonçalo Inácio, para ser feita uma construção com uma linha de 3.
Ao longo da primeira parte, Portugal conseguiu ter o “controlo da bola” mas não o “controlo do jogo”, isto é, a equipa tinha uma posse de bola mais acentuada, mas com muito pouca fertilidade de ocasiões de golo. Desta forma, sentiu-se a falta de jogadores mais disruptivos e que conseguissem fazer a diferença a nível individual, como Rafael Leão ou Francisco Conceição, que através das suas capacidades de 1x1 e de aceleração com bola poderiam desbloquear o jogo.
Na segunda parte, e com alterações ao intervalo, Portugal conseguiu criar situações de golo, chegando inclusivamente ao empate. Contudo, com o passar do tempo, e mesmo com Rafael Leão e Pedro Neto em campo, a organização ofensiva de Portugal voltou a entrar numa apatia semelhante ao primeiro tempo.
A organização ofensiva de Portugal esteve menos inspirada do que no primeiro jogo, houve uma incapacidade anormal em criar situações de golo e de chegar a zonas de finalização com vários jogadores, apesar da primeira fase de construção continuar sólida e bem rotinada. O equilíbrio defensivo e respetiva transição defensiva continua a necessitar de trabalho e de aumento das rotinas, porque Portugal parece sempre um pouco exposto ao contra-ataque adversário.
A organização defensiva não parece ainda estar muito solidificada, apesar de existir um compromisso notável de todos os jogadores, parece existir ainda alguma falta de rotinas, o que cria instabilidade. A transição ofensiva não foi tão incisiva como normal, na primeira parte pela falta de jogadores verticais, e na segunda parte pela desinspiração dos jogadores que apresentam essas características.
Teste 3 - a República da Irlanda
No último jogo de preparação, contra a República da Irlanda, o selecionador nacional voltou por optar pelo seu sistema de 1x3x4x3, com nuances posicionais e estratégicas. A linha de 3 centrais contou com António Silva, Pepe e Gonçalo Inácio. Os laterais foram Diogo Dalot, com um comportamento muito vertical e profundo, sendo o responsável pelo corredor direito todo, chegando inclusivamente a atacar a profundidade nas costas da defesa irlandesa. Do lado esquerdo jogou João Cancelo que teve a liberdade total para ocupar os espaços livres dentro do bloco defensivo adversário. Os dois médios foram João Neves, num comportamento mais recuado e de recuperação de bola, participando muito na primeira fase de construção, tal como Bruno Fernandes, apesar deste ter ocupações de espaços mais avançados e chegando com maior facilidade à área adversária.
Na frente jogou Rafael Leão mais descaído para o corredor esquerdo, onde teve o conforto que gosta de jogar “colado” à linha lateral, visto que Cancelo tinha a liberdade e capacidade de ocupar os espaços livres libertados. Neste sentido, João Félix jogou numa posição híbrida entre médio ofensivo e falso avançado, libertando Cristiano Ronaldo como avançado mais descaído pela direita.
A organização ofensiva de Portugal ocorreu no seguimento do que têm sido os jogos anteriores. Desta forma, através do controlo da posse de bola, Diogo Costa, os 3 centrais e os dois médios, mais João Cancelo, tiveram um papel preponderante neste processo e no timing correto existia um passe que rompia a pressão adversária e encontrava João Félix ou Cristiano Ronaldo entrelinhas, ou então um passe mais longo para encontrar Diogo Dalot nas costas da defesa adversária.
Na segunda parte, e com as substituições, a equipa tornou-se mais vertical e objetiva, porque os laterais eram quem ocupavam os corredores na totalidade, Diogo Jota aproximou-se de Cristiano Ronaldo e Bruno Fernandes “fez” de João Félix. Com este comportamento, a Seleção Nacional conseguiu criar mais situações de golo, apesar dos princípios continuarem os mesmos. De ressalvar que houve uma melhoria na transição defensiva e equilíbrio ofensivo, não por causa do sistema utilizado, mas pelo número de jogadores que ficavam neste processo.
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